Começo esta análise The Gallery sem saber se devo chamá-la assim para o Google ou então crítica The Gallery. Afinal, ele é mais um filme do que um jogo, embora minha vivência tenha sido em um videogame (Xbox). Na dúvida, usei os dois termos no primeiro parágrafo pra apaziguar os nossos lordes mecânicos. E agora que os robôs estão saciados, quero falar com pessoas. E sobre pessoas. Me acompanha?

ANÁLISE THE GALLERY/CRÍTICA THE GALLERY

The Gallery é um filme narrativo. Em outras palavras, é um filme tradicional em que você pode interferir em alguns momentos pré-estabelecidos. Ele conta duas histórias, que na verdade são uma só. Elas se passam em 1981 e em 2021 na Inglaterra, dois anos que foram importantes para a história recente do Reino Unido.

Análise The Gallery, The Gallery, Filme interativo, Delfos
Escolha seu protagonista – e sua história.

A premissa é a mesma em ambas. O protagonista é um curador em uma galeria, na véspera de uma exposição muito importante. Porém, na noite que antecede o evento, uma pessoa invade a galeria com uma proposta: posso fazer um retrato seu?

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E aí? Aceita?

O que começa como um apelo à vaidade logo se torna violento. É o setup para vítima e pintor conversarem sobre a vida, o universo e tudo mais. Ou, mais especificamente, sobre política e sexualidade. Veja, os protagonistas estão envolvidos em diversas relações abusivas. Em algumas, eles são os abusados. Em outras, o abusador.

GÊNERO FLUIDO

A premissa é a mesma, mas com gêneros invertidos. Em 1981, a protagonista é mulher e o pintor é homem. Em 2021, o contrário. Você pensa que isso alteraria consideravelmente as dinâmicas, mas não. As duas histórias são extremamente parecidas, com diferenças pontuais e muitas vezes literalmente repetindo as mesmas falas e planos. Inclusive nomes e atores coadjuvantes são os mesmos em ambas.

O texto realmente quer que você simpatize com os dois pintores. E por mais que eu até concorde pessoalmente com sua causa e suas ideias políticas, síndrome de Estocolmo é algo que me incomoda, e que tenho dificuldade para engolir mesmo em uma história fictícia.

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Assim, “joguei” a primeira história (fiz antes a de 1981) como acredito que jogaria na vida real. Não fiz amizade com o pintor. Tentava escapar e insultá-lo em todas as oportunidades, apenas para ver a barra de “relacionamento” ficando cada vez mais vermelha.

PUXA, O VILÃO NÃO GOSTA MAIS DE MIM?

Quando o filme terminou, claramente senti que não assisti à história que o roteirista queria contar. Cheguei a um final frustrante, sem nenhum payoff ou conclusão e mesmo sem saber quase nada do pintor. É o tipo de história que você sente que não deveria ser contada. Que nada acrescenta.

E sim, eu entendo que as escolhas são minhas. Mas a principal parte do desafio em escrever uma história interativa é fazer com que todos os caminhos sejam satisfatórios. Senão é melhor que seja um conto linear tradicional. No caso deste, como síndrome de Estocolmo é algo que simplesmente não me desce, e este é claramente o “caminho certo”, acabei ficando com uma história capada e quase sem sentido.

CRÍTICA THE GALLERY / ANÁLISE THE GALLERY

Foi com essa sensação de coito interrompido que iniciei a história de 2021. Quando percebi que era literalmente o mesmo filme com outros atores nos papeis principais, resolvi que ia “jogar o jogo”, e fazer não as decisões que pareciam certas para mim, mas as que melhorariam minha relação com a captora.

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Achei que seria fácil. Em 1981, eu tinha plena consciência que estava escolhendo antagonizar o vilão. Daí entra aquela piada de “como é difícil agradar as mulheres”. Porque mesmo eu fazendo de tudo para deixar a pintora feliz, nossa relação também não chegou ao fim de forma satisfatória. No verde, sim, mas ela provavelmente não me amava.

Como exemplo, tem uma hora que ela fala para eu ajustar minha relação com uma pintora que tinha explorado antes. O jogo deu duas opções de conversa com a pintora: verdade ou mentira. Escolhi verdade. Não é isso que as mulheres dizem que querem? Bom, isso “vermelhou” minha relação com as duas, com direito a um comentário tipo “você é tão babaca”. Então tá. Já dizia Doc Brown que mulheres são um dos grandes mistérios do universo, algo que já me pareceu verdadeiro ao assistir a De Volta Para o Futuro pela primeira vez, ainda na infância.

HOMENS SÃO DE VÊNUS E MULHERES DE MARTE, OU TALVEZ O CONTRÁRIO

Independente de ter sido mais claro para mim como agradar o homem do que a mulher, eu tomei decisões bem diferentes em ambas as histórias. Mas as duas foram frustrantes, incompletas. Cada uma delas tem a duração de um filme, cerca de 90 minutos mesmo. Mas a história e os personagens são muito menos elaborados do que você espera de uma obra da sétima arte.

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Incomodei você, minha querida psicopata?

Isso faz com que eu conclua que The Gallery não é uma história ruim porque não deveria ser interativa. Ela é ruim mesmo, simplesmente mal escrita, sem a capacidade de fazer os pontos que deseja fazer. Claramente, este jogo/filme tem algo a dizer. Mas falha miseravelmente em fazê-lo.

ANTES DE IR, ME CONTA:

Olha só eu usando fórmulas matemáticas no título! Mas não faço ideia se usei certo. Você consegue entender aquele X 2 / 2?