Pro Evolution Soccer 2014

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Mais um ano se passou e mais promessas das produtoras vieram sobre as novas versões do futebol eletrônico: FifaePES.

Enquanto a Electronic Arts e seu Fifa mantêm a boaengine de dois anos atrás e concentra seus esforços na versão que sairá ano que vem para os consoles da nova geração (a versão atual sairá também, mas apenas com texturas em alta qualidade), a Konami radicalizou: concentrou suas energias na base atual em fim de vida e pegou emprestado a Fox Engine criada por Hideo Kojima & Cia. em 2011 para os novos episódios da série Metal Gear Solid, por sua vez, baseada no sistema de física Havok, da empresa irlandesa de mesmo nome.

A estratégia da Konami também foi preparar seu jogo para entrada na nova geração (a versão 2015 já está em desenvolvimento), mas antes, promover uma revolução na jogabilidade e, principalmente, na parte gráfica, mostrando que Playstation 3 e Xbox 360 ainda têm muita lenha a queimar, fora a base imensa de clientes já instalada para ambos.

Os esforços chamaram a atenção da comunidade gamer: a Electronic Arts chegou com o jogo praticamente igual ao dos últimos anos, com uma ou outra perfumaria nova, enquanto a Konami trouxe uma nova experiência para o campo. Se as mudanças funcionaram, é o que vamos ver agora, mas vale lembrar que a nova engine foi utilizada apenas nas versões de PC (aqui testada), Playstation 3 e Xbox 360.

OLHO NO LANCE

A primeira impressão, logo ao iniciar o game, é positiva: a interface dos menus está mais clean, elegante e com opções mais diretas. Por outro lado, essa idéia antiga da Konami de controlar uma seta na tela para escolher itens de menu com seu controle é HORRÍVEL; Já não funcionou em versões anteriores e estava mais do que na hora de ser revista. Lembra quando tentavam adaptar os famosos adventures de computador para consoles caseiros. Se falarmos então de uma versão para PC que não aceita a utilização conjunta entre um joystick (original do Xbox 360) e um mouse, a coisa fica ainda mais estúpida.

Outra coisa, se o visual dos menus está mais legal, por outro lado, encontrar algumas opções está um parto. Estou com o jogo há alguns dias no momento em que escrevo e até agora não encontrei a maldita função de baixar o pacote de atualização de times. É algo bobo, mas deveria ser muito intuitivo.

Falando do jogo em si e da nova engine, posso dizer com tranquilidade que foi a maior inovação em um futebol eletrônico nos últimos cinco anos. Muito mais importante, por exemplo, do que aquele sensor de colisão entre bonecos do Fifa que foi tão alardeado na versão 2012, mas na prática não fez diferença nenhuma.

A primeira coisa que você vai perceber ao entrar em uma partida é uma melhora clara na animação dos jogadores e um ritmo mais lento e cadenciado, com ótima fluidez. Quando a câmera se aproxima, a animação do rosto dos futebolistas chama a atenção com expressões muito legais de felicidade, dor, raiva e cansaço. Posso dizer, claramente, que foi um salto gráfico e tanto para a atual geração,mas é importante lembrar que estou jogando também uma versão PC, com resolução naturalmente maior do que a dos consoles. De qualquer forma, a impressão que fica é de um futebol com cara de next gen em seu comportamento, o que é ótimo e um baita ponto positivo para a produtora japonesa em relação à concorrência, pois mostra um potencial futuro absurdo para a série, forçando Fifa também a se reinventar na edição do ano que vem!

O novo PES está tão gostoso de jogar e assistir com seu ritmo mais calmo, que dá a impressão de estar em uma partida do futebol arte dos anos 50.

O jogo mais cadenciado, no entanto, cobra seu preço na resposta dos comandos. Você, praticamente, tem de reaprender a jogar PES. Os botões e as funções básicas são os mesmos, com exceção da nova função de dribles no direcional direito, bastante simples e intuitiva, mas como as partidas são mais lentas, você deve pegar o timing para não dar um carrinho fora de hora ou um passe tosco próximo à linha lateral. Aliás, com relação aos passes e chutes, eles estão menos precisos e mais realistas. Nada de lançar a a bola no automático desta vez.

PIMBA NA GORDUCHINHA!

Como de praxe nas últimas versões, a Konami conseguiu licenciamento completo da Copa Libertadores, UEFA Champions League, Liga da UEFA, Copa Sulamericana, Recopa, Primeiras Divisões Argentina e Chilena, entre outras. No caso dos times brasileiros, os principais estão todos presentes com seus uniformes e jogadores (mais ou menos atualizados, mas nada que um patch futuro não resolva). Em relação aos estádios, novamente o Morumbi e a Vila Belmiro marcam presença, mas as construções também foram refeitas no Fox Engine e estão mais ricas e bem acabadas.

Um dos destaques dados em todos os vídeos de divulgação da Konami foi em relação à torcida e como seu comportamento influenciaria a reação do jogador no gramado. Ele poderia ficar mais empolgado, por exemplo, se os fãs apoiassemcantando musiquinhas e ganharia um boost temporário.

Na prática, a torcida ganhou mesmo um cuidado especial e é bonito ver a formação de mosaicos e fogos na entrada em campo, mesmo que as faixas em português dos torcedores brasileiros digam coisas inúteis e que jamais seriam utilizadas na vida real como “É pra ganhar!” ou “Queremos gritar Gol!”. Mas o tal boost, de todas as partidas em que joguei, apareceu apenas uma vez, em uma situação muito específica na casa do adversário, então não é algo que faça tanta diferença assim.

Já o som das torcidas e das partidas, em geral, estão incríveis, com uma sensação de imersão fora do normal. Pela primeira vez na história, o comportamento das arquibancadas realmente segue o que está acontecendo nos gramados, com cantos e empolgação quando a coisa vai bem, mas vaias e indiferença quando o jogo dá aquela esfriada. Uma baita conquista de PES, que sempre perdeu de goleada neste quesito para o Fifa.

Pequenos detalhes, como o anúncio dos acréscimos no alto falante dos estádios ou as substituições de jogadores dão um toque de realismo a mais e chamam a atenção pelo capricho.

Igualmente caprichada está a narração em inglês com Jim Beglin e Jon Champion. Como peguei a versão européia, não sei se a locução de Sílvio Luiz está legal desta vez, mas posso garantir que o trabalho dos ingleses é top e não deixa saudades do lendário Jon Kabira.

Além desses, a Konami irá disponibilizar em breve através de pacotes gratuitos, narrações em espanhol da América do Sul, árabe e o nosso bom português. Cara, estou louco para baixar o pacote árabe para me divertir um pouco.

A trilha sonora dos torneios licenciados segue a cartilha oficial, com suas músicas clássicas todas presentes, enquanto o “pop” escolhido para integrar a passagem dos menus é bem fraco e pouco variável na comparação com o rival da Electronic Arts.

HAJA CORAÇÃO, AMIGO!

Mas infelizmente, como nem tudo são flores, o jogo está infestado dos mais diversos bugs e problemas de falta de cuidado em geral. Alguns inofensivos, apenas detalhes, outros mais sérios, que prejudicam bastante a jogabilidade. Vamos começar pelos inofensivos:

– A animação da torcida (me refiro apenas à parte gráfica) nos estádios não parece completa, especialmente na comemoração dos gols, quando o “loop” dos torcedores pulando deixa claro que faltou um ou outro quadro de animação para complementar o efeito;

– Quando você está goleando um time adversário, não importa a competição e ele faz um golzinho de honra, o jogador comemora como se tivesse aberto o placar na final de uma Copa do Mundo;

– A narração em inglês, no começo da partida, repete uma mesma frase inteira na sequência;

– A movimentação das redes nos gols está bem artificial;

– O detector de colisão de jogadores ainda falha bastante, especialmente quando observamos os lances no replay;

– A falta de jogos na neve ou na chuva é imperdoável. Uma comida de bola terrível da Konami;

– Como nas últimas versões, o frame rate despenca na exibição de replays e mesmo na entrada dos times em campo.

E agora os problemas mais graves que afetam diretamente a jogabilidade:

– Quando os jogadores do seu time se cansam ao longo da partida, especialmente no segundo tempo, o índice de erros bobos que eles cometem irrita horrores. São passes errados, chutes sem direção e até o goleiro fica mais estúpido, tomando gols infantis A Konami precisa calibrar urgente como o fator cansaço influencia no time. Interessante que a percepção é bastante diferente da IA, que segue a vida normal e parece até mais precisa em passes e lançamentos;

– Tentar mexer no esquema tático padrão (aquele que já veio de fábrica) do seu time de coração é um suicídio esportivo. A mecânica do jogo, claramente, não entende o novo posicionamento ou função tática. Como exemplo, jogando com o Corinthians, alterei o esquema do time para atuar em um 4-3-3, com Pato, Romarinho e Guerrero na frente, mas qual foi minha surpresa ao ver que o zagueiro Gil ficava mais na banheira (!!!) do que o ex-namorado da Barbara Berlusconi. Olhando o menu de estratégias, a posição de Gil era fixa e essas descidas ao ataque não faziam o menor sentido com o posicionamento montado por mim. Este mesmo problema se repetiu por diversas vezes, não importando o time que eu escolhesse. Volta e meia, lá estava o defensor se aventurando no ataque e não voltando para ajudar a marcação quando eu mudava para o 4-3-3;

– O árbitro erra a marcação do impedimento beneficiando a mesma linha sempre para os defensores. Pode parecer um erro idiota e até condizente com a ruindade dos apitos atuais, mas contraria as regras do futebol e chama a atenção.

PEGA QUE É SUA!

Balanceando os prós e contras, o saldo é positivo: temos um novo padrão gráfico em jogos de futebol, com muito potencial para o futuro e a possibilidade, veja bem: a POSSIBILIDADE, de que a série da Konami resgate seu passado de glórias frente à concorrência.

A nova engine é promissora, o jogo está caprichado, mas ainda peca em detalhes e bugs, alguns bobos, outros nem tanto, que provavelmente serão corrigidos com o tempo em patches e futuras versões, mas tiraram um Alfredo inteiro da nota.

Talvez PES 2014 ainda não tenha alcançado o nível de qualidade de Fifa e este ano perca a disputa por um nariz, mas o gigante acordou e está furioso! Te cuida, Eletronic Arts!

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REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
pro-evolution-soccer-2014Ano: 2013<br> Gênero: Futebol<br> Plataforma: Playstation 3, Xbox 360, PSP, Nintendo 3DS, Playstation 2 e PC<br> Fabricante: Konami<br> Versao: PC<br> Distribuidor: Konami<br>