Os Miseráveis

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Diferente de alguns membros da nossa equipe, eu gosto bastante de musicais. E adoro literatura clássica. E também sou fã do Wolverine e da Mulher-Gato. Ou seja, esse filme tinha tudo para me agradar. Mas eu não imaginei que gostaria tanto assim.

Passado na França do século 19, Os Miseráveis conta a história de Jean Valjean, que depois de ser preso e trabalhar como escravo por 19 anos, é solto em condicional, mas não consegue se recolocar na sociedade. Redimido por uma gentileza inesperada, ele decide abandonar sua antiga vida e virar um novo e respeitável homem. Esse novo homem promete cuidar de Cosette, filha de Fantine, uma de suas operárias, mas para isso terá de fugir de Javert, o inspetor que continua a persegui-lo depois de tantos anos. E tudo isso por causa de um mísero pão que ele roubou para salvar o sobrinho de morrer de fome.

Escrito em 1862, Os Miseráveis é um dos romances mais importantes da literatura francesa, já foi adaptado várias vezes para o cinema, e no teatro é o musical que ficou mais tempo em cartaz no mundo. No entanto, a adaptação para o cinema tem uma grande vantagem sobre o teatro: o cenário. Você já vai notar desde a primeira cena que os ambientes são bonitos e grandiosos, o que dá uma nova cara a uma história que já é bem conhecida (até batida, talvez) para muita gente. Os figurinos e maquiagem também estão muito caprichados, como se espera de um bom filme de época.

DO YOU HEAR THE PEOPLE SING?

Mas um aspecto do teatro foi preservado: são os atores que carregam o filme. 98% do diálogo é cantado, e ao invés de gravar as músicas em estúdio e colocar o elenco para “dublar”, aqui todo mundo cantou ao vivo no set, o que deixou tudo mais natural e imersivo. Nos números individuais, o diretor fez questão de focar bem no rosto do ator, o que te aproxima (literal e figurativamente) dos personagens e reforça ainda mais as atuações.

E que atuações, delfonauta. Hugh Jackman está nada menos que brilhante. Eu sei que ele ganhou um Tony Award e já tinha visto alguns números dele por aí, mas aqui sua tremendice musical foi para outro nível. O cara canta demais, e o jeito que ele conseguiu fazer o Jean com um caráter impecável, mas cheio de dúvidas e inseguranças resultou num personagem carismático e admirável sem deixar de ser acessível. Melhor que ele só a Anne Hathaway, que apesar de ter bem menos tempo de tela, rouba completamente a cena. A história da Fantine é a mais triste, e ela entrega uma performance tão impactante e emocional que realmente comove. Se a cena em que ela canta I Dreamed a Dream não te der no mínimo um nó na garganta, então você provavelmente é um robô. Eu confesso que chorei, e não foi pouco.

Mas também tem um pouco de alívio cômico, graças aos Thenardier, o casal que hospeda a Cosette. Vividos pela sempre diva Helena Bonham Carter e pelo sempre impagável Sacha “Borat” Baron Cohen, eles são engraçados e odiosos na medida certa. Amanda Seyfried e o ruivinho Eddie Redmayne não estão tão impressionantes, mas também agradam. A cena do Empty Chairs and Empty Tables foi outra que conseguiu me fazer chorar. Entre esses mais jovens, os destaques foram a estreante Samantha Barks e o pequeno Daniel Huttlestone, que também vieram do teatro e parecem realmente familiarizados e confortáveis em seus personagens. O único elo fraco é o Russell Crowe. Ele nem está tão ruim, mas em comparação com os outros, acaba sendo bastante ofuscado.

Tem uma cena que eu preciso comentar, mas que acontece de ser um spoiler bem malvado. Selecione por sua conta e risco. O personagem do supracitado Huttlestone, Gavroche, que tem cerca de 10 anos, acaba morto na barricada durante a revolução. Eles mataram o menino em cena, coisa que muito filme para maiores de 18 não faz. Apesar de ridiculamente triste, foi uma decisão muito corajosa. Fim do spoiler.

LOOK DOWN, AND SHOW SOME MERCY IF YOU CAN

Para não dizer que foi tudo perfeito, há alguns defeitinhos. Certos elementos da história se repetem, e apesar de ser legal ver a mesma música retornar em situações diferentes, às vezes a repetição deixa alguns núcleos previsíveis (o do Javert, principalmente) e isso é um tanto chato. Também existem as cenas em que o diálogo não chega a formar um número musical propriamente dito, e sendo assim ficariam melhores se fossem faladas ao invés de cantadas. Mesmo depois que você se acostuma, essas cenas ainda soam um pouco estranhas.

AT THE END OF THE DAY, YOU’RE ANOTHER DAY OLDER

Mas nada disso compromete o resultado final, que é épico e muito emocionante. Se você se irrita fácil com musicais, passe bem longe, pois são duas horas e meia de cantoria. Se não se incomoda, é recomendável e vale a conferida. Agora, se você é dos que curte musicais e dramas históricos, aí é imperdível. Ou, como diria o Jean Valjean, ♪ IMPERDÍÍÍVEEEEEEL! ♫

CURIOSIDADES:

– Além de Samantha Banks e Daniel Huttlestone, mais atores do filme também já encenaram o musical no teatro. O Bispo, o avô do Marius e boa parte do grupo da barricada é formado por atores da Broadway e do West End (o bairro dos teatros de Londres).

– Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen já estiveram juntos em outro musical.

– Aquela cena do Aladdin incorporada acima foi realmente uma referência a’Os Miseráveis. E a atriz que fazia a voz da Jasmine também foi a Fantine e a Eponine na Broadway.

REVER GERAL
Nota
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Joanna Lis
Delfonauta desde pré-adolescente, se tornou delfiana oficialmente em 2012. Não consegue gostar de nada casualmente e estuda Letras só para adquirir base teórica para fazer melhor o que sempre fez por hobby: analisar obsessivamente e escrever longas dissertações sobre Cultura Pop.
os-miseraveisPaís: EUA<br> Ano: 2012<br> Gênero: Musical/Drama<br> Duração: 158 minutos<br> Roteiro: William Nicholson, Alain Boublil, Claude-Michel Schönberg e Herbert Kretzmer<br> Elenco: Hugh Jackman, Anne Hathaway, Russel Crowe, Amanda Seyfried, Eddie Redmayne, Helena Bonham Carter, Sacha Baron Cohen, Daniel Huttlestone, Samantha Barks<br> Diretor: Tom Hooper<br> Distribuidor: Universal<br>