Dead Rising é um jogo muito especial. Quando publiquei minha resenha lá em 2007, acho que não percebia isso. Mas hoje, com mais estofo e repertório, percebo quão diferente ele era. Isso não muda o fato de que era um jogo extremamente hostil contra o jogador. Coisas como ter um único save deixavam a experiência mais punitiva do que gostosa. Agora, com Dead Rising Deluxe Remaster, ele finalmente pode brilhar, pois além de todo o trabalho em cima do que já tínhamos, a Capcom se esforçou em aumentar a acessibilidade. Jogar Dead Rising versão 2024 é, finalmente, gostoso.

DEAD RISING DELUXE REMASTER OU DEAD RISING REMAKE?

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Tudo indicava que este era um remake de Dead Rising, mas mesmo assim a Capcom optou por colocar remaster no título. Depois de jogar, eu tenho uma resposta. O visual foi retrabalhado, muito provavelmente redesenhado. Mas isso foi feito em cima do jogo original. Mantiveram-se animações e todo o game design. Probleminhas gráficos, como o clipping de roupas que atravessam membros, não foram corrigidos.

Assim, ao contrário de Resident Evil 2 Remake, Dead Rising Deluxe Remaster ainda é o mesmo jogo. É a melhor forma de jogá-lo, e para todos os efeitos substitui o original e remaster anterior. Mas ainda é o Dead Rising de 2006, com um retrabalho visual que o torna mais moderno – porém ainda datado. Os gráficos do jogo sempre foram artisticamente muito legais, e são ótimos aqui, mas definitivamente não estão no nível técnico de lançamentos recentes da Capcom.

MUITO MAIS QUALIDADE DE VIDA

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Embora eu tenha o Dead Rising Pacote Triplo, nunca senti vontade de jogá-lo, especialmente por quão punitivos eram os jogos originais. E este provavelmente é o principal benefício de Dead Rising Deluxe Remaster. Você tem um monte de slots de save, e o jogo autossalva sempre que você muda de tela, o que quem jogou sabe que é bem frequente. Eu sinceramente não sei como conseguia passar da “prorrogação” sem isso. Inclusive me lembrava de a prorrogação ser bem tranquilo em comparação com o resto do jogo, então ou a dificuldade ficou bem mais alta aqui ou eu esqueci como se joga videogame.

O importanto é que com estes benefícios você não fica obcecado com salvar o jogo manualmente e, quando salva, não precisa se preocupar se seu save vai quebrar o jogo. Ou seja, se vai salvar num ponto em que não haja tempo para cumprir o próximo objetivo. Basicamente, o que eu fazia era criar um save no começo de cada caso. Daí, durante o caso, salvava em outros slots, para garantir que sempre pudesse restaurar para um ponto com tempo suficiente.

A PSICOPATIA DOS PSICOPATAS

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Lembra das dicas na minha resenha? Este é um psicopata opcional que você precisa matar.

As lutas contra psicopatas, os famosos chefes de Dead Rising, também ficaram bem mais sossegadas se você sabe que terá um autosave antes da luta caso você morra. Isso é bom, porque o combate ainda é bem fraco, beirando o aleatório. O foco é mesmo na movimentação e na história.

Basicamente, Dead Rising Deluxe Remaster altera tudo de ruim que poderia ser alterado sem modificar ou quebrar o game design. Assim, o tempo apertado e o monte de missões continuam, mas hoje vejo como isso era intrínseco à experiência. Basicamente, você está num shopping cheio de zumbis e o jogo dura 72 horas (em tempo da vida real, é bem menos, claro). Você pode usar este tempo para morgar e explorar, para salvar sobreviventes, para ver a história ou uma combinação de tudo isso.

MUITOS ZUMBIS, TÃO POUCO TEMPO

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Lembro de, lá na época de outrora, ter seguido um guia que mostrava uma rota na qual era possível fazer tudo com tempo de sobra. Mas sem o guia é praticamente impossível. Nesta minha experiência com Dead Rising Deluxe Remaster até consegui ser bem produtivo. Cumpri todas as missões que encontrei ou que entraram no meu log, com exceção de um casal cujo cara se mata e eu não sabia como fazer a mulher me seguir.

Mas eu que não é tudo, pois existe uma conquista para salvar mais de 50 sobreviventes, e eu salvei apenas 41. Tem muita gente que você encontra aleatoriamente, simplesmente explorando e estando no lugar certo na hora certa. Minha memória me diz que tirando as cutscenes, os diálogos com os sobreviventes não eram falados, apenas escritos. Não tenho certeza absoluta disso – memória às vezes nos engana – mas agora absolutamente todo diálogo é falado. O curioso é que não parece que os atores mudaram, é como se essas falas estivessem guardadas desde aquela época esperando serem usadas.

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É impossível não se estressar quando você precisa pegar ou interagir com algo e a cena está assim.

Uma coisa que poderia ter sido mexida e não foi, é a mecânica de interação com objetos e personagens. É comum ter um monte de gente grudada, perto de itens que você quer pegar, e você acabar interagindo errado por falta de precisão dos controles. É frustrante dar sua arma preferida para um sobrevivente e ele se recusar a devolver a não ser que você dê outra arma para ele.

HISTÓRIA SENSACIONAL

Uma coisa que não mudou e que quero destacar aqui é como a história é boa. É verdade que o design do shopping é um tanto parecido demais com o de Despertar dos Mortos. Dito isso, esta é provavelmente a melhor e mais roots história de zumbis que não foi contada pelo George A. Romero. Tudo do gênero está aqui. Por exemplo, críticas sociais e uma enorme dose de veneno contra o consumismo e o capitalismo. Isso é sempre curioso vindo de uma multinacional que está relançando o mesmo jogo pela terceira vez.

Inclusive, acredito que esta é uma das histórias mais incisivas contra os EUA e suas atitudes imperialistas contada por não estadunidenses. Normalmente, pessoas de outros países não são tão críticas aos países dos outros, em especial em obras de massa, como esta. Mas é meio impossível jogar a história de Dead Rising sem ficar com raiva dos EUA.

TODO MUNDO PREOCUPADO E O FRANK VESTIDO DE MEGA MAN

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Todo mundo super preocupado, e o Frank vestido de Mega Man.

E daí tem o humor. Dead Rising não é uma história de terror, e tem muito de comédia já no roteiro. Mas muito do humor é criado pelo jogador. Lembro de um comentário feito na minha resenha do primeiro jogo lá no antigo DELFOS, que dizia “todo mundo super preocupado e o Frank vestido de Mega Man” (se foi você que falou isso, se manifeste para um high five telepático). Isso obviamente ainda é uma possibilidade e continua tão engraçado quanto sempre foi.

Os psicopatas em geral não fazem parte da história principal e são pequenos contos à parte, mas são também muito bem criados e escritos. Embora eles sejam limitados a uma cutscene introdutória e uma quando você os vence, são bem mais interessantes como personagens que criticam a sociedade contemporânea do que mecanicamente como chefes de videogame.

DEAD RISING DELUXE REMASTER DELUXE EDITION

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Roupas vendidas à parte.

A versão que a Capcom mandou para review é a Dead Rising Deluxe Remaster Deluxe Edition (sim, o nome é este mesmo), que inclui algumas roupas extras baseadas em personagens da Capcom. Estas são roupas que se encaixam na piada do Mega Man ali de cima. É intencionalmente zoado você se vestir de Ken ou de Nemesis, mas esta é a piada. Mas não é como se faltassem roupas engraçadinhas espalhadas pelo shopping.

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Não é como se faltassem roupas engraçadinhas espalhadas pelo shopping.

Outro acréscimo nessa edição Deluxe é uma enorme quantidade de músicas que podem ser ativadas para tocar no lugar da música padrão do shopping. Basicamente, escolher uma significa que ela toca quase o tempo todo. Seria interessante que você pudesse fazer uma playlist ou ativar todas para tocar aleatoriamente ao invés de ter que escolher pelo menu qual música ouvir. Mas no momento apenas isso é possível.

A MELHOR FORMA DE JOGAR DEAD RISING EM 2024

Uma coisa que vale dizer é que também há uma opção de controles mais modernos, que deixa bem melhor atirar, por exemplo. Para os puristas, ainda dá para jogar com os controles originais, mas esta para mim é uma enorme e muito bem-vinda melhoria de qualidade de vida.

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Por tudo isso, Dead Rising Deluxe Remaster é a melhor forma de jogar Dead Rising em 2024. Sim, ele está entre o remaster e o remake, mas serve como um excelente exemplo de como é possível modernizar e melhorar um jogo sem refazê-lo totalmente. É um ideal de ouro para remasters futuros, realmente um remaster luxuoso, no qual claramente foi colocado muito trabalho e cuidado.

Aproveite e leia abaixo nossos textos e dicas sobre a série Dead Rising. As dicas que dei para o primeiro jogo ainda funcionam em Dead Rising Deluxe Remaster. Curiosamente, cada um dos textos foi escrito por um delfiano. Eu escrevi o primeiro, o Rodrigo Pscheidt escreveu o segundo, e o Daniel Villela resenhou o primeiro remaster. Se você gostou deste material, já sabe: nossa campanha do Apoia.se está ativa e doida para receber seu apoio.

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