De Volta Para o Futuro Parte III

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De Volta para o Futuro – O primeiro filme
De Volta para o Futuro – O Novo Box
De Volta para o Futuro Parte II
Tremendões Delorean

De todos os meus sonhos de infância, provavelmente o principal – depois que um certo E.T. caísse no quintal de minha casa e me convidasse para uma viagem pelos confins do universo – era a construção de uma máquina do tempo que me permitisse viajar para as mais variadas épocas da história.

Em minhas “aventuras” infantis, sempre me imaginava sendo perseguido por uma manada de dinossauros, desvendando o mistério de Atlântida e lutando nas cruzadas, entre milhões de outras possibilidades, incluindo obviamente uma visitinha ao Bruno do futuro com 25 anos de idade em 2006 para dar um “oi” e ver como as coisas estavam (só não sei se o Bruno criança iria gostar da sua versão adulta burocrática – um pouco diferente da imaginada).

A viagem no tempo sempre foi um grande desafio para a ciência e uma grande diversão para as crianças imaginarem como seria. Até que, por volta de 1987, assisti a um certo filme que tratava justamente desse assunto. E ia além: mostrava as conseqüências de se alterar o passado no futuro, uma idéia que eu, no auge dos meus 7 anos de idade, sequer imaginava.

Não preciso nem dizer que De Volta Para o Futuro, por justamente abordar um assunto pertinente com tanta qualidade, marcou demais a minha infância (e a de todos que passaram pelos anos 80) e ainda hoje é uma grande referência em termos de filmes de ficção científica e também foi uma das películas que despertou minha curiosidade para a história da humanidade (que hoje virou praticamente meu hobby principal) e todas as suas ramificações ou dimensões paralelas, caso você deseje alterar seu passado.

Para os hereges que ainda não conhecem os filmes, a trilogia De Volta Para o Futuro sempre é focada em dois personagens: o jovem Marty McFly (com a melhor atuação na carreira de Michael J. Fox) e o cientista, inventor da máquina do tempo, Dr. Emmett Brown (o fantástico Christopher Lloyd, que anda meio sumido) e nos traz três histórias com suas bases em épocas diferentes, mesmo que em todos os episódios os personagens viajem no tempo mais de uma vez: o primeiro exemplar nos leva de volta a 1955, época dos pais de Marty, o segundo a um possível futuro em 2015, onde temos o futuro da família McFly e o terceiro, que vou comentar aqui nesta resenha, vai ao velho-oeste de 1885, onde investigamos um pouco dos antepassados dos personagens.

Quem ainda não assistiu à série, pode se confundir com a complexidade do enredo – assistindo fica muito mais fácil de entender – mas a história em De Volta Para o Futuro III começa exatamente onde o segundo filme parou: com Marty “preso” em 1955 quando descobre que o Dr. Brown foi mandado pela tempestade de raios para a Hill Valley (a cidade onde se passa a série) de 1885, juntamente com o De Lorean (a máquina do tempo adaptada a um carro). O jovem Mc Fly pede novamente a ajuda da versão mais nova do cientista (isso já tinha acontecido no primeiro filme e se repete aqui em uma cena absolutamente hilária) para retornar ao presente (1985 na cronologia do filme) seguindo as instruções de uma carta que o velho cientista mandou diretamente da época dos cowboys através de um eficaz sistema de correios – uma das piadas presentes – que guardou a correspondência durante 70 anos.

Pouco antes da viagem de volta ao presente, no entanto, ambos descobrem que o Dr. Brown de 1885 foi assassinado covardemente pelo antepassado do vilão Biff Tannen (cuja família também aparece nos três filmes e sempre é interpretada pelo ótimo Thomas F. Wilson), o pistoleiro Buford “Cachorro Louco” Tannen. Marty resolve voltar no tempo, mais uma vez, para ajudar o amigo a evitar esse trágico destino.

Como todo filme da série, De Volta Para o Futuro III é cheio de referências e curiosidades, tanto aos outros dois exemplares como ao cinema em geral. Para começar, o nome que Marty adota ao voltar no tempo é nada menos do que o do astro Clint Eastwood, conhecido por ter estrelado vários westerns. O famoso relógio de Hill Valley, que de certa forma pode ser considerado um grande coadjuvante da série já que aparece nos três episódios sempre em momentos cruciais, fora inaugurado justamente no ano de 1885. Ah e não posso me esquecer da participação especial dos tremendões do Z.Z. Top, a famosa banda de Rock “caipira” estadunidense dos tios barbudos que alcançou um relativo sucesso nos anos 80 e comparece aqui com a ótima música Double Back. Também são eles também que embalam a festa de inauguração do relógio na praça.

Mas a cena que mais marcou De Volta Para o Futuro III e ficou guardada para sempre em minhas lembranças é o seu final (se você ainda não assistiu a série completa, pare de ler esse texto por aqui para não estragar a surpresa), depois que Marty volta para o presente e o De Lorean é destruído. Em uma jogada de gênio, o Dr. Brown reaparece com uma nova máquina do tempo: nada mais e nada menos do que uma locomotiva do século XIX adaptada. Após um curto diálogo onde o cientista confirma que se casou com a mala da Clara e agora o casal vive feliz no passado com dois filhos: Júlio e Verne (uma óbvia homenagem ao escritor Júlio Verne – ídolo da família Brown e também do diretor Robert Zemeckis). Marty pergunta para Doc: “Para onde você vai agora? Para o futuro?” e o cientista, em um dos momentos mais fantásticos da história do cinema responde: “o futuro? Não, eu já estive lá”. A locomotiva vira suas rodas, decola exatamente como o velho – futuro – carro e viaja no tempo com direito a apito de trem e tudo mais. É o final perfeito para uma das trilogias mais legais da história do cinema ao lado de, na minha opinião, Indiana Jones e o Poderoso Chefão.

Simplesmente mágico, me lembro que quando alugava o velho VHS nas locadoras, vi somente esse final umas 20 vezes e logo que comprei a caixa de DVDs e revi novamente essa cena, não consegui conter as lágrimas. É uma daquelas relações fraternais que você acaba desenvolvendo com um filme: de repente, ele perde o papel de apenas 2 horas de diversão para se transformar na base de seus sonhos.

Pontos fracos? Sim, o terceiro filme sempre foi considerado o “menos ótimo” da série e especialmente o desenvolvimento do romance entre Brown e a professora Clara Clayton é um pouco entediante. Mas esse pequeno ponto não tira seus méritos. A série De Volta Para o Futuro é obrigatória para qualquer ser humano em busca de uma boa diversão.

A título de curiosidade, De Volta Para o Futuro gerou vários jogos de videogame com o seu nome: Nintendinho, Mega Drive e Commodore 64, entre outros aparelhos mais obscuros, ganharam jogos com a marca. Infelizmente, todos sem exceção, são muito, muito ruins. O único que se salva é um que se inspirou claramente em De Volta Para o Futuro, mas sua história se passa em uma certa mansão. Sim, estou falando do mega-clássico Maniac Mansion 2: Day of The Tentacle que, em seu enredo, também mexe com viagens no tempo e alterações no passado que causam conseqüências no presente e no futuro. É o jogo que melhor captou o espírito da série e é quase tão obrigatório quanto os próprios filmes.

Afinal, delfonauta, se hoje escrevo aqui para você, um dos motivos é justamente a inspiração que a série De Volta para o Futuro me trouxe e aí quero aproveitar para estender esse sentimento para outras películas dos anos 80 (ok, o De Volta Para o Futuro III é de 1990, mas você entendeu o que eu quis dizer), como E.T.., Os Goonies, Indiana Jones, A História Sem Fim, Curtindo a Vida Adoidado, entre outros. Quando assisto a esses filmes, realizo meus sonhos de infância e viajo no tempo para uma época onde as coisas eram mais simples, nem sempre fáceis, mas cheias de uma magia que infelizmente se perderam com o tempo.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
de-volta-para-o-futuro-parte-iiiPaís: EUA<br> Ano: 1990<br> Gênero: Fantasia/Aventura/Comédia<br> Duração: 115 minutos<br> Roteiro: Bob Gale<br> Artista: Livre<br> Produtor: Steven Spielberg<br> Diretor: Robert Zemeckis<br> Distribuidor: Universal<br>