Sinfonia da Necrópole

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Não há como negar que o título deste filme nacional, Sinfonia da Necrópole, é bem legal. Toda vez que eu o leio, não consigo deixar de pensar em zumbis apreciadores de música clássica. Entretanto, o conteúdo desta obra não tem nada a ver com esse meu devaneio e nem é tão legal quanto seu título.

Deodato é um aprendiz de coveiro um tanto sensível demais para as exigências de tal ofício. O cemitério onde trabalha, por sua vez, está sofrendo com a falta de espaço para enterrar os presuntos. Uma funcionária dos serviços funerários é chamada então para ir ao local estudar uma forma de criar mais vagas através da construção de gavetões verticais.

Para isso, ossadas terão de ser remanejadas, túmulos abandonados terão de ser destruídos e famílias terão de ser convencidas a concordar em mover os restos mortais de seus entes queridos para as novas instalações. Deodato então é designado para trabalhar como assistente da mina dos serviços funerários.

Sem dúvida essa sinopse sugere algo diferente do que estamos acostumados a ver no cinema nacional, e é mesmo. Na realidade, poderia ser um filme bem bacana e que se destacaria da média da filmografia tupiniquim, não fosse por dois problemas. O primeiro e mais grave é ele não saber direito qual direção quer tomar.

Flerta com a comédia romântica, às vezes parte para uma comédia mais pura, dá algumas pinceladas de leve no humor negro aqui e ali e ora até adota alguns tons mais filosóficos sobre a finitude da vida. Ele atira em todas essas direções e não acerta em nenhuma, resultando em algo um tanto chocho, sem direcionamento, ainda que conte com um ou outro momento simpático. Porém, é pouco. É uma obra inofensiva, facilmente esquecível.

O segundo é um problema que me aflige desde tempos imemoriais. Delfonauta, prepara-te, temos aqui um musical. E um bem mequetrefe, por sinal. Deixando de lado meu profundo desgosto por esse gênero e analisando-o friamente, os números são fracos, as coreografias são pobres e um monte de membros do elenco não tem gogó para segurar esses momentos cantantes, o que faz com que alguns desses atos esbarrem no vergonhoso.

O pior é que fica patente enquanto se assiste que não precisava ser um musical. Nada na história pede isso. E as intervenções de cantoria são tão poucas e tão espaçadas, que até causa estranheza quando um número começa depois de tanto tempo transcorrido do anterior. Em vários momentos, eu esquecia que o pessoal cantava sem motivo aparente de tanto tempo que se passava com a narrativa normal. Ficou bem estranho.

Sinfonia da Necrópole tinha potencial para ser uma boa dramédia, acima da média da produção nacional. Mas sua falta de direcionamento e os desnecessários e toscos números musicais o arrastam para baixo, tornando-o um tanto maçante, apesar de sua curta duração.

Ainda assim, ele até tem alguns momentos agradáveis, ainda que não o suficiente para compensar seus defeitos. Para quem gosta do cinema nacional e quer ver algo diferente do que ele geralmente nos apresenta, até vale uma arriscada, mas definitivamente há opções melhores de entretenimento em cartaz.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
sinfonia-da-necropolePaís: Brasil<br> Ano: 2014<br> Gênero: Comédia/Musical<br> Duração: 94 minutos<br> Roteiro: Juliana Rojas<br> Elenco: Eduardo Gomes, Paulo Jordão e Germano Melo.<br> Diretor: Juliana Rojas<br> Distribuidor: Vitrine<br>