Até nem tanto tempo atrás, eu diria que minha desenvolvedora de games preferida era a Naughty Dog. Porém, a Naughty Dog parece ter ficado presa naquele live service de The Last of Us que ninguém quer e simplesmente parou de fazer jogos. A Santa Monica também lança um jogo a cada cinco ou seis anos. Enquanto isso, a Insomniac vem produzindo furiosamente. Acredito que ela é a única dev que lançou três jogos para a geração atual. E não são quaisquer jogos. Ratchet e Clank Em Outra Dimensão foi a maior exibição técnica da nova geração. Até agora. Esta é nossa análise Marvel’s Spider-Man 2.

ANÁLISE MARVEL’S SPIDER-MAN 2

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God of War moderno não tem mais chefes gigantes, então ainda bem que temos a Insomniac para nos salvar.

Marvel’s Spider-Man já era muito especial quando saiu para PS4. Afinal, em uma época em que jogos de mundo aberto se vangloriavam de mapas enormes e conteúdo interminável, tínhamos um jogo no estilo antigo. Quando mundo aberto ainda era bom. Sinto que em 2023 estamos vendo um movimento de volta nessa direção, capitaneado por este e por Assassin’s Creed Mirage. E espero que isso de fato se mostre uma tendência, pois estes jogos são muito superiores ao que mundo aberto se tornou na última década.

Homem-Aranha 2 é, antes de mais nada, uma excelente história do herói. Mas é também um mundo aberto divertido, com a melhor movimentação da categoria. E talvez seja o jogo mais técnico já lançado. Você provavelmente já viu o fast travel instantâneo, mas a Insomniac conseguiu melhorar e deixar ainda mais impressionante a tecnologia dos portais do Ratchet. Pois é, em um jogo do aracnídeo. E fez sentido.

Marvel’s Spider-Man 2 é de ficar boquiaberto o tempo todo. Pelo visual e gameplay. Pelo mundo aberto sem exagero e gostoso de explorar. Pelas atuações, combate e controle. E, claro, pelo roteiro, que conta uma história que quase todos já conhecemos, mas de forma tão absurdamente bem contada que fiquei impressionado com o quanto a Insomniac me tinha comendo em suas mãos na maior parte do tempo. Sim, não o tempo todo.

A MELHOR HISTÓRIA DO HOMEM-ARANHA DE TODOS OS TEMPOS

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O Homem-Aranha é um personagem tão popular que muita gente já sabe o que esperar de seus personagens e vilões. Por exemplo, se tiver a Gwen Stacy, a maioria de nós já sabe que ela está marcada para morrer. O mesmo pode ser dito do uniforme negro. Todos sabem que é uma criatura que leva Peter para seu lado sombrio, e que eventualmente ela pega um diabo pra cristo e se torna Venom. Então a Insomniac nem tentou esconder isso na campanha de divulgação. Talvez a surpresa que restou seja quem vai vestir o traje do Venom, o que não vou confirmar neste texto, mas já estava meio claro desde o jogo anterior.

Então vamos falar um pouco do que de fato eu posso falar. O primeiro vilão da história é Kraven. Ele fica sabendo que Nova Iorque tem uma galera com poderes e resolve ir até lá para se desafiar. Curiosamente, sua intenção não é caçar o Homem-Aranha, como nos gibis. Ele vem para matar criaturas realmente fortes. Em especial, os vilões do herói. Obviamente, Peter e Miles não podem deixar isso acontecer.

MARVEL’S SPIDER-MAN 2 E O HAROLDO OSBOURNO

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Peter tá estiloso na balada de Coney Island!

Paralelamente a isso, Harry Osborn volta “da Europa”. Ele revela para Peter e Mary Jane que estava doente, mas que seu pai e Curt Connors (o Lagarto) conseguiram curá-lo com uma roupa especial. Esta é a abertura do jogo, e não ouso elaborar além disso. Mas o principal aqui é que, sim, você já tem uma boa noção de para onde tudo está indo. Porém, a forma como a história chega lá é realmente especial.

Peter Parker é um “herói bonzinho”, o que não é um pleonasmo hoje em dia, quando quase todos são anti-heróis. Seu senso de responsabilidade para com seus queridos e com sua cidade é inspirador. Mas ainda mais inspirador é ele realmente acreditar que os vilões com quem lutou no passado podem mudar e virarem boas pessoas. E está disposto a ajudá-los a chegar lá. Miles Morales, o outro protagonista, é igualmente bonzinho. Quiçá prefiras chamá-lo de inocente. E, de fato, como qualquer história clássica de super-heróis, a versão do Homem-Aranha apresentada pela Insomniac é totalmente inocente. E justamente isso a torna tão especial. Faz a gente, que está acompanhando tudo com um controle na mão, querer ser tão do bem quanto Peter e Miles. Afinal…

SE VOCÊ AJUDA ALGUÉM, AJUDA TODO MUNDO

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E isso é só a história principal. A “grande história”, se preferir. Pois as boas sidemissions também contam boas histórias. E estas, mais até do que a apoteótica campanha, são muito mais Homem-Aranha. Na da imagem acima, por exemplo, uma moça pede a ajuda do herói para encontrar seu avô, que tem demência e desapareceu. Você segue pistas, o gameplay servindo à narrativa. Até que finalmente encontra o vovô, sentado em um banco no parque. Peter avisa a neta e diz que vai esperar com ele até ela chegar.

Daí ele simplesmente senta do lado do velhinho, e ouve a história do sujeito. Fica sabendo como ele conheceu a esposa, como a pediu em casamento, como ela morreu e, finalmente, como se sente sozinho agora que não tem mais a companhia dela. O vovô precisava de uma companhia. Todo velhinho precisa. Caramba, todo mundo precisa. E só alguém tão inspirador quanto Peter ou Miles consegue largar um pouco de suas próprias preocupações para dar essa companhia para alguém que precisa. Isso é lindo. É inspirador. E é muito mais Homem-Aranha do que a épica batalha contra o Homem-Areia gigante que abre o jogo.

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São histórias como essa que fizeram Peter Parker ser meu herói preferido. E é lindo que a Insomniac tenha talento e liberdade para colocar uma missão dessas em seu jogo AAA first party, cujo objetivo é ser chamativo o suficiente para vender Playstations. Eu penso na minha própria avó, e no tempo que não queria dedicar a ela. Enrolado com faculdade, com estágios, com conquistar alguma menina da qual hoje nem mais me lembro, simplesmente não tinha tempo para sentar com ela e conversar. Mesmo sabendo que ela precisava. Hoje me arrependo muito de não ter dedicado este tempo. Eu queria ter sido melhor na época. Quero ser melhor no futuro. E histórias como esta servem para ajudar a gente a se colocar nos eixos, quando talvez estejamos saindo deles. E o que é a vida, se não lutarmos para nos manter nos eixos, enquanto somos puxados para longe deles?

DEPOIS DA MELAÇÃO, É HORA DA AÇÃO

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Depois de falar tanto da história, e dos sentimentos que ela traz, vale falar sobre o gameplay em si. E Marvel’s Spider-Man 2 é um excelente exemplo dos benefícios em fazer uma continuação. Obviamente, tudo é bastante familiar. Se você gostou de qualquer um dos anteriores, há de gostar deste, e vice-versa.

Porém, tudo foi aprimorado. Funciona melhor, e de forma mais conveniente. Por exemplo, agora seus gadgets e suas teias usam munição separada. Isso deixa o combate muito mais técnico e variado. Mas se você só quer dar uns soquinhos e se sentir o Homem-Aranha, Deus abençoe, pois dá para jogar assim também.

ANTES DA AÇÃO, LOCOMOÇÃO

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Por incrível que pareça, a Insomniac conseguiu deixar a locomoção ainda mais rápida. Originalmente, no gibi, o amigão da vizinhança tinha asinhas de teia, que serviam para planar. Isso acabou sendo esquecido ao longo do tempo, a ponto de que nunca foi levado para os filmes. Mas veja só, foi levado para Marvel’s Spider-Man 2. A qualquer momento, você pode apertar triângulo para abrir as asas e planar. Cansou de se balançar nas teias? Aperte triângulo e aproveite o visual desta belíssima Nova Iorque.

Antes de jogar, achei que isso talvez não fosse bem-vindo. Afinal, planar é algo comum em videogames, mas só um game do Homem-Aranha nos permite balançar nas teias. Porém, a forma que foi implantado simplesmente não substitui o que já existia. Como todas as novidades colocadas nesta continuação, são ferramentas, que enriquecem a experiência, sem tornar nada obsoleto.

ATRÁS DE VOCÊ, É UMA ARANHA DE TRÊS CABEÇAS!

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O que nos leva ao terceiro pilar da jogabilidade: a furtividade. E acredito que foi o aspecto mais melhorado. Agora é possível jogar uma teia do outro lado do cenário e andar sobre ela. Isso deixa a furtividade quase quebrada, mas de um jeito muito legal. Afinal, você pode fazer nocautes a qualquer momento. Olha na imagem acima a quantidade de linhas que eu passei pela sala. Ficou muito mais fácil limpar uma base sem ser visto, e fazendo você se sentir muito mais o Homem-Aranha. Win, win. Some isso a habilidades como a do Miles de ficar invisível e… bem, temos aqui um belo playground de furtividade.

ATIVIDADES DE MUNDO ABERTO

Além das missões principais e secundárias, Marvel’s Spider-Man 2 traz também atividades de mundo aberto. Estas são minha principal picuinha com o jogo. Afinal, elas existem apenas para fazer o troféu de platina demorar mais para pingar. Nenhuma delas é especialmente boa. As melhores, como as fotografias, são, no máximo, inofensivas. Mas algumas… virge maria da compostela.

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Infelizmente, brincar de DJ não é uma dessas atividades.

Os colecionáveis e atividades vão sendo introduzidos aos poucos, depois de missões de história específicas. Isso é bom, porque não sobrecarrega de cara. Mas acaba afetando meu TOC. Afinal, sempre que uma missão de história apresenta uma nova mecânica (por exemplo, proteger uma base dos inimigos por dois minutos), pode ter certeza que isso vai virar uma atividade que vai pipocar pelo mapa inteiro. Acabou que eu fazia algo legal numa missão, mas nem conseguia curtir porque sabia que depois isso seria uma atividade que seria copiada e colada muito mais do que o necessário.

MYSTERIO, KRAVEN E VENOM

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Em especial, as atividades do Mysterio, Kraven e Venom são as coisas mais pentelhas que o jogo poderia apresentar. As do Mysterio são desafios de combate. Tipo quão rápido você consegue vencer 20 inimigos. As do Kraven são bases enormes que podem ser limpadas via stealth ou combate aberto que ficam chatas pelo quanto são repetidas. E as do Venom são as supracitadas, em que você deve proteger um coração/base dos ataques inimigos por um tempo pré-estabelecido.

Eu queria a platina de Marvel’s Spider-Man 2, e tenho TOC, então me vi obrigado a fazer tudo. Porém, quando percebi que não estava me divertindo nessas três atividades, simplesmente desliguei a possibilidade de fracasso nas lindas opções de acessibilidade, e fui fazê-las, só para tirar do mapa e ganhar meu troféu mesmo. O chato é que algumas terminam em missões de história que são bacanas, e às vezes até apresentam chefes únicos, como o Mysterio, da imagem acima. Seria legal que, pelo menos num New Game +, existisse a possibilidade de jogar de novo essas missões de história sem precisar limpar o mapa, pois várias delas valem a pena – e plantam sementes que podem ser usadas em futuras continuações (vamos falar mais sobre isso na próxima semana).

MARVEL’S SPIDER-MAN 2: O DOBRO DOS AMIGÕES DA VIZINHANÇA

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Porém, quero deixar claro: essas gordurinhas me obrigaram a tirar a nota máxima do jogo. Mas de forma alguma elas estragaram minha diversão. Como um fã do Homem-Aranha, já li muitos gibis, vi muitos filmes e desenhos do herói. E mesmo assim diria que a história que temos aqui é uma das melhores, se não a melhor, já contada.

As missões de história, em especial, seguem aquele estilo “linear”, que parecem um jogo de ação dentro de um jogo de mundo aberto, o que faz com que o timing e a direção delas seja realmente especial. E daí ainda tem o mundo aberto, onde você pode simplesmente brincar de ser Homem-Aranha, o que é sempre legal. Somando tudo isso, temos aqui o melhor jogo já feito com o amigão da vizinhança. E sem dúvida um dos melhores entre os AAA disponíveis para PS5.