Manowar – Kings of Metal MMXIV

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Se você é um delfonauta que acompanha meus textos, provavelmente sabe que eu sou um imenso fã de Manowar. Sim, é uma banda ridícula formada por cinquentões bombados que se comportam como se fossem rebeldes sem causa de 16 anos. Homens que fazem músicas pomposas exaltando o quanto eles são guerreiros pintudos abençoados por Odin, quando na verdade não passam de garotões criados a leite-com-pera que compravam gibis do Conan com a mesada que o papai dava. E é por isso que é uma banda tão legal.

E embora eu seja um grande fã da banda, isso não significa que eu seja obrigado a engolir tudo o que eles lançam. Como eu já afirmei antes, considero a regravação do primeiro disco da banda, Battle Hymns MMXI, uma das maiores abominações sonoras que eu já ouvi na vida. Sério, o treco é tão horrendo que eu até hoje tenho pesadelos com ele.

Não acredita em mim, delfonauta? Então compare aí a embaixo a canção Battle Hymns em sua pintudissíma versão remasterizada, lançada em 2001, e sua versão regravada.

Três anos depois, os auto-proclamados reis do metal resolvem regravar outro de seus discos, desta vez comemorando os 25 anos de seu clássico álbum Kings of Metal, lançado em 1988. Embora eu estivesse receoso, me senti obrigado a encomendar o disco na Argentina e analisá-lo, afinal, um destemido seguidor dos reis do metal não teme nada… com exceção de falar com mulheres.

VOVÔ, CONTE-ME UMA HISTÓRIA!

Quando eu olhei o tracklist do disco, eu tive uma grata surpresa ao constatar que a faixa Pleasure Slave, que é uma das piores músicas já concebidas na história do metal, não está presente nesta regravação! E isto é um fato memorável, pois talvez seja o único momento de bom senso da história da banda (e provavelmente da vida de seus integrantes).

Ainda sobre o tracklist, uma coisa que eu achei bem estranha é que quase todas as faixas, além de estarem em uma ordem diferente, tiveram uma preposição adicionada ou alterada ao seu título original. Heart of Steel se tornou The Heart of Steel MMXIV, Kingdom Come se tornou Thy Kingdom Come MMXVI e assim por diante.

Porque raios fizeram isso eu não faço ideia, afinal, já tem um imenso MMXIV no final indicando que esta é outra versão. “Tá, mas o disco é bom?”, pergunta o delfonauta mais impaciente com cara de mau. E a resposta é sim e não.

Ao contrário dos malabarismos feitos em Battle Hymns MMXI, aqui a banda foi mais fiel ao material original. Basicamente, as principais mudanças consistem em uma pequena alteração na letra e a adição de um bom riff fritado aqui e ali ou um grito onde não havia antes.

As duas faixas que mais gostei foram Thy Crown and Thy Ring MMXIV (Orchestral Version), que ficou muito mais épica que a versão original, e The Heart of Steel MMXIV, que agora tem uma belíssima introdução acústica, muito melhor que aquele maldito tecladinho de churrascaria presente na versão original.

Por outro lado, A Warrior’s Prayer MMXIV é simplesmente terrível. A voz do garotinho mais parece um adulto forçando uma imitação de criança. Já a voz do vovô, interpretado pelo ator britânico Brian Blessed, é muito forçada. Digo, mais forçada do que a versão original. Inclusive, quando ele profere a melodramática frase “They were the kings… of… metaaaaaal!” me faz imaginar que o sujeito está se aliviando de um chamado da natureza segurado por umas duas horas.

Mas o maior problema do disco não está em sua composição, mas sim em sua execução. A agressividade adolescente se foi. Aquela energia contagiante que fazia você gritar algo estúpido como “we like it hard, we like it fast” sem a menor preocupação se isto é homoerótico ou não simplesmente não existe. A música ainda é pesada, mas se antes o Manowar era um caminhão de 100 toneladas correndo a 300 km/h, agora eles soam como um caminhão de 10 toneladas a 100 km/h.

Mesmo com a tecnologia de hoje, todos os instrumentos estão muito mais baixos do que no álbum de 1988 e a voz de Eric Adams às vezes parece ter sido colocada por cima das faixas instrumentais sem o menor polimento.

Por falar em Eric, o gogó do cara ainda continua potente, mas sua voz apresenta um cansaço quase palpável. O que, convenhamos, já é de se esperar de alguém que irá fazer 60 anos em alguns meses. Apesar de ser um imenso fã do cara, eu não me importaria se ele anunciasse uma aposentadoria em no máximo um ano. Aliás, acho que eu até gostaria disso.

Enfim, Kings of Metal MMXIV até é um disco legal se analisado isoladamente, mas quando comparado com a obra original, ele parece um fantasma muito, muito fraco. Não é algo essencial, ou mesmo necessário, para os fãs da banda, mas também não é ofensivo como o Battle Hymns MMXI.

CURIOSIDADES:

– A versão física do disco vem com um CD bônus que contém todas as faixas do disco em versão instrumental. Esta é uma prática cada vez mais comum entre as bandas de metal, mas eu particularmente acho estes discos maçantes. E você?

– Segundo a Encyclopedia Metallum, o nome verdadeiro do Eric Adams é Louis Marullo. Seu nome artístico é uma homenagem aos seus dois pimpolhos, chamados de Eric e Adam.

– Em 2001, o Manowar remasterizou totalmente os seus três primeiros discos e os relançou em uma nova edição, chamada Silver Edition. O Battle Hymns não ficou tão diferente assim do original, mas o Hail England ficou muito mais legal e o Into Glory Ride se transformou de um disco horrível para um disco prazeroso de se ouvir. Eu só não sei porque o Manowar não continua o projeto e lança um Sign of the Hammer – Silver Edition ao invés de ficar fazendo regravações fracas.

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