Delfos Debate: A inutilidade das universidades

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Saudações, caríssimos. O momento é de incomensurável alegria. Como é do conhecimento de todos, o Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 17 de junho pelo fim da necessidade de diploma para o exercício da profissão de jornalista. Mais uma decisão de altíssimo teor democrático, como habitualmente são as ações de nossas ilibadas instituições judiciárias.

Acompanhamos os desdobramentos dessa decisão com grande preocupação, pois, não raro, vemos manifestações de associações de classes e estudantes direcionarem efusivas opiniões contrárias a tal decisão. Muitos falam em rasgar diplomas, outros os comparam a rolos de papel higiênico. Quanto despropósito. Como sempre, manifestações de opiniões descambam para a baderna, para demonstração de intolerância e de ideais cujo fim último é dar continuidade aos processos de exclusão social das massas empobrecidas desse Brasil. Antes que me apedrejem, como não raro o fazem neste espaço, permitam-me externar meus razoáveis argumentos.

Vejamos as palavras de nosso sapientíssimo presidente do STF, Gilmar Mendes: “é fácil perceber que formação específica em curso não é meio idôneo suficiente para evitar eventuais riscos à coletividade ou danos a terceiros”. Estas sábias palavras nos permitem pensar quantos erros não foram cometidos por pessoas com diplomas universitários.

Pacientes têm seus membros amputados equivocadamente em procedimentos cirúrgicos. Prédios desabam em função de erros de cálculos em suas construções. Nossos alunos saem analfabetos das escolas após anos e anos de assídua freqüência. O que há de comum em todas essas situações? Todas são conduzidas por diplomados. Vejam, senhores, nesses casos o diploma não foi suficiente garantia para impedir trapalhadas dignas dos mais rasteiros programas humorísticos. Quanto dano causaram a pacientes indefesos? Quanto dano causaram ao futuro de nosso país? O diploma não pode ser a versão real dos escudos mágicos existentes na literatura, por mais que a hegemonia nerd torça para isso. Não, senhores, um diploma não é o equivalente a um +42 em competência profissional. Os diplomas castram as habilidades daqueles que, impedidos pelas agruras de nosso país, são impedidos de adentrar os majestosos recintos universitários.

Mil vivas à decisão do STF. Registrar, analisar e divulgar fatos não deve ser privilégio de alguns poucos com dinheiro suficiente para arcar com os custos da faculdade. Em tempos de plena democratização da informação, não podemos permitir que a uns poucos seja concedido o privilégio de oligopolizar a construção da opinião pública.

Por oito votos a um, nossos magistrados supremos emitiram o julgamento final. Percebam que a acintosa e massacrante diferença no resultado da votação só externa ainda mais aquilo que todos nós já sabíamos. Esse é somente mais um demonstrativo de que regulamentar é tolher talentos. Talvez mais importante do que essa decisão seja aquilo que ela abre como possibilidade: questionar a regulamentação em outras áreas.

Pergunto-lhes, senhores, quantas pessoas não há por aí capazes de fazer muito bem sucedidas intervenções cirúrgicas a partir do conhecimento que adquiriram via internet? É justo impedi-las de se expressar desta forma, se elas se julgam capacitadas? Quantas pessoas não são capazes de projetar sólidas construções a partir do manuseio correto de avançadíssimos softwares, sem que para isso tenham que arcar com os elevadíssimos custos das instutições de ensino superior. Quantas esforçadíssimas senhoras não seriam capazes de alfabetizar eficazmente nossas crianças, sem que para isso tenham que lançar mão de duvidosos métodos educacionais regulamentados por um órgão irregular com nome de fast food?

O momento é de regozijo pleno, senhores. Quais de nós não sabe que o ambiente universitário é propenso ao desvirtuamento das mentes, que conduz invariavelmente a festas desregradas onde se dá vazão a toda sorte de experimentalismos físicos e químicos; se é que entenderam minha hermética linguagem metafórica neste momento. Como podemos esperar que desses ambientes brotem mentes capazes de propagar conhecimento em nossa sociedade?

Sabemos todos que o ambiente universitário é inflamador da intolerância. Quantos de nós já não presenciamos nos noticiários nossos jovens em desordeiros confrontos com destacamentos policiais? Como podemos atribuir a esses instáveis jovens a atribuição de conduzir nossa sociedade em momentos tão delicados como, por exemplo, naqueles nos quais precisamos de isenção, equilíbrio e visão democrática a respeito dos fatos.

Derrubemos os muros da universidade. Quiçá essa decisão histórica torne-se o marco inicial de uma verdadeira e democrática revolução. Deixemos o conhecimento autodidata externar nossos grandes talentos. Não podemos ficar expostos ao seletivo gargalo financeiro que dá acesso aos nossos bancos universitários. Só os privilegiados economicamente é que podem exercer, ou desvirtuar, determinadas profissões?

Necessitamos de grandes jornalistas, e já temos excelentes que sequer foram à universidade. Necessitamos de grandes cirurgiões. Necessitamos de grandes engenheiros, de destemidos professores e valentes juristas. Nunca tivemos em toda a nossa história tanto conhecimento disponível quanto agora nos disponibiliza a internet. Por que não permitir que, a partir do acesso a tanta informação, pessoas não possam dar vazão ao seu talento e exercer eficazmente diversas profissões? Senhores, o primeiro e certeiro golpe já foi dado. As estruturas foram seriamente abaladas. Preparemos o próximo golpe.

Ilustrando esta matéria, temos a gloriosa imagem de nosso ilustre presidente. Não existe nada maior do que este senhor e suas inúmeras e triunfantes realizações para provar a inutilidade da universidade.

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