O Incrível Hulk

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Ah, as malditas cabines à tarde da Paramount. Como o delfonauta sabe, a maior parte das cabines é feita de manhã, assim fica perfeito para escrever a resenha depois do almoço. Contudo, quando elas são à tarde, sobretudo no Kinoplex, como tem sido o caso, complica tudo e gera hora extra. Hora extra fede! Assim, eu acabo começando a criar o texto às 18 horas e o resultado são introduções sem graça como essa, graças à falta de inspiração de um dia que envolveu mais de três horas em ônibus lotados (eu já disse como o Kinoplex é longe da civilização, né?).

Mas vamos ao filme. Depois do fracasso comercial do filme de Ang Lee (embora do ponto de vista artístico, ele seja excelente), e considerando que chamaram para a direção desta “segunda parte” o diretor do testosterônico, explosivo e divertidoso Carga Explosiva, todo mundo, inclusive eu, esperava que O Incrível Hulk trouxesse essas mesmas qualidades. Em outras palavras, que fosse um filme cheio de pancadaria e com pouca profundidade psicológica. Para o bem ou para o mal, não é isso que temos aqui.

Sim, a mudança do anterior para este é considerável, mas é basicamente no jeitão da coisa toda. Enquanto o filme do Angry Li tem aquele clima autoral e independente, este não deixa a menor dúvida de que se trata de um blockbuster de verão hollywoodiano. Assim, a narrativa é mais veloz e os problemas psicológicos do protagonista não são tão aprofundados. Dito isto, fica claro em todas as cenas envolvendo o gigante esmeralda que quem está ali não é um monstro verde e irracional, mas um Bruce Banner triste, desesperado por ter sua vida de volta.

Como você deve ter percebido pelo parágrafo acima, O Incrível Hulk não tem o lado cômico de um bom Testosterona Total. Claro, existem algumas piadinhas (a maior parte delas compreensível apenas por leitores dos quadrinhos), mas não tenha dúvidas: a história ainda é um drama. E embora tenha ótimas (e exageradas) cenas de ação, sou obrigado a avisar que não são muitas. A não ser que tenha esquecido algo, o Hulk aparece apenas em umas três cenas, sendo que na primeira, ele fica sempre escondido pelas sombras. Talvez tenhamos até menos verdão (e não me refiro ao Palmeiras) do que tínhamos no filme anterior.

O Incrível Hulk tenta dar um reset na franquia, mas não o faz totalmente. Pense no que Evil Dead 2 fez em relação à história do primeiro e você vai entender o que acontece aqui. A principal mudança na origem do verdoso é que agora ela está diretamente ligada à fórmula do supersoldado (alguém gritou “Capitão América”?). Tirando isso, durante os créditos iniciais é feito um flashback mostrando o que aconteceu “antes” da história, ou seja, a origem que devemos considerar.

Depois da intro, vamos ao Brasil, onde Bruce Banner está morando numa favela. É engraçado, mas aparentemente eu só vejo o Brasil que eu conheço em filmes gringos. Por exemplo, tem uns babacas que ficam tentando brigar com o Bruços Propaganda de Internet a todo momento, bem como acontece quando você sai na rua em uma metrópole como São Paulo. Só não dá para entender porque o babaca-mor parece ter sido dublado por alguém que está lendo suas linhas, ao invés de terem pego um ator brasileiro de uma vez. Também tem outro cara que visivelmente não fala português e decorou suas falas sem ter nem idéia do que significavam, mas tirando esses dois, o resto da turma adepta da nossa língua está funcionando bem. Até Eduardo Antivírus arrisca falar algumas coisas (“não me deixe com fome!”).

Aliás, nesse início também tem um furo de roteiro bem feio. Por exemplo, por motivos que vão permanecer em segredo, Bruno Bandeira aparece na Guatemala. Até aí tudo bem. Mas ele estava só com uma calça rasgada e sem grana nenhuma, como diabos ele simplesmente faz pop nos EUA alguns dias depois? Carona simplesmente não cola. Definitivamente faltou uma explicação aí.

O que impediu o filme de ganhar a nota máxima foi a presença do vilão Abominável. Já no anterior, é minha opinião que o pai dele virar um monstrengo era completamente desnecessário. A mesma coisa acontece aqui. Considerando a proposta de ambos em que o personagem de Dudu Norte está sendo perseguido pelo exército dos EUA que querem usar seu poder como arma, não me parece necessário termos mais um vilão. Esse papel já é feito – de forma muito satisfatória – pelos militares.

Spoiler leve, principalmente se você manja das fórmulas hollywoodianas: Ao invés de se manterem nisso (às vezes menos é mais), os roteiristas resolveram transformar um dos soldados no Abominável. Se ele ainda estivesse sob o comando do exército, poderia até funcionar bem, mas Emil Blonsky se submete ao sangue de Bruce simplesmente porque quer mais poder. E assim se transforma num monstro raso, um vilão sem motivo para existir, que sai destruindo a cidade, forçando o General Ross e Bruce Banner a fazerem as pazes e se unirem em prol de um inimigo comum. Temos um monstro verde contra outro, mas a luta é bem sem graça e clichê demais. O filme simplesmente não precisava disso para ser bom. Na verdade, isso deixa o clímax tão lugar comum que acaba piorando o dito-cujo. Aliás, o segundo encontro de Emil com o Hulk, antes de o primeiro se tornar completamente o Abominável, é bem interessante. Poderiam ter explorado esse jeitão de Davi X Golias mais vezes. Fim do spoiler.

Eu até imagino como vão ser as resenhas da grande mídia, dizendo como O Incrível Hulk é ação do começo ao fim. Não acredite nisso. É bem provável que eles nem tenham assistido ao filme com atenção e tenham se levado pelos releases e pelos trabalhos anteriores do diretor. E, para ser sincero, este longa está bem mais para Clube da Luta do que para Carga Explosiva (não por acaso, Edward Norton deu seus pitacos no roteiro). O que, dependendo do seu gosto, e do que você espera, pode ser muito bom. Sem dúvida vale a pena assistir, mas se analisarmos puramente pela diversão, Homem de Ferro faz miséria com o verdão. E, filme por filme, ainda gosto mais da interpretação de Ang Lee.

Curiosidades:

– Tudo bem que eles queiram se afastar do filme anterior, mas por que ignorar o que ele fez de bom? Pô, todo mundo adora aquela edição com cara de quadrinhos. Não vejo porque abandonar isso, especialmente em nome de uma edição padrão.

– Marvetes de todo o mundo estão se contorcendo em meio a orgasmos múltiplos. Finalmente a Marvel está passando seu universo para o cinema (demorou, nunca entendi porque não fizeram antes). O Incrível Hulk conta com a ilustre presença do Tony Stark em sua última cena, além de várias referências à S.H.I.E.L.D. e até uma ao Nick Fury.

– Mais estranho ainda é que os filmes da DC ainda não tenham criado esse universo. Se pensarmos que a Warner é dona da DC, ela tem liberdade para explorar os personagens como achar melhor, diferente do que acontece com a Marvel, onde cada filme fica com um estúdio diferente.

Ao contrário do que foi dito aqui, o Capitão América não aparece no filme. Saiba mais sobre isso aqui.

– Enquete delfiana: qual Betty Ross você prefere misturar com ovo de páscoa, a Liv Tyler ou a Jennifer Connely? Hum… Liv Tyler, Jennifer Connely e ovo de páscoa…

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
o-incrivel-hulkPaís: EUA<br> Ano: 2008<br> Gênero: Ação/Drama<br> Roteiro: Zak Penn<br> Elenco: Edward Norton, Liv Tyler, William Hurt, Tim Roth, Ty Burrel, Tim Blake Nelson.<br> Diretor: Louis Leterrier<br> Distribuidor: Paramount<br>