A Fome Animalesca de Bola

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Em janeiro de 2010, quando disseram que era “Ano da Copa”, imediatamente pensei: déjà vu à vista! Minha memória conserva o frescor dos mundiais passados, em que a Rede Globo fazia seus esforços para quitar os direitos de exibição (leia: iludir o telespectador, vendendo a imagem de uma seleção supostamente tremendona).

Pior do que as próprias tramóias dos bastidores é tolerar o titio Galvão, com a mania intragável de apelidar jogadores (Fenômeno, Fabuloso, etc) e supervalorizar uns em detrimento de outros. Combinemos: o sujeito é um mala de carteirinha!

Teve campanha na internet, a turma do Pânico na TV fez festa com o assunto, e até a revista Veja deu capa para o movimento “tuiteiro” Cala a boca, Galvão. Os detratores do narrador narigudinho (categoria na qual me incluo) gostaram da brincadeira. Há muito as pessoas criticam os cacoetes dele.

Com a seleção devidamente derrotada, a audiência despenca. Afinal, o interesse de muitos é ver o Brasil ganhar, não é? Patriotismo. Até quem não curte futebol torce pelos “canarinhos”. Até nisso somos diferentes: somos patriotas de quatro em quatro anos! São tantas bandeirinhas nos carros e bandeironas nas varandas que dá até gosto de ver.

Mas depois da derrota de dois a um para a Holanda, o verde-amarelo desapareceu das ruas. Ué, não somos mais brasileiros? Dá a entender que o Hino Nacional foi feito para tocar em estádios, e que executá-lo em outra circunstância seria uma atitude anormal. E que a nossa bandeira, tão distinta em termos de beleza e simbologia, só merece tremular enquanto a seleção avança.

Nossos eternos rivais, os argentinos, sofreram uma derrota ainda mais frustrante, perdendo de quatro a zero para a Alemanha. Os compatriotas do Dieguito esperaram pelo time azul e branco armados com foices e tochas, certo? Nops! Fizeram foi festa. Maradona é um ídolo para eles.

O tão odiado Diego Maradona, que tanto provoca a massa tupiniquim, tem personalidade. Deu exemplo no trato que dispensava aos jogadores. Sempre irreverente e relevante, nesses dias de insuportável correção política.

No domingo subsequente à derrota da seleção brasileira, o mesmo Pânico na TV que deflagrou a campanha contra Galvão Bueno, achincalhou Dunga, nosso (já) ex-técnico. Em determinado momento, duas pessoas vestidas de burro atendiam pelo nome de Dunga. Entrevistas com populares mostravam pessoas xingando o ex-técnico de nomes impublicáveis.

Acho que a diferença entre brasileiros e argentinos ficou bem claro no mundial de 2010. Sim, amigo leitor do DELFOS. Os hermanos deram uma verdadeira lição de superioridade na gente. Por mais que boçais, como os do programa Pânico tentem mostrar argentinos de maneira totalmente pejorativa e até irresponsável, somos obrigados a reconhecer a lição.

Traçando um paralelo entre o hino do Flamengo e uma cerimônia de casamento, dá para ver como funciona: um trecho do citado hino diz “vencer, vencer, vencer!”. Flamengo até morrer, mas seria na riqueza e na pobreza, na vitória e na derrota? Aqui não é assim. Nós sempre nos excedemos.

O Brasil exagera nas comemorações (vide a bebedeira e toda a farra depois dos jogos em que a seleção venceu) e nega a si mesmo no fracasso. Antes de tudo, os jogadores foram à África para COMPETIR. Mas aquela coisa que deveria ser saudável se transforma em um show de horrores.

Dizem que política, futebol e religião não se discute. Talvez isso seja um pretexto para que não tenhamos que pensar, ler ou procurar informação. Porque em se tratando de futebol, nego discute, bate boca e sai no braço. Mas talvez nem saiba quem é nosso vice-presidente.

Talvez devêssemos deixar em paz os Dungas e Galvões, e promovermos campanhas que visem um país mais civilizado e com menos alienação. Viria muito a calhar na copa de 2014!