Transformers – O Filme

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O mais legal do nosso Especial Transformers é que você não precisa se transformar em nada para ler tudo:
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O teste do tempo é mesmo impiedoso. Mas, antes de explicar o que quero dizer com essa frase, convém contar uma historinha. Aos mais afoitos, peço um pouquinho de paciência, pois afinal, ela nem é tão grande assim.

Era uma vez um jovem molequinho nerd que morava em Brasília. Um belo dia, sua mãe voltou de uma viagem internacional trazendo uma novidade tecnológica chamada videocassete. O aparelhinho milagroso permitia que víssemos filmes em casa sem depender das programações da TV aberta (naquela época, TV por assinatura era um sonho distante) e podia gravar programas para serem assistidos quando quiséssemos.

Pouquíssimo tempo depois que este vídeo foi instalado na TV da família, abriu uma videolocadora perto de casa. Oba, era a chance de pormos a máquina fantástica pra funcionar a pleno vapor. E qual foi o primeiro filme que este, então infante, nerd alugou? Acertou quem disse a animação Transformers – O Filme.

Bom, eu nunca fui muito fã do desenho dos robôs que se transformavam em veículos e alegravam as manhãs da criançada durante a semana. Mas como o acervo de filmes para crianças da tal locadora era bem pequeno, achei que valia a pena dar uma nova chance aos robozões.

E que decisão acertada! Foi um desenho que me marcou muito. Tanto que eu voltei a alugá-lo várias vezes e não me cansava de assistir. Bem, algum tempo depois, o jovem nerd, já pré-adolescente, se mudou para São Paulo e nunca mais encontrou o filme em nenhuma locadora. Mas as boas memórias persistiram, guardadas com carinho.

Novo salto temporal, e o jovem nerd é agora um jovem adulto que escreve para este site. Para aproveitar o momento da chegada do filme dos Transformers em live-action, o Corrales achou que seria uma boa fazer uma resenha do longa em animação. Prontamente, me ofereci para cuidar disso, pois, motivado pelas boas lembranças de juventude, seria uma oportunidade perfeita para rever o filme (importado diretamente da Argentina) e aplacar a nostalgia. Big mistake.

Pois é, como disse lá no começo, o teste do tempo é implacável e o filme não resistiu à minha visão de adulto. A mítica construída na infância caiu, restando apenas a sensação de “era só isso?”. E assim, concluo essa pequena epopéia, passando ao que de fato interessa, o filme.

Este longa se passa entre a segunda e a terceira temporada da série de TV. E como eu não acompanhava o desenho, vou me focar única e exclusivamente no longa-metragem.

O planeta Cybertron foi dominado pelos malignos Decepticons. Os mocinhos Autobots instalaram bases nas duas luas ao redor do planeta e também um QG na Terra. No entanto, a guerra entre as facções rivais vira café pequeno com a nova ameaça que surge. Unicron, um imenso robô em forma de planeta devorador de mundos (e com a voz de Orson Welles, ninguém menos que o Cidadão Kane, em um de seus últimos trabalhos antes de morrer) se aproxima de Cybertron, forja uma aliança com Megatron, o líder dos Decepticons e só pode ser detido com a matriz de liderança, um objeto de imenso poder guardado pelo líder dos Autobots, Optimus Prime.

Então, cabe aos Autobots cuidarem dessa ameaça de proporções épicas, mesmo sofrendo baixas inestimáveis. Sim, este é o famoso filme onde Optimus Prime morre, o que me deixou chocado quando era pequeno. Como assim o líder dos guerreiros do bem morre? Esse fato simplesmente não entrava na minha tenra cabeça. Vista hoje, a morte de Optimus não é tão grandiosa quanto antes, mas ainda é bem legal.

Outro que sofre mudanças é Megatron, que, gravemente ferido na batalha que resultou na morte de Optimus, é abandonado para morrer pelos Decepticons e salvo por Unicron, que lhe confere mais poder, transformando-o em Galvatron (com a voz de Leonard Nimoy, o sr. Spock). Sua missão é destruir a tal da matriz de liderança.

E essa é toda a trama do filme. O que funcionava bem com uma criança de seis, sete anos, é apenas muito bobinho para um marmanjo de 24. Os 84 minutos de duração são preenchidos por uma batalha atrás da outra, o que, francamente, é um tanto cansativo. Mas o que me surpreendeu depois de velho é que o desenho é até bem violento. Como são robôs se digladiando, provavelmente os órgãos de censura dos EUA não viram problema. Mas só porque não há sangue não quer dizer que não seja um pouco pesado. E a contagem de corpos aqui é bem grande, incluindo, fora o próprio Optimus Prime, alguns outros personagens famosos.

Na parte técnica, o desenho até que envelheceu com dignidade. A animação, embora não seja nenhum Akira, ainda é muito boa e não passaria vergonha no meio de obras mais recentes. O que envelheceu um pouco são alguns robôs que se transformam em aparelhos de som (!) e fitas cassete (!!). Se fosse produzido hoje, provavelmente eles se transformariam em Ipods.

Vale também uma citação à trilha sonora, que fora a música-tema bem grudenta, é cheia de Hard Rocks bem típicos dos anos 80 e tem até uma música do “Weird Al” Yankovic. Obviamente, na época eu nem sabia de quem se tratava. Ah, e também vale destacar a presença do Monty Python Eric Idle, outro que empresta sua voz a um enorme robô.

Visto hoje, Transformers – O Filme é apenas um desenho muito mal desenvolvido e de narrativa bem simplória. Provavelmente até as crianças de hoje em dia achariam isso. Matou um pouco das boas memórias que eu tinha por ele, mas não conseguiu destruir todas. Não é de todo ruim e vale pelo fator nostalgia. Mas acho que essa foi a última vez que o assistirei. Afinal, vai que o resto das boas memórias vai pro saco numa nova revisada?