Entrevista Exclusiva com o Torquemada

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Mais uma vez nosso arqui-inimigo dá as caras. Dessa vez concordou em nos conceder uma entrevista, via telefone, para esclarecermos alguns de seus pontos de vista controversos. Tentamos abrir espaço para perguntas formuladas pelos leitores, mas a resposta para isso vocês podem conferir aí embaixo. Quem sabe depois conseguimos convencer ele a encarar o desafio? Se houver interesse do público em fazer perguntas para o cara, manifestem esse desejo nos comentários e faremos de tudo para atendê-los.

DELFOS: Primeiramente diga-nos porque adotar um pseudônimo homenageando um inquisidor. Não acha que vivemos tempos de liberdade de expressão e que tal postura é contrária ao momento atual?

Torquemada: Liberdade de expressão não pode ser confundida com libertinagem, jogatina e demais vícios. O mundo nunca precisou tanto de um inquisidor como nos dias de hoje. Se no passado meu homenageado cuidou para que aberrações fossem contidas, hoje faço o mesmo e por isso uso este pseudônimo.

DELFOS: Mas o senhor não acredita que a Inquisição foi um procedimento equivocado e que mais prejudi…

Torquemada: (interrompendo) Leia os livros de História.

DELFOS: O senhor defende a democracia, o diálogo e os regimes comunistas. Não existe uma contradição com os procedimentos adotados pela Inquisição?

Torquemada: Não fui claro em minha resposta anterior? Leia os livros de História. Pela sua pergunta, percebo que você perdeu mais tempo com a jogatina eletrônica do que prestando atenção no que lhe diziam na escola. As tranqueiras eletrônicas, a indústria do entretenimento e demais excrescências do capitalismo só podem nos conduzir à degradação.

DELFOS: O senhor se recusou a responder perguntas dos leitores. Devemos deixar claro que tentamos que nosso entrevistado recebesse perguntas dos freqüentadores do site, mas essa foi uma condição imposta: nada de perguntas de leitores. Pode nos dizer o motivo para isso?

Torquemada: Seus leitores são previsíveis demais. Teria que ficar respondendo sobre Rock Pauleira, jogos eletrônicos, cinema e tudo aquilo sobre o que não conseguem fazer uma reflexão minimamente séria para perceberem quão grandioso é o engodo que perpetuam. Sem falar que iam tentar desvirtuar minhas declarações na tentativa vã de provar que eu sou apenas uma invenção dos delfianos.

DELFOS: Pelos comentários dos leitores sobre seus textos, fica claro que muitos deles não o levam a sério, acreditam que se trata de mais uma brincadeira do site.

Torquemada: Diante da verdade não se pode esperar outra coisa. A maioria das pessoas recorre ao escapismo preferindo acreditar que aquilo que as atormenta não faz parte do mundo real. É mais ou menos como acontece nos filminhos de faz de conta que vocês tanto adoram por aí. Pensam assim: o que estou lendo/ouvindo só pode ser criação de uma entidade fantasiosa. Ademais, não posso deixar de desconfiar de que manifestações de apoio às minhas idéias foram arbitrariamente censuradas, como é hábito do ditador que paga suas contas. Se bem que, de certa forma forma, sou mesmo uma criação deste sítio satanista. Para cada ação, há uma reação oposta. O DELFOS veio defendendo a libertinagem e atitudes moralmente condenáveis e, por isso, surgiu o Torquemada para trazer as pessoas de volta para o caminho da moral e dos bons costumes. É como nas historinhas fantasiosas que vocês leem. Ao surgir um vilão, surge também um herói capaz de derrotá-lo! E esse herói sou eu! Excelsior!

DELFOS: Ano passado, você tentou boicotar o primeiro encontro entre delfianos e delfonautas. Isso deu algum resultado?

Torquemada: (empolgado) Sim! Muitos delfonautas encontraram o caminho da luz e se juntaram a mim assistindo ao virtuoso show dos Backyardigans. Como havia previsto, mais pessoas se encontraram comigo no Credicard Hall do que com os ditadores satanistas que fazem este sítio.

DELFOS: Pouco depois, ficamos sabendo que você atacou e tentou matar um dos membros do site, o que o impediu de ir ao Encontro Delfiano. O que você tem a dizer sobre isso?

Torquemada: (seco) Sem comentários!

DELFOS: Não é uma contradição que alguém que defende os bons costumes cometa atos de assassinato e de tortura?

Torquemada: (visivelmente irritado) O terrorista de uns é o herói dos outros. No caso, eu sou o herói e, como tal, tenho direito de vencer os vilões da forma que achar melhor.

DELFOS: Você também tentou tirar o site do ar numerosas vezes apagando o banco de dados

Torquemada: (empolgado e gritando) Sim! Glória a Marx!

DELFOS: Porém, isso não chegou a tirar o site do ar mais do que umas poucas horas por vez, e pouquíssimo conteúdo foi perdido com cada um dos ataques. Recentemente, os delfianos descobriram como seu ataque era feito e o resolveram definitivamente. O que você tem a dizer sobre essa humilhante derrota?

Torquemada: Cada derrota é uma pequena vitória. E tenho certeza que ganharei a guerra. Pode ter certeza que novos ataques vêm aí! O bem sempre vence, como seus gibis já provaram inúmeras vezes! Glória a Kim Jong-il!

DELFOS: Seus textos costumam atacar o Heavy Metal, o cinema e os jogos eletrônicos, além do próprio DELFOS. O senhor não acha que há outros problemas mais graves dignos de análise? Por exemplo: a condução da política nacional, a pobreza de grande parte da nossa população, a falta de empregos e a conseqüente desestruturação familiar?

Torquemada: Essa é uma pergunta digna de quem entra em contradição com seus próprios argumentos. Se você ler os meus textos, e pela sua pergunta, me parece que não o fez, verá que exatamente o que defendo é a adoção de um regime político e econômico mais igualitário, mais justo. Por isso defendo os guerrilheiros, os grandes líderes e pensadores comunistas como Mao Tse Tung, Stalin e Karl Marx.

DELFOS: Todos nós aqui lemos os seus textos. Mas o senhor não acha que há um despropósito em culpar manifestações artísticas como o Heavy Metal e o Rock…

Torquemada: (interrompendo mais uma vez) Chamar aquele amontoado de barulho de manifestação artística é que é um despropósito. Não quero ficar me repetindo, mas parece que vocês gostam de insistir nisso, como se sua vida girasse em torno do Rock Pauleira. Não há qualquer contribuição saudável naquilo para os jovens. Cantar sobre rituais pagãos, dragões, sexo e ocultismo só levará nossos jovens a acreditarem que pessoas como eu, defensores da resolução de nossos problemas reais, são conservadoras e retrógradas.

DELFOS: Tá ficando difícil. O senhor não acredita que…

Torquemada: (interrompendo novamente) Veja como a intolerância se apodera de você. È só uma entrevista e após meia dúzia de perguntas já começa a se irritar.

DELFOS: Ninguém está se irritando. É que parece esdrúxulo demais alguém defender e tentar tirar forçosamente do ar um site de entretenimento enquanto nossos problemas reais continuam se multiplicando pelas ruas.

Torquemada: É exatamente isso. Nas ruas o que se vê é a multiplicação dos nossos problemas. Veja o que acontece nas lan houses. São versões modernas dos antigos cassinos. Com a diferença que o público é consideravelmente mais jovem e não existe idade mínima para adentrar estes recintos de Satanás. Nada de aulas de física e química. O que se vê é a preferência pelo homicídio eletrônico. Intermináveis partidas contra oponentes que sequer conhecem. E do homicídio eletrônico para o real é um passo bem pequeno. É só descobrirem o botão de pausa.

DELFOS: Mas o senhor não acha que o problema aí está na escola, que não é tão atrativa quanto os jogos que tanto combate?

Torquemada: Claro, entendi aonde quer chegar. Esperam que nossos combalidos e famintos professores executem espetáculos pirotécnicos ou de striptease em suas salas para tornarem-nas interessantes. Desculpe-me, mas considero essa proposta uma afronta.

DELFOS: O senhor está distorcendo nossas palavras, como sempre faz. Acreditamos que o sistema de ensino está falido, que não há empregos, que a corrupção é a regra no Brasil.

Torquemada: Claro, você está absolutamente correto. Se pensa assim, qual a finalidade de viver no mundo de faz de conta do cinema e das canções com temas fantasiosos e satânicos?

DELFOS: Aqui nós defendemos a idéia de que não há nada de errado com a diversão. Não há nada de errado em se gritar bem alto Hell, Yeah!

Torquemada: Também não há nada de errado em atropelar velhinhas, grávidas, velhinhas grávidas e cantar sobre Sabás Negros?

DELFOS: Se for como uma forma de diversão, dentro de seus respectivos lares e como parte de um jogo que se encerra quando apertamos o off, não.

Torquemada: Homicidas.

DELFOS: Moralista.

Torquemada: Idiotas.

DELFOS: Idiota é você.

Torquemada: (vários segundos de silêncio)

DELFOS: Vai ouvir Pagode!

Torquemada: Pelo menos Pagode tem mais musicalidade e atratividade técnica do que o Rock Pauleira, além de não incitar ao machismo, à violência e à homossexualidade.

Nesse momento, decidimos interromper a ligação como uma forma de respeito aos nossos leitores. Como todos sabem, temos por princípio a abertura a críticas e ideias que não são exatamente como as nossas, mas o Torquemada é um caso à parte. Deixe sua opinião aí embaixo.