Troll and I

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Troll and I. (suspiro) Eu queria gostar deste jogo. Claro, eu normalmente só vou atrás de jogos que eu penso que vou gostar, a não ser que sejam grandes lançamentos que precisam ter resenha no DELFOS. Não era o caso deste. Pelo nome e pela proposta, eu esperava que ele fosse um The Last Guardian com o coração de um Papo & Yo.

Ele até tem coração, motivo pelo qual me sinto até mal de fazer uma resenha negativa. Mas o caso é que o time da Spiral House, formado por apenas 14 pessoas, definitivamente mordeu mais do que conseguia mastigar. Até tem um esqueleto de um bom jogo aqui, mas é bastante claro que ele precisaria de muito mais dinheiro do que recebeu para alcançar suas ambições.

Logo na cutscene inicial, você já percebe que há algo errado. Os bonecos dos personagens são bem simples, pouco detalhados e com uma animação deveras travada. Não dá para tentar jogar açúcar: Troll and I é um jogo feio. Há jogos de PS2 que são mais bonitos, e que funcionam tecnicamente melhor.

Aqui você passa boa parte do tempo brigando com a câmera e com os controles. É muito comum o troll bloquear totalmente a sua visão, e não apenas quando você está jogando com o moleque. Mesmo quando está controlando o bicho peludo, você precisa pegar e atirar pedras em inimigos e obstáculos, e é comum o corpo dele bloquear totalmente a mira. Simplesmente falta polimento.

TROLLADA

Os dois personagens não são tão diferentes quanto você pode pensar. O Troll é obviamente mais forte, podendo matar os inimigos com um ou dois golpes, mas a detecção de colisão é tão ruim que, mesmo quando você acerta os socos, o jogo pode não registrar isso.

Com o moleque o combate funciona melhor, e é tão fácil que nem há necessidade de usar o Troll. Ele pode também usar de furtividade, mas isso nunca é de fato necessário e nem muito apropriado, uma vez que não tem jeito de matar os inimigos com apenas um golpe, então eles sempre acabam te vendo. Por fim, o menino brinca de crafting, fazendo armas e lanças, mas este sistema é bem simples e está mais para um sistema de upgrades do que de crafting. Além disso, os dois bonecos escalam paredes, mas de forma tão lenta que é difícil não ficar entediado.

Obviamente, há momentos em que apenas um dos dois tem a habilidade necessária para prosseguir. Otto, o menino, pode entrar em lugares apertados, e o Troll pode colocá-lo em plataformas outrora inalcançáveis. O monstrinho também é o único capaz de fechar os buracos de onde saem inimigos infinitos, usando pedras que normalmente estão nos arredores.

Para completar, o design das fases é muito confuso. Ele segue aquele esquema metroidvania de passar várias vezes pelos mesmos lugares, mas sem um mapa não fica nem um pouco intuitivo. Em determinado momento eu passei um bom tempo explorando o cenário apenas para perceber que eu já tinha passado por ali antes. Isso faz com que seja comum que você não saiba onde está o seu objetivo.

Em outra fase, copiaram na cara dura o gamedesign do Templo de Pandora do primeiro God Of War, colocando salas giratórias interconectadas que tornam totalmente impossível saber se você está ou não progredindo. Sinceramente, eu passei dali na sorte, e tenho dúvidas se conseguiria repetir a proeza.

Você pode jogar Troll and I em coop local em tela dividida, mas como quase tudo, isso foi mal implementado, uma vez que apenas um dos personagens tem algo a ser feito em qualquer momento. Se você estiver jogando com o Troll, vai ficar esperando Otto abrir caminho e vice-versa. É claramente um jogo pensado para single player apenas.

Além disso, há uma quantidade considerável de bugs. Bugs feios, do tipo morrer porque o personagem atravessou o chão do nada ou a tela começar a tremer ininterruptamente e sem motivo aparente, exigindo que você saia do jogo e retorne. Em outro momento, havia um inimigo que simplesmente não me via e não tomava dano com meus golpes. Detalhe: eu precisava matá-lo para prosseguir. Tive que reiniciar do save, e para completar a desgraça, os checkpoints são bastante homeopáticos.

Algo mais comum e que acontece com frequência é que a AI é totalmente incapaz de seguir seu personagem, ficando presa sempre que há algum pequeno obstáculo na linha reta que separa o que você está controlando do parceiro. Isso obriga você a andar com os dois, ou passar boa parte do tempo com Otto nos ombros do Troll, que é a única forma de controlar ambos de uma vez.

Não adianta, eu queria gostar de Troll and I e passei esta resenha inteira tentando achar coisas boas para falar sobre ele. Bom, é um jogo ambicioso, sem dúvida. Talvez o pessoal da Spiral House se desse bem fazendo um joguinho em 2D, mas infelizmente esta tentativa de criar algo que pudesse competir com jogos AAA (inclusive no preço) acabou dando a sensação de que eu fui trollado.

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REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
troll-and-iAno: 21 de março de 2017<br> Gênero: Aventura<br> Plataforma: PS4, Xbox One, PC e Switch<br> Fabricante: Spiral House<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Maximum Games<br>