Odin abençoe os beat’em ups! Este, que é um dos gêneros mais antigos dos games, e que foi muito popular nos anos 90, especialmente em arcades da Konami e da Capcom parecia já ter dado o que tinha que dar. Até vemos novos lançamentos no gênero, mas em geral eles se limitam a emular o feeling da época. Pois prepare-se para conhecer Way of the Passive Fist, jogo de estreia da Household Games, que vai agradar e surpreender os fãs, mesmo aqueles que, como eu, gastaram muitas fichas jogando Final FightTurtles in Time no fliperama.

Way of the Passive Fist, Delfos
Parece tão familiar, mas é muito diferente.

Acontece que a Household criou um beat’em up, mas se apropriou da jogabilidade de um jogo de ritmo. Assim, como o título entrega, você não deve sair ativamente socando a galera. O negócio aqui é resistência pacífica. Ou quase isso.

O PUNHO PASSIVO

Em Way of the Passive Fist, você está sempre na defensiva. A ideia é se defender dos ataques inimigos até eles se cansarem, e então dar um simples empurrãozinho, que os derrota definitivamente. A animação é tão legal que seu empurrão lembra o Obelix e seus socos aparentemente sem esforço, e faz com que você se sinta um monge, lutador, porém pacifista.

https://oriefalconer.bandcamp.com/album/way-of-the-passive-fist-official-soundtrack
O poder do punho passivo.

Basicamente, você tem duas defesas. Contra ataques diretos, você aperta quadrado, o que bloqueia o golpe. Porém, alguns inimigos vão tentar te agarrar ou atacar à distância. Nestes casos, aperte o bola para se esquivar. Se alguém atirar algo no seu personagem e você acertar o timing, ele pega o que foi atirado e devolve ao atirador.

Obviamente, a coisa vai ficando bem mais complicada conforme você avança nas fases. Cada inimigo tem sequências e ritmos diferentes, e todos eles vêm em várias opções de cores – na melhor tradição arcade – o que significa que mesmo inimigos semelhantes são diferentes. Por exemplo, as mulheres gostam de atacar à distância. Porém, algumas delas atiram duas coisas ao mesmo tempo, então você deve defender a primeira e se esquivar da segunda, para atacá-la de volta. A variação fica maior ainda quando começam a popar os inimigos mecânicos.

Way of the Passive Fist, Delfos
Tenha medo dos robôs.

A sacada é que os robôs não se cansam, e dessa forma devem ser vencidos de forma mais ativa. Aí entram os…

GOLPES ESPECIAIS

Assim como num jogo de ritmo, uma sequência de defesas correta aumenta seu multiplicador. Ao chegar a cinco, você ganha um socão que nocauteia de uma vez os inimigos mais fracos. Outros golpes vão eventualmente ser liberados em combos de 12 e 25. É apenas com um destes três especiais que você consegue atacar os inimigos mecânicos e os chefes.

Chefes? Pois é, assim como num beat’em up tradicional, Way of the Passive Fist envolve limpar a tela, andar para a direita e repetir até chegar ao final. Porém, a cada duas fases vai ter um chefe esperando lá no canto. Cada chefe presente aqui é um pequeno puzzle autocontido, no qual você precisa sacar como é possível atacá-lo. O bacana é que o gamedesign é tão bom que, quando você acha que pegou a manha, o próximo chefe vai exigir uma boa quebrada de cabeça.

Way of the Passive Fist, Delfos
Os chefes te recebem com uma frase ameaçadora falada, e gravada com frequência baixa, na tradição dos arcades.

AUDIOVISUAL TREMENDÃO

“Pô, Corrales, você vive falando que não gosta de visual pixelado”. Pois é, delfonauta imaginário e intrometido. Um sério problema é que os jogos que se dizem pixel art vivem querendo emular jogos feios de Nintendinho, usando poucas cores e detalhes. Way of the Passive Fist é muito mais caprichado. Sua estética lembra bastante o clássico de Mega Drive Comix Zone, mas os personagens são grandes, detalhados e muito bem animados, o que lembra os melhores jogos de Neo Geo. Aí sim!

Way of the Passive Fist, Delfos
Dá para encontrar uma sopa de tartaruga, que vale o troféu Turtles in Thyme. =D

Os cenários são bonitos, variados e cheios de cores vivas, mas o que mais se destaca mesmo é o som. Temos aqui uma trilha sonora de rivalizar com clássicos de chiptunes como Double DragonMega Man. As músicas são empolgantes e têm aquele jeitão de videogame antigo que acabou fazendo a gente gostar de heavy metal. Mas falar é fácil, ouça por si mesmo neste link, onde você também pode comprar a trilha se desejar ou então me mandar de presente se estiver se sentindo generoso.

A campanha é dividida em 10 fases, e eu até entendo se você criticar o jogo por ser um tanto repetitivo. De fato, você está sempre andando para a direita, se defendendo e aumentando o multiplicador para atacar. Uma certa repetição acaba fazendo parte do gênero mesmo, mas quando a campanha terminou eu ainda estava me divertindo bastante.

https://oriefalconer.bandcamp.com/album/way-of-the-passive-fist-official-soundtrack
E fiquei em quarto na leaderboard mundial. Paga um pau.

WAY OF THE PASSIVE FIST

O que temos aqui é um jogo que se apropria da estética e status quo dos anos 90 para criar algo familiar, mas ao mesmo tempo novo. Trata-se de um jogo criativo, bonito e que exala muito talento da desenvolvedora Household Games. Não é um jogo que você vai jogar para sempre, e nem quer ser. Mas é uma experiência nova e divertida, que fãs de beat’em ups e de jogos de ritmo têm que experimentar.

Way of the Passive Fist, Delfos
Imagem meramente ilustrativa de um fundo brilhante. Porque sim!