Sem Dor, Sem Ganho

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A primeira vez que eu ouvi a expressão no pain, no gain foi no clássico game Pit Fighter, que usava esta frase antes de você lutar com um brucutu com o dobro do seu tamanho. No título deste filme, foi a primeira vez que eu a ouvi em português, e admito que me surpreendeu quando fui fazer a ficha técnica e constatei que o nome original não era “no pain, no gain”, mas Pain & Gain. Fascinante, não?

Sem Dor, Sem Ganho é o novo filme do Michael Bay após três Transformers seguidos, feito para atender a incessante demanda por um novo filme do Rob Liefeld de Hollywood que não tivesse robôs gigantes.

Acontece que nosso amigo Miguel Baiano realmente gosta de símbolos gigantes de masculinidade, então ao invés de termos robôs que viram carros, temos tanto homem musculoso e com pouca roupa que eu pensei estar assistindo a um reboot de 300 trazido aos tempos atuais.

UMA GANGUE DE MAROMBADOS

Aqui conhecemos Daniel Lugo (Mark Wahlberg) um personal trainer que acredita em fitness e que é a única pessoa do mundo que gosta do Ken Jeong. Ele quer ser rico e, para isso, chama dois amigos musculosos (The Rock e Anthony Mackie) para raptar um ricaço desagradável (Tony Shalhoub) e obrigá-lo a entregar todas as suas propriedades e seu dinheiro.

Vou dizer, amigo delfonauta, a primeira impressão deste filme é terrível. Os primeiros minutos nada mais são do que um bando de marombados malhando e falando sobre a “América”. Pouco depois, a história até engrena e vira um bom filme com algumas excelentes piadas dando um tempero.

Porém, lá pelas tantas a história vai ficando extremamente absurda, e as reações dos personagens mais ainda. Isso faz com que a quantidade de piadas aumente consideravelmente, e chega a um nível de nonsense que chega até a lembrar algumas esquetes do Monty Python.

Tem uma hora que o troço está totalmente ridículo, daí a imagem pausa e aparece a mensagem “isto ainda é baseado em uma história real”. E foi mais ou menos por aí que eu percebi que estava rindo e me divertindo pra caramba. Ao perceber isso, fiquei ainda mais espantado quando me lembrei que estava assistindo a um filme do Michael Bay estrelado pelo Marky Mark.

Convenhamos, qual é a chance de essa dupla fazer algo que seja assistível? Bom, considerando que o Marky Mark já gostava de se mostrar fazendo musculação desde a época em que cantava dance music, talvez seja por isso mesmo. Quando você trabalha com o que gosta, seu desempenho fica melhor. Se bobear ele estava tão empolgado em malhar diante da câmera que até mostrou alguma emoção além das que ele sempre usa (confusão e irritação). Falando sério, não, não mostrou não.

No final das contas, isso até contribui para o humor do filme. O trio de protagonistas é daquele tipo que quando está preocupado com algo, pega alguns pesos para fazer uma rosca martelo. E eu nem sabia que esse tipo de gente existia.

NUNCA FAÇA SUPINO SEM AJUDA

O filme tem ainda um dos momentos mais assustadores do cinema recente, ao mostrar uma morte que eu venho temendo desde a primeira vez que pisei em uma academia. Envolve supino e uma cabeça e não vou falar mais do que isso, pois acabei de almoçar.

E veja só que coisa, Michael Bay até tentou fazer algo novo. O filme conta com a narração não apenas do protagonista, mas de quase todos os personagens. Este artifício é bastante comum na literatura, mas não me lembro de tê-lo visto no cinema antes. E talvez isso tenha um motivo, pois, apesar dos esforços da edição em mostrar a pessoa que está narrando, em vários momentos fica confuso, especialmente nas primeiras vezes em que a narração não é feita pelo Wahlberg.

Somando todos os fatores, para surpresa geral da nação, temos aqui um bom filme envolvendo tanto Michael Bay quanto o Mark Wahlberg. E se esses dois são capazes de fazer algo legal pelo menos uma vez na vida, talvez devamos dar uma chance ao Rob Liefeld ou ao Nicolas Cage? Hum… melhor não.