Bem-vindo à nossa análise Ghosts ‘n Goblins Resurrection. O Ghosts ‘n Goblins original e especialmente sua sequência Ghouls ‘n Ghosts foram jogos que marcaram minha infância. Não por eu ter gostado muito deles. Eu lia sobre eles, via fotos e gargalhava com o fato de o cavaleiro ficar de cueca quando tomasse porrada. Eu queria muito jogá-lo. E lá no início dos anos 90, não era muito fácil ter acesso a jogos. Lembro de ir muitas vezes à locadora, na intenção de pegar a versão de Master System e ela nunca estar lá. Daí, um dia finalmente consegui. E a decepção foi grande.

BULLET HELL

Lembro de uma conversa com nosso antigo programador, o Homero de Almeida, em que ele comentou que jogos de navinha bullet hell não eram para pessoas como ele ou eu. Pois Ghosts ‘n Goblins, embora seja um plataforma 2D, também não é para meu bico. Isso é um desafio para profissionais, antes de profissionais de esports existirem.

De fato, Ghosts ‘n Goblins representa uma época dos arcades em que o objetivo não era fazer um jogo divertido, e ganhar dinheiro porque as pessoas iriam gostar dele. O modelo de negócios na época era matar o jogador o mais rápido possível, na esperança de que ele gastasse mais fichas.

E sabe de uma coisa? Para ser sincero, desde aquela época, eu não me lembro de ter conhecido alguém que gostava de jogar Ghosts ‘n Goblins. O jogo é muito famoso, é verdade. Mas não é exatamente querido por quem viveu a época. E isso nos traz à…

ANÁLISE GHOSTS ‘N GOBLINS RESURRECTION

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Você consegue desviar de tudo isso?

Ghosts ‘n Goblins Resurrection é uma sequência digna desta franquia dormente há décadas. Apesar dos lindos gráficos estilo livro ilustrado de crianças, e da música modernizada, a sensação de jogar é a mesma do arcade original. Ele é completo com idiossincrasias da época, como a inabilidade de mudar a direção do pulo, algo abandonado em jogos de plataforma ainda nos anos 80.

Os inimigos são infinitos e atacam constantemente. Em jogos menos hardcore, você normalmente pode limpar a tela antes de encarar um desafio de plataforma para pegar um item. Aqui, limpar a tela te dá menos de cinco segundos de sossego, pois logo os inimigos voltam a aparecer, e em quantidade.

ESQUEMA TOTALMENTE OLD SCHOOL

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O Arthur é controlado exatamente da mesma forma, basicamente com tiro, pulo e magia. Há vários tipos de tiro diferentes, mas nem todos são igualmente úteis. Ao pegar um tiro, você fica preso com ele até encontrar outro, o que pode tornar o jogo ainda mais difícil e frustrante.

As magias são mais modernas. Durante as fases, você pode capturar abelhinhas, que servem como skill points para desbloquear magias na árvore de habilidades. Essa é a principal novidade do jogo, que agora permite carregar várias magias ao mesmo tempo e alternar entre elas com L e R. Isso também é o que lhe dá a pegada de ser jogado várias vezes, na intenção de “completar” a árvore.

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A árvore de habilidades, ainda bem incompleta.

ANÁLISE GHOSTS ‘N GOBLINS RESURRECTION: RESSUSCITANDO

O jogo tem sete fases, das quais você precisa completar cinco para vencer. Isso porque, nas duas primeiras zonas, você pode escolher entre duas fases diferentes. Da terceira em diante, o caminho é fixo.

O jogo traz um monte de opções de dificuldade. Lembrando quão difícil ele era no passado, eu fui direto nas mais baixas. Squire promete o jogo completo na experiência mais fácil. Page, a dificuldade mais baixa, permite ressuscitar sem perder progresso, mas diz que nem todo conteúdo será visto. Para quem não viveu a época, isso era relativamente comum nos anos 80 e 90: as dificuldades mais baixas serviam como um demo, só com as primeiras fases dos jogos. E eu sempre odiei isso. Poxa, deixa eu jogar da forma que eu mais me divertir!

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Eu fui tirar uma foto heroica, mas até apertar o botão de captura, o bicho me matou.

Diante disso, eu comecei a jogar na dificuldade Squire. E a primeira fase já demonstra logo sua crueldade. Agora Arthur pode tomar várias porradas até ficar só de cueca, perdendo pedaços de sua armadura a cada ataque. E também há checkpoints no meio das fases. Ainda assim, eu devo ter demorado mais de 30 minutos até vencer a primeira. E a coisa só ficaria pior. Fui sofrendo, e querendo desistir por bastante tempo.

CHEFES ÉPICOS

Além das fases difíceis, os chefes são absurdamente frustrantes, graças àquela característica da Capcom que sempre me incomodou, de estender essas batalhas além da conta. O segundo chefe da rota de cima, por exemplo, tem três fases totalmente diferentes, as três absurdamente difíceis, e sem checkpoint entre elas. Quando venci a primeira, exclamei um “até que enfim”. Mas a luta continuou. Venci a segunda. “Até que enfim, agora foi!”. E continuou. Quando venci a terceira, depois de cerca de 60 minutos repetindo tudo cada vez que morria, perguntei “tem mais?”. Dessa vez não tinha.

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A batalha contra esse chefe deve ser mais legal de assistir do que de jogar.

Aos trancos e barrancos, fui até passar da terceira fase. Isso levou cerca de três horas, e estava sofrendo tanto que desisti sem nem entrar na quarta. Resolvi tentar o modo Page, e ver até onde ele me deixaria jogar.

VIRANDO A PÁGINA

Para minha surpresa, no modo Page tive acesso a todas as sete fases. E ao vencer a quinta, o jogo mostrou o final e tudo. Consultei nosso amigo na Capcom, que nos enviou o jogo para review, mas ele não sabia informar o que ficava de fora nessa modalidade. Claro, depois do lançamento, vai ser fácil conseguir essa informação, mas essa resenha está sendo escrita e publicada antes do lançamento.

Pelo que posso perceber, no entanto, jogar no Page simplesmente te impede de começar de novo no New Game Plus. Porém, o jogo tem seleção de fases, então embora seus upgrades fiquem limitados ao número de abelhinhas disponíveis em uma campanha, dá para jogar tudo de novo se desejar. Talvez Ghosts ‘N Goblins Resurrection faça como os jogos antigos, nos quais, para ver o final real, é necessário pegar um item escondido que só aparece na segunda campanha. Mas eu não tenho essa informação até o momento do fechamento desse texto.

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Sim, eu sou o sapo.

ÀS VEZES É BOM ARREGAR

Mudar para o modo Page foi a melhor coisa que fiz. Em cerca de noventa minutos, consegui chegar ao final da campanha. Sem precisar me preocupar em perder progresso, acabei curtindo bem mais o que o jogo fazia de bom, em especial o audiovisual e sua construção de mundo. E mesmo podendo ressuscitar do mesmo ponto em que morria, a coisa ainda assim foi extremamente desafiadora.

Em especial, há vários pontos com verticalidade, em que você deve pular de plataforma em plataforma rumo ao topo. Quando você é atingido, Arthur dá aquele tradicional pulinho para trás, estilo Ninja Gaiden, e isso te derruba. Nesses pontos verticais, é comum você cair por várias telas até encontrar um chão e poder voltar a subir. Não vou mentir, enche o saco.

ANÁLISE GHOSTS ‘N GOBLINS RESURRECTION: PACIÊNCIA E DEDICAÇÃO

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É claro que a famosa armadura dourada está de volta, mas assim como no original, você nunca consegue ficar com ela muito tempo.

A julgar por quão difícil foi a quarta fase, eu vi que eu desisti da minha campanha no Squire no ponto certo. De jeito maneira eu teria conseguido passar dela voltando vários minutos a cada nova morte. Teve vários pontos na quarta e na quinta fase que eu literalmente passei por força bruta, deixando os inimigos me atingirem e saindo correndo aproveitando os frames de invencibilidade.

Parte de mim esperava que a Capcom fizesse com Ghosts ‘n Goblins o que a Microsoft fez com o novo Battletoads. Ou seja, manter a personalidade da série, mas modernizar o jogo, eliminando – ou pelo menos diminuindo a frustração.

CONTINUAÇÃO FIEL

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Eu realmente gostei do visual.

A pegada não foi essa, no entanto. Ghosts ‘n Goblins moderniza gráficos e sons, coloca saves, seleção de fases e outras mordomias modernas. Mas ao mesmo tempo mantém o gameplay intacto. Uma pessoa que não conseguia passar da fase do jet ski no Battletoads de Nintendinho pode se divertir com o novo Battletoads. Alguém que já achava o Ghosts ‘n Goblins original difícil demais da conta, vai simplesmente abandonar Ghosts ‘n Goblins Resurrection sem nem passar da primeira fase.

Desta forma, Ghosts ‘n Goblins Resurrection é um jogo que deve agradar exclusivamente àqueles que já o curtiram nos anos 80 e 90. Eu sinceramente acho muito difícil alguém sem nenhum contato anterior com a série experimentar esse aqui, em 2021, e gostar do jogo. Para você ter uma ideia, eu joguei este em um intervalo no meio da minha campanha de Nioh Remastered e MESMO ASSIM a diferença de dificuldade foi brutal. Assim, se você tem saudades do jogo antigo, ou gostaria de conhecer uma série tão famosa, vai fundo, mas saiba bem no que está se metendo.