Persépolis

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Uma criança vive em um país do Oriente Médio que está passando por sérias mudanças políticas. Não, amigão, não se trata de O Caçador de Pipas, nem o país em questão é o Afeganistão, mas o Irã. Ainda assim, não dá para negar as muitas semelhanças entre as duas histórias. Tirando o fato de que aqui a protagonista é feminina, o resto é basicamente igual. Ela cresce em meio à revolução e depois acaba sendo mandado para o ocidente. Depois, já adulta, ela acaba voltando para o seu país de origem.

O que separa Persépolis de seu companheiro oscarizável, além, é claro, do fato de este ser uma comédia, é que sua história é contada do ponto de vista de uma menininha. Assim, temos toda a fantasia e criatividade infantil, além da fofura onipresente em quase todo filme francês. Este aspecto o aproxima do bilu-bilu Amélie Poulain e o torna muito superior ao pedantismo clichêzudo “mamãe-eu-quero-um-Oscar” do garoto das pipas.

Aliás, assim como Amélie Poulain, é justamente na interpretação infantil da realidade que reside a graça e o que torna Persépolis interessante. A garota faz suas traquinagens, conversa com Deus (e até dá uma bronca no tremendão supremo) e tantas outras coisas comuns em infantes. Algumas cenas são simplesmente hilariantes, como o primeiro contato da garota com o Rock Pesado (inclusive uma interpretação adolescente/infantil do som do Iron Maiden, que era muito semelhante à forma que eu via esse estilo de música na idade dela), seu primeiro show ou o momento em que ela cresce e se torna mulher, narrando coisas como o crescimento dos seios ou o alongamento do rosto, enquanto a animação nos mostra exatamente como ela viu essas mudanças. Outra cena muito boa é a que a protagonista sai cantando e agindo em sincronia com a música Eye of the Tiger, aquela do filme Rocky III. Infelizmente, depois que a garota vira mulher, o filme perde muito de seu apelo. Não apenas no aspecto cômico, mas mesmo a história fica mais fraca.

Também merece destaque positivo o visual. Caso você ainda não tenha sacado pelas figuras, Persépolis é uma animação. O traço é deveras estilizado e bem simples, mas é muito bonitinho. A maior parte do filme é em preto e branco e, para ser sincero, isso não me apetece muito, mas ainda assim não chega a ser um defeito e, para falar a verdade, você até esquece isso depois de um tempo.

Apesar de ser um desenho, não é um filme infantil, mas também não espere pedantismo ou devaneios intelectuais. Persépolis pode não agradar ao carinha hollywoodiano que espera que todas as animações tenham lição de amizade, mas também não é algo tão absurdamente distante disso. Em resumo, se você gostou de Amélie Poulain e gosta da fofura do cinema francês, pode comprar o ingresso sem medo.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
persepolisPaís: França/EUA<br> Ano: 2007<br> Gênero: Comédia<br> Duração: 95 minutos<br> Roteiro: Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud<br> Diretor: Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud<br> Distribuidor: Europa<br>