Paul McCartney em São Paulo (26/11/2014)

0

Escrever uma resenha sobre um show do Paul McCartney é uma tarefa difícil. Principalmente porque depois de cinco anos seguidos de turnês brasileiras, muito do que se tinha para falar do assunto provavelmente já foi dito várias vezes.

Se você viu algum dos shows que o Paul fez aqui nos últimos anos, já deve ter uma boa ideia de como foi o do dia 26, o esquema básico é o mesmo: um show gigantesco beirando as três horas, uma arranhada no português de vez em quando e algumas interações ensaiadas, como por exemplo o ‘agora só os homens/agora só as mulheres’ em Hey Jude.

Tentando adiar um pouco todo o clichê inevitável que vai ser falar do show, vou começar esta resenha um pouco antes, mais especificamente do lado de fora do recém-inaugurado Allianz Parque, em um momento em que as pessoas lutavam para decifrar uma pergunta fundamental: “Aonde eu tenho que ir para conseguir entrar nesse estádio?”.

A ORGANIZAÇÃO

Essa parte do texto vai ficar meio longa, porque muito precisa ser falado sobre a falta de organização das filas. Se você quiser pular para a parte que fala do show e de pessoas felizes, pode pular para a próxima seção do texto.

Vou começar dizendo que foi a pior organização de entrada em um evento que eu já vi. Além de os portões terem aberto aproximadamente às 19:00h, ao invés de às 17:30h, como havia sido marcado, as filas para entrar eram caóticas, não por serem longas (isso é o esperado em um show como este), mas por não terem o mínimo de planejamento necessário.

Vou falar da fila para o meu setor (a pista), pois não tive chance de observar as outras, mas espero que as coisas tenham sido melhores nelas, apesar de saber que provavelmente não foram. Para começar, não havia nenhum sinal indicando qual fila era qual, o que resultou em várias pessoas andando com cara de perdidas tendo que perguntar para as pessoas da própria fila para onde a mesma levava, e recebendo respostas tão confusas quanto as perguntas, já que a produção juntou vários setores em uma fila só para depois separá-los na frente. Isso seria resolvido com uma quantidade bem maior de staff do lado de fora, já que raramente se avistava alguém que trabalhava no evento para orientar.

Além disso, o fato de não haver sinalização de onde a fila terminava gerou uma facilidade imensa para as pessoas que queriam furar, e já que não havia funcionários perto, as pessoas da fila tinham que tentar organizar aquela massa humana disforme e impedir que ela fosse furada, o que nem sempre dava certo.

Quando os portões finalmente se abriram foi um atropelamento geral, com pessoas entrando na ‘fila’ de todas as direções, o que foi triste para quem estava lá em pé por horas e horas. Para completar, a fila ainda atravessou um cruzamento, que ninguém pensou em fechar para a passagem do público, o que gerou motoristas impacientes buzinando enquanto um amontoado de pessoas se espremia pra tentar chegar do outro lado. Alguém poderia ter se machucado seriamente ali.

Quando finalmente as filas se dividiram entre os setores em que cada pessoa iria, os próprios funcionários pareciam confusos e sem saber o que fazer, muitos deles reclamavam um com o outro sobre a visível falta de organização do evento.

Mas então depois de tudo isso, conseguimos entrar no estádio.

O SHOW DE ABERTURA

Como esse é apenas o segundo show realizado no Allianz Parque, vale dizer que é um estádio muito bonito, e as coisas estavam bem mais organizadas do lado de dentro do que do lado de fora.

O show estava marcado para começar as 21h. Aproximadamente 20h entrou o DJ que seria responsável por ‘abrir’ o evento. A única consideração que tenho a fazer é que provavelmente esse DJ é da família do Paul, porque só isso explica o fato de ele continuar acompanhando o ex-Beatle em turnê. O setlist dele se baseou em remixes de músicas dos Beatles, que na maioria das vezes faziam mais mal do que bem às canções originais. Também foi tocada uma versão em português de In My Life gravada pela Rita Lee.

Depois que o DJ (cujo nome não encontrei em lugar nenhum) terminou o seu set, começou a passar um filme nos telões que dava um resumo da vida do artista que em breve subiria aos palcos. Eu já havia visto um show do Paul, ano passado em Belo Horizonte, quando ele deu início à turnê que naquele momento estava passando por São Paulo, então já sabia que o show ainda estava um pouco longe de começar, já que esse vídeo se estende muito mais do que deveria e dura aproximadamente meia hora.

SHOW PRINCIPAL

Mas quando finalmente o show começou, com 40 minutos de atraso, a paciência de todos que estavam no estádio foi recompensada.

O show foi aberto com Magical Mystery Tour e seguiu com a nova Save Us, e apesar de todos já estarem bem animados, foi com All My Loving que a energia acumulada do público estourou, a assim começou o show com quase três horas de músicas que foram lançadas entre 1960 e 2013. A carreira de Paul é tão extensa que mesmo um show tão longo não é o suficiente para revisitar nem a metade dela.

As maiores novidades dessa nova turnê brasileira são as músicas do bom álbum New, lançado no ano passado. Dele foram tocadas a já citada Save Us, a faixa título New, Queenie Eye e Everybody Out There, e é impressionante como elas funcionam bem ao vivo, apesar de não estarem tão na ponta da língua do público quanto os clássicos. Além dessas músicas, desde o começo da turnê Out There, Paul vem tocando algumas que nunca haviam sido tocadas antes dela, como Lovely Rita ou Being for the Benefit of Mr. Kite!. Fazendo uma comparação com o primeiro show da turnê em Belo Horizonte ano passado, é notável a evolução da banda na execução dessas, além de alguns detalhes mais técnicos terem sido corrigidos, como a sincronia do solo de My Valentine com o telão que mostra imagens do clipe.

Choveu forte em alguns momentos do show, mas isso não afetou em nada nem a banda e muito menos o público. A chuva acabava se misturando com as lágrimas de muitos dos presentes, que chegavam a soluçar de emoção, no que só pode ser definido em mais um dos clichês das resenhas de shows: ‘catarse coletiva’.

Porém o mais impressionante no show do Paul é ele parecer tão atual e não deslocado no tempo. Apesar de haver músicas dedicadas a pessoas que já se foram há muito tempo (Maybe I’m Amazed para Linda McCartney, Here Today para John Lennon e Something para George Harrison) e de haver uma certa nostalgia no ar graças ao fato de a maioria das músicas tocadas terem sido escritas décadas atrás, é impressionante como o presente parece mais importante do que todo o resto. Isso é notado na execução de músicas como Hey Jude, que Paul consegue tocar pela milionésima vez sem parecer cansado ou entediado em nenhum momento.

Depois de dois bis e da clássica sequencia Golden Slumbers/Carry that Weight/The End, Paul finalmente se despediu do público pela última vez com um ‘até a próxima’ e uma chuva de confete.

O fato de Paul fazer shows tão frequentes por aqui desde 2010 já o rendeu o status de arroz de festa, além de algumas piadas nas redes sociais. O fato é que, mesmo assim, todas as vezes existe um consenso em dizer que os shows são fantásticos. Paul e sua banda (incrível, diga-se de passagem) seguem o que é combinado nos ensaios à risca.

As interações com o público são todas programadas e existe pouco espaço para improviso no show, pode ser que graças a isso alguns o considerem burocrático, porém isso também acaba deixando tudo perfeito no quesito técnico. Mesmo assim tudo é muito divertido, e se o cara continua fazendo isso depois de tanto tempo e tendo uma fortuna do tamanho da dele, não existe outra explicação além do prazer em fazer, e fazer com uma energia que falta em muitos artistas jovens que estão começando agora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de o show ter sido incrível, é importante lembrar as falhas de organização citadas na resenha, a única coisa que a separou do Selo Delfiano Supremo. Nós pagamos caro em ingressos, às vezes muito mais do que deveríamos, e o nível de organização dos eventos parece piorar ao invés de melhorar, chegando a ser desrespeitoso com a pessoa que deveria ser tratada muito bem e não ser deixada sem orientação na frente de um estádio procurando o final de uma fila que atrasa para começar a se mexer. Esse caso é ainda mais triste, pois se trata de um show extra, e mesmo assim a situação foi a que eu contei. É difícil imaginar como foram as coisas pra quem foi no dia anterior.

No mais, na falta de um encerramento melhor pra este texto que ficou muito maior do que eu esperava (obrigado se você leu até aqui), vou simplesmente copiar o setlist:

Magical Mystery Tour (The Beatles)
Save Us
All My Loving (The Beatles)
Listen to What the Man Said (Wings)
Let Me Roll It (Wings)
Paperback Writer (The Beatles)
My Valentine
Nineteen Hundred and Eighty-Five (Wings)
The Long and Winding Road (The Beatles)
Maybe I’m Amazed
I’ve Just Seen a Face (The Beatles)
We Can Work It Out (The Beatles)
Another Day
And I Love Her (The Beatles)
Blackbird (The Beatles)
Here Today
New
Queenie Eye
Lady Madonna (The Beatles)
All Together Now (The Beatles)
Lovely Rita (The Beatles)
Everybody Out There
Eleanor Rigby (The Beatles)
Being for the Benefit of Mr. Kite! (The Beatles)
Something (The Beatles)
Ob-La-Di, Ob-La-Da (The Beatles)
Band on the Run (Wings)
Back in the U.S.S.R. (The Beatles)
Let it Be (The Beatles)
Live and Let Die (Wings)
Hey Jude (The Beatles)

BIS 1:

Day Tripper (The Beatles)
Get Back (The Beatles)
I Saw Her Standing There (The Beatles)

BIS 2:

Yesterday (The Beatles)
Helter Skelter (The Beatles)
Golden Slumbers (The Beatles)
Carry that Weight (The Beatles)
The End (The Beatles)