O Rodrigo e o Rock

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Para celebrar o Dia do Rock deste ano, nosso querido ditador Corrales sugeriu a mim e ao Allan que fizéssemos o nosso texto tipo “O Fulano e o Rock”, item indispensável para a gente se sentir parte da turminha.

Assim que a ideia foi colocada em pauta, eu me empolguei, achando que seria algo super fácil e divertido de se fazer. Ledo engano.

Não sei dizer se a minha memória é que é uma porcaria, ou a minha timeline rockeira é meio obscura, ou ambas as coisas, mas confesso que foi ridiculamente difícil pensar em como iniciar este relato. Quase tive que apelar para regressão, hipnose, ou algo assim.

Felizmente, uma epifania de auto-conhecimento me atingiu antes de eu recorrer a estas práticas esquisitas. Então, vamos lá, antes que eu me esqueça de tudo novamente.

INFLUÊNCIA É PARA OS FRACOS

Eu não tive grandes influências musicais na minha infância. Minha amada mamãe é brasileira até a raiz dos cabelos. Por conta disso, ela ouve com orgulho basicamente MPB, desde Roberto Carlos e Alcione, passando por Roupa Nova e Benito di Paula. Não gosto muito de nada disso, mas a amo o bastante para relevar seu gosto divergente. =D

Apesar disso, ela era dedicada em me proporcionar uma infância musicalmente variada. Até hoje eu tenho em casa meus vinis da Xuxa, da Turma da Mônica, do Balão Mágico, da TV Colosso, e por aí vai.

Meu pai… Bom, meu pai nunca foi lá grande exemplo de muita coisa para mim. O divórcio deles rolou quando eu tinha menos de dois aninhos e, no decorrer da minha vida, a convivência com o meu velho foi ínfima e conturbada.

Ele aparecia lá em casa uma vez ou duas por semana quando eu era moleque, pedia uma pizza e ficava umas três ou quatro horas comigo e com meu irmão. Conforme fomos crescendo, estas visitas foram diminuindo gradualmente.

Na adolescência, bom, junte um Pixáiti rebelde com um pai ausente (e também Pixáiti) que arranjou uma mulher megera de difícil convivência, e você já pode imaginar que este foi um período deveras complicado.

Por conta disso tudo, eu nunca soube exatamente qual o gosto musical do meu pai. Até hoje não sei, na verdade. Em uma ou outra vez que viajei de carro com ele, lembro-me de ele ouvir umas músicas sertanejas obscuras tosquíssimas, mas não sei dizer se ele ouvia aquilo porque gostava, ou se era apenas para me irritar.

Voltando: minha avó materna, que infelizmente nos deixou este ano, tinha uma casa de praia enorme. E quando eu digo enorme, não é exagero. Manja aqueles casarões antigos de madeira, com sótão gigante, sala de jantar e tudo o mais? Então, é uma dessas. Como a casa é grande, toda a família (do lado da minha mãe) ia para lá nas férias.

Aliás, quando eu era pequeno, todo mundo parecia entrar em férias ao mesmo tempo, o que era muito legal. Aí toda a parentada descia para o litoral na mesma época, e ficava um tempão (leia-se um mês e pouco) por lá. Considerando que no cotidiano normal a família toda só conseguia se reunir em datas comemorativas, o período de férias era uma época mágica, onde todo mundo “morava” na mesma casa.

Meu irmão e meus primos são todos pelo menos quatro anos mais velhos do que eu. Então, enquanto eu ainda estava na minha tenra e inocente infância, eles já galgavam os primeiros degraus da pré-adolescência, com toda a rebeldia rockeira que lhe é (geralmente) característica. Como nestes tempos de férias na praia juntava todo mundo em uma casa só, a gente ia para o sótão (que tem dois cômodos!), e fazia lá o nosso cafofo.

Nesta convivência eu acabava ouvindo, mesmo que passivamente, um pouco do que eles curtiam. E cada um tinha sua banda favorita: o Diego, meu irmão, era fã de Iron Maiden, o Fernando, meu primo mais chegado, curtia Kiss, e o Hélio, meu outro primo, pendia para o lado do Black Sabbath.

Confesso que eu ouvia tudo sem me dar ao trabalho de prestar a devida atenção. Pô, eu tinha, sei lá, oito ou nove anos! O ápice do rock para mim era o Mamonas Assassinas, sensação em meados da década de 90, e de quem gosto até hoje. Mas eu acho que na época eu só gostava deles por serem engraçados (isso porque eu nem entendia boa parte da graça sacana das letras), não pelo teor rockeiro das músicas em si.

Enfim, enquanto meus animados companheiros de quarto falavam de música, guitarra, e tal, eu estava ocupado brincando com meus bonequinhos minhas figuras de ação ou jogando Mega Drive. O que rolava no aparelho de som para mim era só música ambiente.

THE UNNAMED FEELING

Nada do que eu ouvi por intermédio deles deu aquele “clique” na minha cabeça. Nem para abrir meus olhos para o potencial do rock n’ roll, nem para me fazer perceber que deveriam existir outras bandas no mundo além dos Mamonas. Com o fim prematuro da banda humorística, em 96, o rock simplesmente deixou de fazer parte da minha vida. E assim foi até os meus onze ou doze anos.

Até que, num belo dia, naquela mesmíssima casa de praia, eu estava deitado na rede curtindo aquele quati pós-almoço. Em algum lugar nas redondezas havia um rádio sintonizado na 96, outrora a rádio rock paranaense. Então, ela começou. A música que deu o “clique” na minha cabeça. A música que mudou a minha vida. Não sei nem dizer o porquê deste efeito, simplesmente aconteceu, foi amor à primeira ouvida.

Talvez o que me chamou a atenção na época foi o barulho de trem no início. Talvez tenha sido a abrupta interrupção do efeito ferroviário, que dá lugar a uma belíssima introdução instrumental. Talvez as duas coisas. Talvez nenhuma delas. Ah, who cares? Só sei que a química foi imediata.

Você já deve saber de que música eu estou falando, não é?

Sim, meus caros. The Unforgiven foi a primeira música do Metallica que eu ouvi. Aliás, foi a primeira música “pesada” que eu ouvi conscientemente, prestando a devida atenção, mesmo que não entendesse a letra. Por falar nisso, eu lembro que, dada a diferença entre o vocal suave no refrão e raivoso no restante da música, eu tinha a sincera impressão de que eram dois caras cantando.

E sim, eu sei que este não é o clipe oficial da música, mas por questões legais tá difícil de achar o oficial no fuckin’ Youtube, ele fica me dizendo que o vídeo tem conteúdo “UMG” e não está disponível no meu país.

Eu também sei que comecei tardiamente no mundo do rock, e mesmo The Unforgiven surgiu tardiamente para mim. O álbum Metallica, aka Black Album, saiu em 1991, e eu só fui conhecer um single dele em 1998!

Bom, aqui cabe uma explicação: vocês já devem ter percebido que atualmente eu sou o café-com-leite do DELFOS, né? Tenho 24 aninhos recém completados. Nasci em 1986, logo, na época do lançamento do disco supracitado, eu tinha míseros cinco anos de vida. =]

Questões matemáticas à parte, o fato é que aquela música apareceu no momento em que tinha que aparecer, nem muito cedo, nem muito tarde. Refletindo hoje em dia, eu acho que tive muita sorte, e estava no lugar certo e na hora certa. Como o Black Album já havia sido lançado há vários anos, creio que a ouvi por acaso, rolando em algum programa dedicado a clássicos, ou algo assim.

Já pensou se no lugar de Metallica o meu “clique” tivesse rolado com, sei lá, Madonna? Provavelmente eu nem estaria aqui escrevendo isso, e você jamais me conheceria. Triste, né?

WE ARE AS ONE AS WE ALL ARE THE SAME

Ao descobrir que aquela canção miraculosa era de uma banda chamada Metallica, eu mais do que depressa fui garimpar os CDs do meu irmão e dos meus primos para ver se eles tinham algo dos caras. Qual não foi minha surpresa ao encontrar não um ou dois, mas mais de meia dúzia de álbuns da minha futura banda predileta! O Metallica já estava na estrada desde antes de eu pensar em nascer, esperando por mim, e eu só fui apresentado a eles naquela fuckin’ tarde de verão!

Usurpando o discman (lembra disso?) de um dos meus consanguíneos, atirei-me ao conhecimento dos discos. Logicamente, procurei aquele que tinha a faixa The Unforgiven. Enquanto eu ouvia a dita cuja no repeat até enjoar (mentira, até hoje não enjoei dela), eu olhava os demais álbuns, quando tive uma nova surpresa: The Unforgiven II! A minha mais nova música favorita tinha uma sequência!

Após ouvi-la uma cassetada de vezes, maravilhado com as tênues ligações rítmicas entre elas (eu não manjava muito de inglês para sacar as referências textuais de ouvido, e estava sem os encartes para acompanhar as letras), eu me demorava lendo o nome de outras músicas, tentando adivinhar qual deveria ser a mais tremendona.

Partindo do conceito de que menos é mais, optei pela de título mais básico e monossilábico: One. E esta, que mais tarde eu descobri ser um dos maiores clássicos da banda, explodiu minha cabeça. Mesmo sem entender muito da letra, eu saquei que ela tratava de sofrimento, desespero (oh please, God, help me), e a maneira absurdamente explosiva com que ela se desenrola, do início melódico e muito bem arranjado ao desfecho barulhento e apocalíptico tornou tudo mais intenso.

Naquele momento eu soube: aquela não era uma banda qualquer. Aquela era a banda da minha vida. Na mesma noite eu compartilhei minha empolgação com meus companheiros de quarto, que foram muito legais comigo e me deixaram a par de tudo que eles sabiam sobre o Metallica. Conheci as músicas que eles achavam mais legalzudas, as mais clássicas, as instrumentais, e tive um vislumbre superficial do conceito de algumas faixas. Estava feita a minha iniciação definitiva ao mundo do rock.

BEFORE YOU JUDGE ME, TAKE A LOOK AT YOU

Aqui eu abro um parêntese para falar aos possíveis tr00ls: antes de me criticarem, percebam que eu nunca fui um fã de thrash metal antes do Metallica. Por conta disso, e também por causa do meu timing atrasado, eu ouvi quase todas as fases da banda “embaralhadas”, sem seguir a ordem cronológica dos álbuns. Logicamente eu percebi que havia uma diferença audível entre eles, mas sinceramente não me importei com isso na época. Este meu “descaso” fez com que eu ouvisse os famigerados Load e Reload sem aquela cisma de fã old school. E sinceramente acho que isso foi bom.

Bom porque, inconscientemente, eu acabei percebendo que gostava tanto do Metallica porque sempre tinha uma música que combinava com o que eu sentia, independente do timing.

Na minha fase rebelde, havia Mama Said e sua letra tipo rebel’s my new last name. Nos meus dias perturbados, One me sufocava com seu hold my breath as I wish for death. Nas minhas crises existenciais, Fade to Black reinava com seus versos tipo life it seems to fade away. Nas horas de loucura, Whiplash martelava seu refrão acting like a maniac, whiplash. Até nos momentos românticos, a beleza poética de Nothing Else Matters e sua ideologia trust I seek, and I found in you caíam como uma luva, e por aí vai.

Com isso eu acabei tendo as minhas músicas preferidas em todas as épocas da banda. E, logicamente, nem sempre as preferidas são as mais conhecidas. Só para citar algumas das minhas discrepantes e atemporais favoritas: Trapped Under Ice, Fade to Black, Whiplash, Disposable Heroes, The Four Horseman, Blackened, One, toda a série The Unforgiven, Hero of the Day, Dyers Eve, The House Jack Built, My Apocalypse, entre outras, não necessariamente nesta ordem. E aqui termina o parêntese que eu abri ali em cima. =]

I’M GONNA BE A ROCK N’ ROLL STAR

Voltando das férias, eu descobri que alguns dos meus companheiros de escola também já estavam devidamente iniciados nas trilhas do rock n’ roll e eu nem sabia. Outros, como o sujeito que até hoje é o meu melhor amigo, eu tive a sorte de colocar no caminho do Vento Preto. Disponha, Marcos!

Inconscientemente (ou não), este momento de auto-conhecimento metaleiro culmina naquela vontade louca de deixar o cabelo crescer, comprar um monte de roupas pretas e um par de coturnos. Estas foram lições que eu segui à risca, e olhando para trás, não me arrependo, mas também não me orgulho de algumas opções “estilísticas” feitas no calor do momento. Mas isto é uma outra história.

Bem, o que acontece quando você junta amigos e rock? Sim, você forma uma banda! O problema é que eu não sabia tocar por*# nenhuma, embora sonhasse em aprender bateria desde que ouvira músicas como One e Dyers Eve. Enquanto eu não me coçava para aprender, sabe-se lá porque alguém achou que eu tinha uma voz razoável para ser o frontman da minha primeira banda, cujo tosco nome foi Sangria.

A banda durou dos meus 12 aos meus 14 anos. Neste intervalo, meus cabelos cresceram, meu vocal não melhorou muito, mas a gente conseguiu tocar em um muquifo ou outro, alguns festivais sem representatividade e tal, o que foi deveras divertido.

Logicamente, o Metallica continuou firme e forte na minha vida, ainda mais após o lançamento de um álbum duplo de covers tremendões e um outro álbum duplo ao vivo que para mim não é apenas um show, mas um acontecimento. Sério, eu venderia minha alma para ter assistido ao S & M ao vivo. A combinação Metallica + orquestra sinfônica ainda é uma das coisas mais lindas, intensas e profundas que eu já ouvi.

Segue uma palhinha deste momento perfeito:

OPEN MIND FOR A DIFFERENT VIEW

Como aspirante a músico, eu descobri muitas outras bandas com meus companheiros de “estrada”, muitas delas bem diferentes aos meus ouvidos, tais como Helloween, Angra, Sepultura, Rhapsody, AC/DC, Dream Theater, Blind Guardian e Pantera.

Aqui eu lhes digo, senhores: não sou um metaleiro trüe. De todas as supracitadas, as únicas que realmente me cativaram foram Angra e Pantera. A primeira eu já nem ouço mais (gostava da época do Andre Matos), mas a segunda rapidamente tornou-se uma das minhas preferidas, principalmente por conta das viradas de bateria absurdamente fuckin’ tremendonas do Vinnie Paul.

E, crucifiquem-me se quiserem, mas eu não sou um grande fã de bandas clássicas tipo Led Zeppelin, Deep Purple, Pink Floyd, e tal. Respeito todas elas, conheço-as relativamente bem, e ouço sem nenhum problema, mas nenhuma delas fez aquele supracitado “clique” no meu ser. De bandas antigonas, sou bem mais Lynyrd Skynyrd, Grand Funk Railroad e Motorhëad.

REGRAS BÁSICAS

O que nos leva aos meus parâmetros subentendidos de eleição de bandas: quatro coisas são essenciais para eu gostar de uma banda. Primeiro, eu tenho que entender o que o vocalista está cantando. Esta simples regrinha já elimina 99,7% das bandas de death, black e coisas do gênero, nas quais o cara finge que canta, e a galera finge que entende. Nada pessoal, eu apenas não gosto.

Segundo, o vocalista tem que ser bom. E este é um parâmetro estritamente pessoal, logo, eu tenho minhas razões para admirar (ou não) determinados vocalistas. No geral (sem contar o Andre Matos e mais um ou outro cara), eu curto homem que canta que nem homem.

Caras que ficam dando um monte de gritinhos histéricos como se a cueca estivesse apertada, soltando agudos dignos de uma cantora lírica e/ou se perfazendo questionavelmente no microfone não me apetecem. Como eu disse, isto é uma opinião minha, e se você não concorda ou me acha chato, feio e bobo por conta disso, relembro-lhe daquele bom e velho dito popular, que compara a opinião individual a uma famigerada região anatômica. Saca qual dito é este, né?

Terceiro item: a letra tem que dizer algo, no mínimo, interessante. Sim, desde o momento em que eu aprendi um mínimo de inglês, sou bem chato quanto a isso. Nada contra quem gosta, mas eu realmente não consigo curtir bandas tipo Carcass ou Cannibal Corpse, que veneram vômito, vermes, cadáveres e verrugas que brotam em lugares estranhos.

Aqui novamente eu parabenizo o Metallica. Ok, eu sei que várias músicas deles têm letras ridículas e vazias, como Fuel, Battery ou Seek & Destroy, só para citar algumas das mais famosas.

Mas quando o James está realmente inspirado e “escreve com o coração” (desculpem a expressão tosca, mas eu não achei nada melhor), a coisa muda de figura.

E não pense que “escrever com o coração” só resulta em baladas! Thrasheiras pesadíssimas como Disposable Heroes, Dyers Eve e …And Justice for All têm letras espetaculares! Das mais moderninhas, posso citar Holier Than Thou, Broken, Beat & Scared, Carpe Diem Baby, The God That Failed e Frantic.

E, para não deixar de fora as baladas, faixas como Fade to Black, Nothing Else Matters, a “trilogia” Unforgiven, Mama Said e Bleeding Me mostram o talento quase poético de James Hetfield quando ele expõe seus conturbados sentimentos.

Minha quarta exigência: a levada da bateria tem que ser tremendona. E com isso eu não me refiro àqueles bateristas ultrarrápidos que fazem do bumbo duplo uma britadeira. Como dizia o meu professor de bateria, tocar devagar normalmente é mais difícil que tocar rápido. E eu acho que isso é bem verdade, em se tratando de bateria e percussão.

Uma coisa é martelar incessantemente as peles sem piedade (e às vezes sem musicalidade) nenhuma. Outra totalmente diferente é fazer uma batida mais quebrada, assimétrica, cheia de nuances, contratempos e repiques. Mesclar os dois estilos com sabedoria e criar uma identidade musical é a chave da pintudice, e em minha opinião, muitos bateristas derrapam por darem atenção apenas à velocidade, deixando a técnica e o feeling de lado.

SHOW YOUR SCARS

Seguindo a história: no meu aniversário de 15 anos, decidi que faria uma tatuagem do Metallica. Eu tinha certeza que jamais me cansaria do som deles, logo, não me arrependeria de ter o seu emblema marcado a ferro no meu corpo. Nove anos já se passaram desde então, e eu ainda não me arrependi, o que é um bom sinal.

Se alguém ficou curioso, pode ver a foto na nossa galeria (sim, eu sei que é uma foto poser). O desenho é aquele dos quatro M’s característicos formando uma espécie de estrela. Eu acho este emblema estiloso pacas! Ainda quero tatuar a serpente da capa do Black Album, possivelmente no meu aniversário de 25 anos, aka no ano que vem.

Foi um pouco depois disso que eu decidi cortar minhas longas madeixas para arranjar um emprego/estágio razoável. Infelizmente a gente sabe que há muito falso moralismo no mercado de trabalho, e os patrões engomadinhos preferem um cara ajeitadinho mongo a um cabeludo sagaz. Ossos do ofício, mas isto foi necessário e, no final das contas, cabelo é algo que cresce de volta (ou não). Mas como diria um amigo meu, “o que importa é ter o coração cabeludo”! o/

A JÉSSICA E EU

Como trabalhador (estagiário, na verdade) assalariado, eu pude enfim realizar o meu sonho de aprender bateria. Como eu havia brincado um pouco com o instrumento na minha já extinta banda, aprender bateria foi algo que me veio muito naturalmente (ou eu pensava que aprender de fato era muito mais difícil do que realmente é), e logo eu estava fazendo solos e viradas que, poucos meses antes, julgaria impossíveis para uma pessoa com menos de oito braços. E olha que eu sou canhoto, e toco com a parafernália toda invertida!

Em uma parceria financeira com meus pais, eu comprei a Jéssica, minha primeira (e até agora única) bateria. O porquê do nome dela ser Jéssica é uma longa história, mas o fato é que ela continua firme e forte lá em casa, e esporadicamente eu compro alguma bijuteria (leia-se pratos, pedestais e coisas do tipo) para deixá-la mais sexy e bonita!

Com esta nova skill aprendida, eu toquei em diversas bandas de diversos estilos, algumas por afinidade, outras por diversão e umas outras simplesmente por grana, mas não vou me estender muito nisso por aqui. O que importa é que esta inconstância contribuiu para eu evoluir bastante musicalmente, conhecendo e respeitando muitas outras vertentes musicais. Foi aí também que eu passei a ouvir mais coisas old school, tipo Beatles, Ramones, Janis Joplin, Elvis Presley e Chuck Berry.

O fato do Metallica lançar em 2003 o sofrível St. Anger também ajudou nesta minha diversificação musical. Como o álbum era bem ruinzinho, eu comecei a ouvir coisas bem diferentes, tipo Rage Against the Machine, Kid Rock e Corrosion of Conformity, mas neste período, o grande destaque para mim foi uma banda canadense chamada Nickelback.

É! NICKEL – FUCKIN’ – BACK!

Sei que muitos dos tr00ls agora irão me xingar e questionar a minha masculinidade, mas eu digo: se tudo o que você conhece de Nickelback é o que rola nas rádios e na MTV, você definitivamente não conhece a banda.

Além das baladinhas melosas que lhes garantiram fama e fortuna, tipo How You Remind Me, Someday e Photograph, os caras têm um bom número de músicas pesadas de altíssima qualidade. Se isto não é o bastante, no meu critério previamente explicado eles preenchem muito bem a maioria dos requisitos. E, só para constar, na minha opinião, o Chad Kroeger é disparado o melhor vocalista que apareceu nos últimos tempos.

Quer mais? Eles são fanáticos pelas minhas bandas preferidas, Metallica e Pantera! Duvida? Pois confira o vídeo abaixo, um dos mais pintudos covers de Metallica que eu já tive o prazer de encontrar:

Vai dizer que não ficou muito legalzudo? Pena que eles não tocam a música toda, mas tá valendo!

Como se este cover já não fosse tremendão o bastante, o Chad era amigo do lendário Dimebag Darrel e, com a morte do guitarrista, o Nickelback gravou uma música fuckintástica sobre o fato, e conseguiram até meter uma gravação de um solo inédito do Sr. Darrel no meio, para dar uma incrementada na canção. Confira abaixo, Side of a Bullet, uma tremendona homenagem a um guitarrista tremendão:

NOTHING IS REAL BUT PAIN NOW

De volta à minha epopéia: como a vida é uma caixinha de surpresas, depois de investir um tempo considerável praticando e otimizando meus talentos como baterista, eu sofri um acidente praticando rappel e rompi meu tendão de Aquiles do pé direito, em 2002. Tal episódio quase mandou para o Limbo a minha nem tão promissora carreira. Esta é uma fase negra da minha existência, na qual eu quase entrei em depressão e tudo o mais, portanto, não ligue se eu não entrar em maiores detalhes, pois não é algo que eu tenha prazer em relembrar.

Para piorar tudo, o Metallica cancela os shows que faria em nossas terras, o que me deixou assaz revoltado! Neste momento de crise, para manter minha sanidade quase intacta, eu me dediquei ao meu outro passatempo favorito: jogar videogame. Isso me fez um bem enorme e, de quebra, eu descobri muitas novas bandas! Jogando o alucinante Prince of Persia: Warrior Within eu descobri a tremendona Godsmack. Jogando Burnout eu descobri Avenged Sevenfold, entre outras. Jogando Fahrenheit eu descobri Theory of a Deadman. Isso para não citar as óbvias bandas que a gente descobre jogando Guitar Hero e derivados.

Sem me aprofundar muito, resumo esta fase apenas dizendo que foi longa e penosa. Entre cirurgias e sessões intermináveis de fisioterapia, eu cheguei a pensar que jamais poderia tocar bateria novamente. Sério, foi tenso.

BUT WE DIE HARD!

Como eu não podia me dar ao luxo de simplesmente desistir de tudo, toquei o barco e, no decorrer do processo, conheci pessoas que me apresentaram uma meia dúzia de bandas que me apeteceram bastante, como HellYeah (só o nome já é legal), Stone Sour (que, como muita gente sabe, é a “outra banda” de dois integrantes do barulhento Slipknot), Lamb of God, System of a Down, Mastodon, Sevendust, Black Stone Cherry, entre outras.

Bom, o fato é que hoje, eu ainda estou aqui, inteiro, já me formei na faculdade, toco bateria quase tão bem quanto antigamente (embora não seja recomendável abusar do pedal duplo), tenho uma nova banda, e o Metallica, tal qual uma fênix que ressurge de suas próprias cinzas (nossa, que bonito isso), deu a volta por cima, ao lançar o fuckin’ awesome Death Magnetic, em 2008, que traz algumas músicas que já são quase clássicas, e caem como uma luva nas apresentações old school da turnê atual, como esta que você confere abaixo:

(O clipe oficial não está aqui por um problema semelhante ao do primeiro vídeo deste texto.)

Além deste ótimo álbum, no ano passado fui brindado com o excelente Guitar Hero: Metallica, jogo que me rendeu muitos cumshots involuntários. Sou fã alucinado de games e de Metallica, logo, o que mais eu poderia querer? =D

E é isso, caríssimos. Nesta minha (nem tão) resumida história de altos e baixos pessoais, a letra de Broken, Beat & Scarred cai como uma luva: you rise, you fall, you’re down than you rise again / what don’t kill you make you more strong!

E é com este pensamento, de cair, mas continuar levantando, que eu e o Metallica seguimos, forever trusting who we are.

And nothing else matters!

P.S Somente este ano, após mais de uma década de espera, eu tive a gloriosa oportunidade de ver o Metallica ao vivo. Sei que já se passaram vários meses desde a passagem deles por aqui, mas eu ainda vou escrever um texto legalzão, contando todas as aventuras que vivi ao viajar milhares de quilômetros (por ar e por terra) e passar por quatro estados diferentes (saindo do PR, passando por SC para chegar a POA, aí fazendo todo o caminho de volta e em seguida direto para SP) em menos de três dias para ver de perto a minha banda favorita duas vezes!

E morram de inveja eu peguei uma palheta do Kirk, para deixar tudo ainda mais mágico. Aguarde!

P.S.² A maioria dos subtítulos deste texto (todos os que estão em inglês) foram extraídos de letras do Metallica. Você é bom o bastante para identificar de qual música saiu cada verso?

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