The House of the Dead: Overkill

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A série House of the Dead sempre teve um lugar especial no coração dos amantes dos games Z. Porém, com a morte do gênero on-rails Shooter (jogos de tiro em que você só precisa se preocupar em matar tudo que se mexe, pois o caminho é predeterminado) e os filmes do Uwe Boll, ela acabou sendo esquecida.

Felizmente, o Wii tem ressuscitado alguns gêneros mortos, entre eles os adventures e estes on-rail shooters, dois tipos de jogo dos quais sempre gostei bastante. Assim, a Sega e sua parceira Headstrong resolveram criar um novo House of the Dead especialmente para o Wii. E não apenas seria um novo jogo, mas também um novo direcionamento. Mandaram o terror ouvir Pagode e assumiram o clima fanfarrão, exagerado e divertido de um Grindhouse. E, com essa decisão, fizeram um dos melhores jogos de Wii e o mais divertido game de zumbis que eu já joguei (lado a lado com esse aqui, é claro). Sem exageros, matar zumbis nunca foi tão divertido.

O esquema você já conhece. Aponte o Wiimote para a tela, aperte B para atirar e A (ou uma chacoalhada – nem tudo é perfeito…) para recarregar. Atire na cabeça. Regozije-se com o sangue espirrando. Poucas coisas são mais satisfatórias do que um headshot neste jogo. É simplesmente lindo ver a cabeça do miolento se desfazendo em sangue enquanto pedacinhos de miolos voam para todos os lados. É tudo de uma sutileza e sensibilidade poucas vezes vista na arte mundial.

A sutileza continua nos personagens principais, a começar por Varla Guns (isso que é nome, diz aí!), uma simpática moçoila cujos seios são quase do tamanho da cabeça. O agente G já é conhecido da série, mas o destaque mesmo vai para o policial Isaac Washington. De cada cinco palavras que ele fala, pelo menos seis são alguma variação de fuck. Em uma de suas frases mais meigas e sensíveis, ele manda algo na linha de “what a motherfucker gotta do to pacify that bitch?”. Eu me recuso a traduzir isso, pois seria como traduzir a mais bela das poesias e eu simplesmente não tenho tamanha habilidade com as palavras.

Sim, o humor está presente em doses nada sutis por aqui. Para dar uma ideia do clima todo, em determinado momento você entra em um trem fantasma (como ninguém pensou em colocar zumbis num trem fantasma antes?) e rola um diálogo mais ou menos assim:

G: Isso é assustador.
Isaac: Motherfucker, é você segurando a minha fuckin’ mão?
G: É.
Isaac: Fuckin’ motherfucker! Eu não sou sua fuckin’ mãe, bitch!

Posso dizer sem medo nenhum de mentir que eu não ria tanto assim de um jogo desde o último Monkey Island. E o Isaac é capaz de competir com a caveira malvada Murray em uma competição para escolher os melhores personagens da história dos games. Já valeria a pena comprar só pelo humor, mas o jogo em si também é muito bom.

Cada fase é um filme, cada uma com títulos esdrúxulos (tipo Papa’s Palace of Pain), e você pode selecioná-las a qualquer momento, desde que já tenha passado uma vez por elas. Uma coisa que achei legal é o funcionamento dos continues. Você pode continuar quantas vezes quiser, mas ao fazer isso, perde metade dos seus pontos. Quanto mais pontos você ganha, mais dinheiro recebe ao final da fase. Dessa forma, o jogo incentiva a jogar bem, sem deixar o jogador com vontade de tacar o controle no gato.

Ao terminar todas as fases, um novo modo é liberado, o director’s cut. Nele, as fases são mais longas e mais difíceis. O lado ruim é que aqui você só tem três continues. É uma pena, pois achava o outro sistema bem mais interessante. Contudo, como você ganha bem mais dinheiro neste modo, logo vai conseguir comprar a melhor arma do jogo (a shotgun mais cara). E ela é tão absurdamente pintuda que nenhum zumbi vai conseguir chegar perto dos seus miolos – e a partir daí o jogo fica bem, BEEEM fácil.

O que deixa matar os zumbis tão divertido é que são todos zumbis true. Nada daqueles chatos que ficam se defendendo com machados, lesminhas e monstros aquáticos que davam as caras nos anteriores. Aqui é só zumbi de verdade, mano!

Claro, temos os chefes que, como sempre neste gênero, são o lado fraco do gameplay. Mas verdade seja dita, com a exceção do primeiro, eles não são tão chatos como nas edições anteriores, pois envolvem uma estratégia diferente de “aperte o botão de tiro o mais rápido possível”.

Apesar de ser um jogo deveras legal, não posso ignorar seus defeitos, a começar pelos gráficos, que são terríveis. A coisa está no nível de um jogo ruim de PS1 e bastante inferior ao de The House of the Dead 3, por exemplo. Ok, eu sei que a ideia era ser tosco, mas não estou falando de escolhas de design, mas de falta de qualidade técnica mesmo. O design é excelente, mas poderiam ter aproveitado melhor a capacidade do Wii que, embora não seja um PS3, consegue fazer gráficos legais.

Essa falta de cuidado técnico ainda é refletida em vários outros aspectos. Falta controle do jogador. Não dá, por exemplo, para aumentar o volume das vozes independentemente dos efeitos e, muitas vezes, elas ficam abafadas pelo tiroteio e pelas explosões. O jogo é extremamente escuro e não tem nenhuma forma de controle de Gamma. Para conseguir enxergar os zumbis, precisei aumentar o brilho da minha TV, o que é um saco. Além disso, o gameplay constantemente dá umas paradas, como se não fosse capaz de renderizar todos os modelos que estão na tela. Pior, teve uma vez que o personagem simplesmente parou de andar porque um zumbi ficou preso numa parede, onde eu não conseguia matá-lo. Tive que reiniciar a fase por causa disso.

O gameplay poderia receber alguns cuidados extras também. Os zumbis atacam várias vezes muito rápido e você não tem uma invencibilidade de alguns segundos entre as vidas, como costuma acontecer. Assim, enquanto você recarrega sua arma, não raro vai receber três ou quatro ataques dos miolentos – e perder as vidas correspondentes por todos eles. E por que as armas são tão absurdamente caras? Eu terminei o jogo inteiro no modo normal e só consegui comprar duas delas, pô! E isso fica ainda pior quando você percebe que nem sua grana nem suas armas são carregadas para o Director’s Cut. Tem que começar tudo de novo.

Além dos modos de jogo principais, tem também alguns minigames, mas eles são bem simples e, para ser sincero, bem ruinzinhos.

A história e o clima (com excelentes interpretações, mas com destaque absoluto ao Isaac, que merecia um filme solo) são o forte aqui, mas eles poderiam ter deixado a influência de Planeta Terror menos óbvia. Por exemplo, a abertura do jogo é a dança sensual de uma gostosa (filmada). Hey, não me entenda mal, gostosas dançando sensualmente é algo sempre bem-vindo, mas convenhamos, ela não se encaixa de forma alguma na história. Poderiam pelo menos ter feito alguma referência à Varla ser stripper, sei lá… senão fica só como um “mamãe, eu quero ser o Robert Rodriguez”.

Eles chegam até a repetir piadas do filme do Robertão. A hora que apareceu o “rolo faltando, desculpe pela inconveniência” foi o momento em que decidi que não daria o Selo Supremo para algo tão derivativo, ainda que seja tão legal e divertido.

Tem problemas, mas dá para relevarmos diante das qualidades. Penso que, se este jogo vender bem, um eventual The House of the Dead: Overkill 2 pode melhorar bastante, especialmente na parte técnica e, assim, teríamos uma excelente adição para a gameoteca de qualquer dono de Wii. Apesar dos problemas, se você tem um Wii e gosta de zumbis, você precisa comprar esse jogo. Não tem desculpa. Se você não tiver esse game na sua prateleira, você é um traidor do movimento Z. E você sabe o que acontece com traidores, né? Hum… miolos…

Curiosidades:

– A moça que dubla a Varla Guns chama Sarah Connor. Espero que o filho dela não chame John, ou eu terei que me encolher em posição fetal. O.o

– Ainda não se decidiu? Então assista ao trailer aí embaixo. Mas cuidado, pois contém imagens fortes, embora meigas, poéticas e sutis, como uma gostosa lambendo um Wiimote.


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