Sepultura – Live in São Paulo

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Sabe, caro leitor, quando você sente que foi enganado? É essa a sensação que tive tão logo terminei de assistir a esse DVD do Sepultura. Pior: gastei quase quarenta reais, o que equivale a exatamente 66,6% (Hell yeah!) da minha mísera mesada, e mais duas horas e vinte minutos da minha preciosa existência para ser ludibriado, tal qual um palhaço.

Com uma atraente arte gráfica (para enganar os palhaços) o DVD, pelo menos inicialmente, agrada. Mas esse insosso contentamento vai por água abaixo quando se observa a contracapa e se constata que, apesar de duplo, o DVD tem uma duração aproximada de 140 minutos. Você não leu errado, é isso mesmo! A sensação, que antes era de engano, agora passa a ser, literalmente, de roubo. De usurpação, de extorsão e de qualquer outra palavra do gênero que o sapiente leitor consiga achar. Você, pequeno bípede apressado, já deve estar se perguntando se não vou falar do conteúdo do DVD? Claro que sim, mas não poderia deixar de salientar tamanha safadeza e desrespeito para com os fãs, os verdadeiros sustentáculos de qualquer banda do estilo. É aquela coisa: escritor sim, mas cidadão antes.

Lançado para comemorar os 25 anos do Sepultura (contados a partir do lançamento do primeiro CD, Bestial Devastation em 1985, já que a banda surgiu em 1983), umas das bandas mais inquietas e inovadoras de que se tem notícia, o DVD Live in São Paulo (eita estrangeirismo bobo!) é uma enganação. Não pelas performances individuais e nem pela participação do rapper B-Negão, que marca presença na música Black Steel in the Hour of Chaos, criando uma salada sonora deveras interessante, que só enriquece esse pobre DVD.

Andreas Kisser, dono de criativos riffs e de timbres sujos, peca, como sempre pecou, nos seus monótonos e repetitivos solos. Igor Cavalera, um dos melhores e mais originais bateristas do mundo, executa sua função com a costumeira maestria, sempre rápido, preciso e incomum. Derrick Green, por sua vez, é o ponto fraco, musicalmente falando. Não sou viúva do Max Cavalera e nem responsabilizo o Derrick por uma possível queda no nível criativo que acometeu a banda desde a sua entrada, pois isso seria uma sacanagem. Contudo, é evidente sua falta de carisma e de agressividade, um pecado em se tratando de Thrash Metal. Paulo Jr. é um baixista correto e discreto (e existe algum baixista exibicionista?), mas que não consegue preencher o vazio deixado pela ausência de uma guitarra base, o que fica explícito, quando da participação de Jairo “Tormentor” Guedz (primeiro guitarrista da banda) em Troops of Doom e Necromancer (que também conta com a participação de Alex Kolesne do Krisiun, esse sim com uma voz agressiva e ideal para o estilo. Há ainda a participação de João Gordo, na faixa Reza.

Feitas as análises protocolares, vamos à enganação em si. Ela se faz presente na duração do show, que não ultrapassa os oitenta minutos e que é ainda menor se contabilizarmos a irritante abertura, com um falatório ufanista do glorioso Zé do Caixão. Mas aí cabe outro questionamento do capcioso leitor: eles não executam 20 músicas? Não é um número respeitável? Teoricamente sim, mas o fato é que oitenta minutos é uma duração vergonhosa para uma banda do cacife do Sepultura, não importando a quantidade de músicas. Outra questão que me irrita profundamente nos shows dos caras são os constantes medleys que estupram as canções e que, invariavelmente, envolvem músicas extremamente clássicas. Nesse DVD, o descalabro é feito com Innerself/Beneath the remains e Arise/Dead Embrionic Cells, quatro músicas da maior qualidade. Ou seja, mais uma burrada que só fortalece a sensação de roubo.

O polêmico segundo DVD não traz qualquer novidade. Traz apenas um documentário assaz mequetrefe, com legendas apenas em inglês e bizarramente narrado e filmado pelo candidato a cinegrafista Derrick Green. Com imagens dispersas, amadoras e desconexas, o documentário se baseia na visão do vocalista do Sepultura e não traz nada, absolutamente nada, de relevante. É um verdadeiro exercício de paciência assistir ao documentário inteiro, tamanha a pequenez das informações contidas nas filmagens. Um tremendo desperdício se levarmos em conta que a história da principal banda de Heavy Metal do país poderia ser detalhadamente documentada e resgatada, o que deveria ser o propósito de um DVD que comemora os 25 anos do grupo. O espaço restante do segundo disco é preenchido com os clipes de Mind War, Bullet the Blue Sky e Choke e com performances ao vivo das músicas Nomad, Desperate Cry e Territory.

Não, caro leitor, não faça como esse ingênuo escritor. Não compre esse pífio e ludibriador DVD. A não ser que você seja um palhaço ou um fanático por Sepultura. Nesse caso, é só clicar aqui. Mas o alerta está dado.

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