Viewtiful Joe

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Às vezes tenho a impressão que as grandes empresas de jogos eletrônicos estão perdendo o pique na criatividade de produzir algo realmente novo interessante e se limitam a apenas reinventar e aproveitar as antigas fórmulas com novos elementos. Isso aconteceu com a Konami e o novo jogo das Tartarugas Ninja e agora, acontece também com Viewtiful Joe, o novo mascote da Capcom.

Se esse fator não deu certo no novo jogo dos répteis mutantes por falta de ousadia, o mesmo não pode ser dito da empreitada da Capcom, o que mostra que determinadas fórmulas, quando bem utilizadas, não se esgotam. Esse é exatamente o caso de Viewtiful Joe, um jogo de ação 2D (estilo a série Contra, Ninja Warriors, Last Battle, E-Swat e tantos outros), que revigora o gênero e traz uma série de novidades.

Antes de começar a falar da versão de Playstation 2, preciso esclarecer que Viewtiful Joe é uma franquia que nasceu primeiro no Gamecube há cerca de 2 anos, mas somente agora chegou ao videogame da Sony. O segundo capítulo da saga não terá prioridades e sairá simultaneamente nos dois sistemas em novembro. Eu não joguei a versão do Gamecube, portanto tudo o que vou falar se refere ao jogo de Playstation 2, mas acredito que ambos diferem apenas em alguns detalhes e personagens secretos.

Em Viewtiful Joe, você é Joe (dã), um adolescente fã de Tokusatsus (aquelas séries japonesas estilo Jaspion e Ultraman, cheias de robôs, artes marciais e muita ação). Em um belo dia, Joe e sua namorada Silvia vão a um cinema da cidade assistir um destes seriados de um tal Captain Blue, quando são surpreendidos pelo vilão da série literalmente saindo da tela e capturando a pobre e indefesa Silvia. Sobra para Joe também entrar nas telonas, sob a tutela do Captain Blue, para se transformar em um super-herói e “viver” seus filmes e séries favoritos e, assim, resgatar a sua namorada.

Os gráficos em cel-shaded são muito bem utilizados e reforçam o clima de nostalgia dos bons jogos de ação 2D lançados nas gerações anteriores. Tudo é muito vivo e estiloso, a começar pelos movimentos de nosso herói que são bem complexos, mesmo em câmera lenta (calma que eu já explico essa parte). Os inimigos são bem variados e vão “despedaçando” aos poucos conforme você desce o cacete, o que torna a tarefa de matá-los extremamente divertida (tudo bem, fui um pouco sádico aqui). Os cenários também se destacam, com gráficos muito coloridos e fundos em 3D que iludem o jogador. Ao contrário do jogo das Tartarugas Ninja, aqui, os ambientes são bem variados, cheios de detalhes e muito criativos. Você luta tanto nas ruas de uma grande cidade, quanto no interior de mansões e castelos. Existe até mesmo uma fase onde você pilota um avião no melhor estilo R-Type.

A jogabilidade é o grande trunfo de Viewtiful Joe. Como já mencionei anteriormente, nosso querido Joe se tornou um super-herói e como tal, ganhou sua gama de poderes. Além da óbvia superforça, você também tem a possibilidade de alterar o tempo. Mas como funciona isso? Bom, basicamente você tem uma barra chamada VFX, que enche automaticamente e pode ser aumentada com alguns powerups (itens que você coleta pelas fases). Esta barra é a fonte necessária para a utilização dos golpes especiais de nosso herói. Dois golpes você irá aprender logo de cara: acelerar e reduzir o tempo. No caso de reduzir o tempo, o jogo fica em câmera lenta e você poderá esquivar da maioria dos golpes dos inimigos, estilo o Neo de Matrix desviando das balas, artifício muito bem utilizado em Delfos Max Payne (leia a resenha em http://delfos.zip.net/arch2004-02-01_2004-02-15.html). Além disso, você também identifica o ponto fraco dos inimigos e pode usar várias combinações de golpes para destroçá-los com estilo. Na velocidade mais rápida, você, obviamente, desfere dezenas de golpes por segundo, mas fica mais vulnerável aos ataques dos adversários já que perde a capacidade de defesa.

Entender como funciona essas duas alterações no tempo é fundamental, também, para solucionar a maioria dos puzzles (sim, eles estão presentes) do jogo. Por exemplo, se você tem uma plataforma movida a hélice, ao acelerar o tempo, pode subir em lugares teoricamente inacessíveis pois a hélice girará mais rápida e, com isso, a plataforma voará mais alto. Se, do contrário, você diminuir o tempo, a hélice irá ficar quase parada e a plataforma cairá no chão possibilitando que você suba em cima. Domine essas técnicas de controle do tempo, pois elas são a grande chave do jogo, inclusive nos chefes.

Além destes poderes “de graça”, você também poderá comprar alguns novos no final de cada fase, dependendo do número de pontos acumulados. Entre estes poderes compráveis, estão combos aéreos, voadoras e um golpe muito legal onde você literalmente faz uma “pose mortal” que mata os inimigos (esse é de rolar de rir). Mais Tokusatsu impossível.

A parte sonora do jogo me remeteu aos velhos tempos, com aquela trilha sonora clássica de videogame, músicas instrumentais e de muito bom gosto. Uma pena que a dublagem das vozes dos personagens na versão americana (acredito que na versão japonesa sejam outros dubladores) não ficou tão legal e você vai penar para entender o que alguns chefes dizem, mesmo com um bom conhecimento de inglês.

Falamos das qualidades, mas uma resenha delfiana nunca está completa sem falar dos defeitos. O principal deles é a falta de um inimigo digno de Joe. Aliás, todos os chefões de fase são bem chatinhos, clichês, e apelões (coisa tradicional nesse tipo de jogo), mesmo nas dificuldades mais fáceis. O jogo também é bem curto e algumas fases são muito repetitivas. Fora isso, assim que você acabar Viewtiful Joe pela primeira vez, não irá encontrar grandes motivos para jogá-lo de novo, portanto a longevidade não é lá essas coisas.

Mesmo com esses problemas, Viewtiful Joe é um jogo que se destaca da concorrência por explorar um gênero saturado com inteligência, trazendo elementos bem interessantes e divertidos para a jogabilidade. É uma boa saída para a mesmice e um exemplo de como as empresas podem explorar as antigas fórmulas, mas com criatividade. Ouviu, dona Konami?

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Bruno Sanchez
Corintiano de coração, fanático por Heavy Metal, Rock Psicodélico dos anos 60, HQs, Videogames e Ficção Científica. Não, ele não é nerd (segundo o próprio). Bruno cresceu com a idéia fixa de se transformar em um arqueólogo no melhor estilo Indiana Jones (não tem nada de nerd em um filme feito pelos criadores de E.T. e de Star Wars) mas atualmente os únicos tesouros que escava são os velhos clássicos nos sebos do centro de São Paulo.