WAR: Império Romano

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Muito antes da Internet, da popularização do vídeo game e da chegada do mangá no ocidente, os nerds já tinham com o que torrar suas tardes ociosas: os jogos de tabuleiro. Passando por clássicos como Detetive, Banco Imobiliário, Jogo da Vida e outros, o meu preferido sempre foi o War. No longínquo ano de 1972, a Grow o lançou no mercado de jogos de tabuleiro e acabou fazendo dele o jogo de estratégia mais popular do Brasil. Copiado do estadunidense Risk, War trata de uma guerra mundial fictícia, disputada por até seis forças representadas por bolinhas coloridas. Eu passei um sem números de tardes da minha vida jogando a versão original, e não resisti quando vi que War: Império Romano, havia sido lançado. Como sou fascinado pela história das civilizações antigas e jogos de tabuleiros eu acabei adquirindo o meu.

Logo quando abri a caixa já me deparei com meu primeiro obstáculo: destacar todas as miniaturas dos plásticos que as prendiam, e acredite, isso demora muito tempo. Essas miniaturas representam as legiões que formam seus exércitos. Elas são representadas por centúrias, que equivalem a uma unidade, por cavaleiros, que equivalem a três e pelas catapultas, que equivalem a dez. Todas as miniaturas são detalhadas e feitas para durarem, mas os dados são simplesmente uma droga. Ao invés de serem feitos com sulcos circulares pintados, as bolinhas que marcam os números foram pintadas de maneira bem superficial, que com toda certeza vão acabar se apagando.

Já o mapa é bem feito, de papelão meio grosso, dobrável e com uma ótima impressão. Sua geografia é baseada no ápice do poderio do império romano, por volta de 140 d.C., o que inclui toda a Europa, o leste da Ásia e o norte da África. Dessa maneira, o jogo acaba por ter menos territórios do que nas versões anteriores, o que faz com que as partidas sejam mais rápidas. O mais legal é que todos os territórios estão com sua nomenclatura original no latim. A Lusitania é parte do que viria a ser Portugal, Epirus e Achaea são territórios que formariam a Grécia, e a Itália… é a Itália mesmo.

O objetivo do jogo é sorteado aleatoriamente para cada jogador. Eles variam entre conquistar a Europa Ocidental, dominar dezoito territórios quaisquer, destruir todo o exército de uma cor específica e muitos outros. Mas como eu sempre achei essas missões muito chatas e repetitivas, eu e meus inimigos acabamos dispensando as cartas-objetivo e combinamos um único objetivo em comum: a dominação global. Claro que assim o jogo fica muito demorado, mas é o único jeito que eu tenho, por enquanto, de conquistar o mundo.

A estratégia de War se baseia no momento certo de se atacar um inimigo e no posicionamento de suas legiões. As batalhas são focadas nas jogadas de dados, e ganhar ou perder uma batalha depende basicamente da sua sorte. Mas você pode pensar nisto como uma ação da providência divina, fica mais legal. Seria muito bem-vindo se o jogo lidasse com alguns aspectos diplomáticos, como cartas de trégua ou troca de territórios e coisas do tipo. Também seria bacana se os territórios tivessem alguma espécie de recurso natural que pudesse ser trocado para produzir mais unidades, além de outras coisas que o tornariam mais complexo e menos dependente da sorte.

Se você nunca teve a felicidade de jogar um jogo de tabuleiro, eu aconselho esta versão romana, cujo tempo de partida gira em torno de meia hora, ao invés da original, que possui mais territórios e onde o tempo estimado de jogo é de uma a duas horas. Mas pra você que já é um jogador hardcore, a primeira versão ambientada no mapa-múndi atual vai lhe agradar mais, principalmente a edição de luxo, que é muito bem acabada e possui miniaturas de tanques de guerra. Existe também o War II, cuja estratégia envolve aviões, mas esse eu só recomendo para aqueles já iniciados.

Este jogo também é uma ótima oportunidade para pessoas que não têm nenhuma intimidade com geografia e história aprenderem um pouco a respeito. Aliás, este tipo de jogo deveria ser incentivado nas nossas escolas. Bons professores poderiam usá-lo para instigar seus alunos a prestarem mais atenção naquela aula chatíssima a respeito da Mesopotâmia ou ensinar a respeito da expansão cultural da Grécia (eles ensinam isso nas escolas?).

Muitas vezes a principal graça dos jogos de tabuleiro não é o jogo em si, mas a interação social que ele promove. Hoje em dia, as pessoas passam boa parte do seu tempo absorvidas em RPGs online e Orkuts da vida, criando relações superficiais com pessoas sem rosto. Acabam assim se esquecendo de que seres humanos são feitos de carne e osso, e não de pixels. Exatamente por isso eu adoraria ver a cultura dos jogos de tabuleiro voltar a fazer parte do cotidiano das famílias e de seus círculos de amizade. Recomendo War: Império Romano para todas as idades.

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