Hoje em dia, todo mundo sabe, a indústria de games é o setor de entretenimento mais rentável do planeta, lucrando algumas dezenas de bilhões de doletas por ano. Mas houve uma época em que as coisas não eram assim e os videogames eram vistos como um hobby de nicho, puramente nerd, e até mesmo como uma onda passageira.
Pois é justamente contar essa história da criação e evolução dos videogames, da sua pré-história com Pong e os jogos de Atari, até chegar aos games com enredos superelaborados e tecnologia de ponta da novíssima geração, a proposta do documentário Video Games: The Movie.
Narrado por Sean “Sam Gangee” Astin, o longa entrevista atores nerds que gostam de games como o ex-arquiinimigo do Sheldon, Wil Wheaton, Zach Braff (também um dos produtores-executivos do documentário) e Donald Faison, reeditando a saudosa dupla Turk e JD da série Scrubs!
Além, claro, de falar com profissionais da área dos games, como Nolan Bushnell, cofundador da Atari, Shigeru Miyamoto, criador do Mario, Hideo Kojima, criador de Metal Gear Solid e muitos outros produtores, criadores e desenvolvedores de games. Ou seja, mistura bem as opiniões dos envolvidos na indústria com a dos fãs, os consumidores.
Contudo, é preciso dizer que não é um trabalho tão abrangente quanto poderia, ou ao menos tinha potencial para ser. Para começar, foca-se quase que exclusivamente no hardware, nos consoles, e quase nada nos jogos propriamente ditos. E mesmo assim, por tentar contar toda a história em menos de duas horas, acaba resultando bastante superficial.
Ao assisti-lo, fiquei com a clara impressão de que o trabalho do diretor Jeremy Snead foi feito no formato errado. Se fosse uma minissérie em uns quatro capítulos, poderia ter facilmente o aprofundamento que faltou e cada episódio poderia ser centrado exclusivamente em algum tema específico. Do jeito que ficou acabou legal (afinal, é um filme sobre videogames!), mas ficou corrido e sem apresentar informações novas ou desconhecidas, tanto para gamers mais hardcore, quanto para os mais leigos.
Eu, que não acompanho mais o que rola nesse universo desde que aposentei meu PlayStation 1 e, portanto, tinha grandes possibilidades de conhecer novas informações e curiosidades, não só não vi no filme absolutamente nada que já não soubesse, como até senti falta de alguns temas.
Por exemplo, não há nada sobre consoles fracassados como o 3DO e o Jaguar, nem sobre o Dreamcast, último console da Sega, e a guerra entre ela e a Nintendo que dominou o final dos anos 80 e quase toda a década de 90 sequer é citada. Nesse sentido, o próprio DELFOS fez um trabalho mais abrangente e detalhado na série de matérias A evolução dos consoles. Então sim, estou fazendo um jabá, mas também não podia ser diferente, afinal, aprendi muito mais lendo essas matérias do que com este documentário.
Mas pelo menos ele também tem um lado bacana de nostalgia, com muitas imagens de arquivo, que reavivaram muitas lembranças adormecidas. Então, por esse lado afetivo, de rever trechos de jogos antigos e equipamentos do passado, há grandes chances do longa agradá-lo e deixá-lo com um grande sorriso no rosto.
Eu, ao menos, gostei de rever consoles antigos como o Atari 2600 que, se não me falha a memória, foi o primeiro videogame com o qual tive contato (sim, eu sou velho, quase jurássico!), e outros jogos clássicos de NES e Super NES, como Contra, Mega Man e tantos outros sobre os quais não pensava há anos. Nesse sentido de homenagem e nostalgia, o documentário de fato funciona bem melhor.
Sendo assim, Video Games: The Movie não é essencial para quem acompanha o mercado de perto (e até mesmo para aqueles que não o acompanham) e ainda deixa muitas lacunas importantes totalmente inexploradas, resultando mesmo num trabalho superficial com relação à informação. Assim, só os muito leigos, do tipo que nunca pegou um joystick na vida, vão de fato aprender algo aqui. Mas pelo viés da homenagem ao mundo dos games, é bem-sucedido e claramente feito de coração por e para quem gosta de games. Por isso, não é um trabalho essencial sobre esse mundo fascinante, mas com certeza vale uma assistida. Afinal, não deixa de ser um filme sobre videogames!
