Os Mortos-Vivos: Dias Passados

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Ah, os mortos-vivos! Eles já renderam bons filmes de terror, comédias (Uma Noite Alucinante com o Bruce Campbell), capas de discos (Live Undead do Slayer, videoclipes (Thriller do gênio Michael Jackson), jogos de videogame (o divertido Zombies Ate My Neighbors) ou o cult Stubbs). A moda ganhou bastante destaque nos anos 60, 70 e 80 com a trilogia clássica de George Romero e voltou ao topo com a refilmagem de Madrugada dos Mortos.

Os seres em decomposição já invadiram os quadrinhos também em histórias de terror insossas dos anos 50 e já era hora de um exemplar desta mídia que fizesse jus à boa reputação dos filmes. Mortos-Vivos é uma série de Robert Kirkman (criador da polêmica revista Battle Pope, mas fã incondicional de filmes de zumbi) que tenta preencher esta lacuna e trazer mais conteúdo ao universo do terror.

Logo ao abrir a revista, aquela surpresinha desagradável: uma das coisas que mais me irritam são aqueles prefácios onde o autor ou algum convidado comenta a importância da obra que você está prestes a ler. Parece uma longa massagem no ego de alguém que está tentando – no fundo – convencer a si próprio que aquilo que você está prestes a ler é muito mais importante do que de fato é. Isso aconteceu no mediano Chosen e está presente aqui, com a diferença que Kirkman não tenta persuadir ninguém, ele apenas deixa claro qual o teor e o objetivo de sua história.

Deixemos a ladainha e vamos ao que interessa: a história de Mortos-Vivos começa quando o policial Rick Grimes desperta de um coma no leito do hospital onde estava internado. Tudo parece normal a não ser pelo fato do lugar (aparentemente) estar deserto. Ao explorar o ambiente, nosso valentão se depara com, adivinhe? Sim, zumbis canibais. Daí para frente, tem de lutar pela própria sobrevivência e também descobrir o que aconteceu com a sua família.

Já sei, você leu o parágrafo acima e logo relacionou ao filme inglês de terror, Extermínio, que também fala sobre zumbis e afins. Esse começo é bem parecido mesmo, mas as semelhanças param por aí.

Para começo de conversa, podemos dizer que a história de Robert Kirkman se passa no universo apocalíptico criado pelo tremendão George Romero (mas o mestre não colabora com o gibi). Não em um ponto tão avançado como o mostrado em Terra dos Mortos, mas digamos um pouco depois do fantástico Madrugada dos Mortos, ou seja, os zumbis são como sempre deveriam ser: lentos, assustadores, tecnicamente mortos e… em busca de miolos! Nada de seres ágeis, mutações, vírus vindos de macacos ou bobagens do gênero.

Apesar de obviamente dar certo destaque para os mortos em questão, a série também segue a linha Romero ao explorar o lado sensível do caos e como os seres humanos reagem quando levados ao extremo de suas emoções. Sem adiantar muito, temos traições e suspense suficientes para agradar até o mais chato dos fãs.

O roteiro é bacana, mas tudo acontece muito rápido. Talvez eu esteja mal acostumado com as enrolações dos mangás, mas dá a impressão que Robert tinha uma ótima idéia e não teve tempo hábil de desenvolvê-la como gostaria (pressão da editora estadunidense, talvez?). Em poucos quadrinhos, Rick sai do coma, vaga pela cidade para tentar entender o que está acontecendo, mata uns zumbis, conhece uma família e já está em um acampamento improvisado convivendo com outros sobreviventes.

Um dos momentos que mais destaca isso é quando uma determinada figura morre vitima pelos zumbis e o policial faz um discurso emocionado em seu funeral. Cáspita, ele acabou de conhecer a pessoa (poucas páginas atrás) e de repente está dizendo o quanto era importante em sua vida e como seu bom humor ajudava todos ao redor. Com essa “5ª marcha”, os leitores não têm tempo hábil de realmente se envolver com os personagens.

Aliás, a cena em que todos os sobreviventes no acampamento contam um pouco de onde vieram ao redor de uma fogueira foi uma bela desculpa do autor para que pelo menos saibamos com quem simpatizar e quem não irá fazer a menor diferença no rumo da trama (e provavelmente vão virar zumbis).

Os desenhos de Tony Moore são sensacionais. O cara pode não ser tão detalhista quanto Alex Ross, mas ainda assim seus personagens são muito bem feitos e característicos. Para os fãs da escatologia, não se preocupem, pois o cara caprichou nas tripas e miolos expostos (apesar do foco da narrativa não ser esse), mas a história é em preto e branco, o que reduz consideravelmente o impacto das cenas mais fortes (que ainda são graficamente bem legais).

A versão nacional da HQM está caprichada mas mais uma vez voltamos ao assunto do preço. O produto em questão é um gibi normal, nada além disso. Não é algo luxuoso da linha Sandman, com papel especial, nem um encadernado grandão ou algo que o valha, portanto não vejo motivos para um preço tabelado de R$ 27,90. Caramba, são quase R$ 30,00 por um gibi relativamente curto (eu li em meia hora). Virou padrão agora que todo gibi adulto custe mais de R$ 25,00? Tirando este detalhe importante, é uma história acima da média que vale uma conferida.

Um detalhe importante, é que Mortos-Vivos não é uma história fechada. O volume 2 também já se encontra disponível no mercado brasileiro. Pretendo conferir em breve e divido futuramente minhas impressões com os delfonautas.

Curiosidade:

– Robert Kirkman também é a mente responsável pela série Marvel Zombies, publicada no Brasil pela Panini. A série Mortos-Vivos foi tão bem aceita nos EUA que a Marvel não perdeu tempo e logo em seguida encomendou sua própria série de terror com os personagens da Casa das Idéias.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
os-mortos-vivos-dias-passadosPaís: EUA<br> Ano: 2006<br> Autor: Robert Kirkman (roteiro) e Tony Moore (desenhos)<br> Número de Páginas: 144<br> Editora: HQM<br> Preco: R$ 27,90<br>