Coletiva Logan: Hugh Jackman

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Logan é o derradeiro filme de Hugh Jackman como o personagem que o fez famoso e o consagrou. Após 17 anos e nove participações como o mutante canadense, ele decidiu que, tal qual um teletubbie, é hora de dar tchau. Até por isso ele está em pesada campanha de divulgação de sua película de despedida como Wolverine. E esta campanha o trouxe até São Paulo para uma coletiva de uma hora com a imprensa.

Isso em pleno domingão. Será que esse povo não respeita nada? Afinal, quem diabos quer acordar cedo no dia sagrado de descanso para assistir a um filme do Wolverine e depois ouvir o que o próprio tem a dizer? Aparentemente muita gente, pois a cabine de imprensa do longa estava cheia (porém não lotada) e a coletiva estava ainda mais apinhada.

Enfim, após o término da cabine, rumei para o hotel onde aconteceria a coletiva. Adentrei o grande salão preparado para o evento e peguei o melhor lugar que consegui encontrar. E ainda fiquei longe do palco, pois como já disse, tinha realmente gente pra caramba.

Poucos minutos após o horário marcado para o início, meio-dia, o jornalista Érico Borgo (que você deve conhecer do nosso site concorrente Omelete), que estava atuando de mediador, anunciou o ator, que adentrou o recinto, posou para fotos e mandou os tradicionais “oi” e “obrigado” em português.

A assessoria havia avisado que ele chegou em São Paulo às seis da manhã e deveria estar cansado, mas em nenhum momento ele aparentou isso. Foi bastante simpático, fez várias piadas e respondeu todas as perguntas com respostas elaboradas, como você lerá a seguir.

QUERIA QUE SE CHAMASSE LOGAN

Para começar, o próprio Érico lhe pediu para fazer uma reflexão sobre seus 17 anos como Wolverine e o ator retornou ao começo de tudo, relembrando como conseguiu o papel. “Houve testes em uma busca mundial (pelo intérprete para o personagem). Eu nunca tinha ouvido falar de X-Men, só sabia que havia uma banda em Sidney chamada Uncanny X-Men“. Também disse que quando contou o conceito do grupo e do personagem para sua mulher, ela achou ridículo e terminou por considerar o primeiro X-Men como o início dos filmes de quadrinhos.

Em seguida, perguntado sobre o que extraiu de Wolverine: “Sabia desde o começo que o personagem da HQ encarnava humanidade. Era o mais temido, aquele que você não quer irritar, o casca-grossa que fuma charuto, mas que sente o peso de sua história, afinal, muitas pessoas que ele conheceu morreram”.

Completou dizendo que ficava emocionado com o quanto o personagem o ensinou e que sabia que ainda havia uma história mais profunda a ser contada. Disse que ama os filmes dos X-Men, mas sentia que havia mais, um viés mais humano, por isso queria que o novo filme não se chamasse Wolverine e sim Logan.

A seguir fez uma piadinha dizendo que se sentia num leilão, pois os jornalistas que queriam fazer perguntas receberam plaquinhas numeradas. E o próximo número pediu para que ele comentasse as consequências da violência mostrada no filme. Ao que ele respondeu: “É um filme adulto. Não dá para entender Logan sem entender a violência. Quando você a comete ela fica com você”. Também citou a famosa raiva descontrolada (berserker rage) do personagem e lembrou que ele é um homem que tem sido uma arma, criado para destruir, o que no fim é bem inquietante.

Daí veio o momento mais divertido da coletiva, quando o jornalista seguinte a pegar o microfone disse que tinha dois presentes para ele, uma rapadura (tem a ver com o nome do veículo para o qual ele trabalha) e um desenho que sua filha havia feito do Wolverine. Não deixaram ele entregá-los para ele e o jornalista pediu se ele receberia através da assessoria.

Jackman cortou a burocracia e chamou o cara para entregar os mimos direto no palco para ele. Ao explicar para o australiano o que era uma rapadura, o colega de imprensa a definiu basicamente como algo doce e duro, assim como o Wolverine. Hugh curtiu isso e disse que passaria a usar essa definição para o personagem dali em diante. E ao ver o desenho da filha do cara, que retratou a clássica versão com o colante amarelo, brincou dizendo que ela se decepcionaria se o conhecesse pessoalmente, fazendo alusão ao seu porte físico.

ESSE FILME NÃO SERIA POSSÍVEL SEM JAMES MANGOLD

Voltando ao trabalho, ele comentou sobre seu sentimento com o novo filme pronto. “É doce e satisfatório, eu estava nervoso até ver o filme em Berlim com plateia (ele se refere ao Festival de Berlim, ocorrido dias antes e onde o longa foi exibido pela primeira vez para uma audiência). Estou muito orgulhoso”. Em seguida, fazendo uma analogia à paixão do brasileiro pelo futebol, chamou Logan de sua última Copa do Mundo. Também disse que estava aliviado, mas que ainda não chegou a sentir tristeza (pela despedida do personagem), mas brincou que se não conseguir mais trabalho nos próximos meses, talvez passe a sentir.

Sobre as inspirações para o novo filme, citou como a principal o faroeste Os Imperdoáveis, dirigido e estrelado por Clint Eastwood, o qual ele assistiu aos 19 anos e é importante para entender o conceito de família de Logan e disse que ele também serviu como inspiração para o arco dos quadrinhos O Velho Logan, que também possui elementos no filme.

Outras fontes de inspiração foram O Lutador de Darren Aronofsky, pelo clima de decadência de alguém que já esteve no topo e Os Brutos Também Amam, que até aparece no longa de James Mangold. Aliás, o diretor foi bastante elogiado pelo ator em vários momentos da entrevista e ele até disse que a ideia da X-23 e do Professor Xavier sofrendo de demência vieram dele, o que torna esse bando de desajustados numa longa viagem algo parecido com Pequena Miss Sunshine.

E como seria interpretar um Wolverine cansado de tudo? “Me senti cansado, física e emocionalmente. É cansativo. Logan é um bom homem de coração, mas não parece um cara legal”, citando essa dualidade como algo interessante. Também recordou as dificuldades de filmagem, pois não é fácil rodar um road movie tendo de deslocar uma numerosa equipe por grandes distâncias. Fora passar muito calor dentro do carro, por não poder nem ligar o ar condicionado para não atrapalhar o som.

Jackman também comentou a evolução dos filmes de super-heróis e o significado de Logan dentro do gênero. Ele começou dando o exemplo do crescimento de público e importância da Comic-Con de San Diego nesse período. Lembrou que a própria Marvel não ia bem das pernas antes dos filmes baseados em HQs, que a cultura nerd não era algo considerado legal, não existia o gênero de filmes de super-heróis e 17 anos depois tudo mudou.

Voltou a falar do primeiro X-Men: “Bryan Singer fez escolhas ousadas. Ele baniu HQs no set, pois estava falando de humanos e de discriminação”. Já sobre o papel de Logan no gênero: “Logan pode fazer as pessoas verem o gênero de forma diferente. Veja o que fizeram em Deadpool. E os fãs finalmente vão dizer ‘este é o Wolverine que eu queria ver'”.

E sobre o que gostaria de ver no gênero: “O inesperado, que não só faça rir, mas que comova. Os filmes que o comovem são os que ficam com você. Não pensamos nele (Logan) como um filme de HQ, pensamos nele como qualquer outro filme. Quisemos fazer um grande filme, é uma meditação sobre envelhecimento e morte, sobre o custo de se conectar (a outra pessoa), quero que este seja o filme definitivo sobre o personagem”.

QUISEMOS FAZER UM GRANDE FILME

Claro, como esta é a despedida do personagem, é natural que também surgisse o questionamento sobre o futuro de sua carreira. Jackman disse que planeja fazer de tudo um pouco, filmes menores e independentes, grandes blockbusters, teatro, mas sempre lembrando que sua família vem em primeiro lugar. E disse que no momento está fazendo um musical, The Greatest Showman, previsto para o Natal deste ano.

Perguntado sobre o que faria de diferente caso pudesse voltar ao primeiro X-Men, respondeu que ficaria em forma. “Eu trabalhei numa academia por volta dos meus 20 anos, mas nunca levantei peso, tirava sarro dos caras que ficavam puxando ferro. Achei que podia ficar em forma para o papel malhando por três semanas. Descobri que não é tão fácil assim. (O primeiro X-Men) Tem cenas onde não estou em forma.” Depois brincou com a clássica ideia de que se você pudesse voltar aos tempos de colégio, provavelmente faria um monte de coisas diferentes, mas que não adianta ficar pensando nisso. Terminou dizendo que em cada aparição sua como o personagem deu sempre 110% e isso o deixa satisfeito.

O questionamento seguinte foi sobre como lidou ao ser desbancado por uma criança (Dafne Keen) no quesito selvageria. Hugh retrucou perguntando ao repórter se ele tinha filhos e este respondeu que tinha dois. “Então você sabe como é!”, tirando mais risadas dos presentes. Depois, falando mais sério, considerou as crianças como atores natos e disse ter adorado a ideia da menina na história: “Ela é o coração do filme e Dafne é uma rockstar, ela fez um trabalho incrível. E consegue me dar uma surra em qualquer dia!”.

Com isso, chegou-se à uma hora estipulada de entrevista, Hugh Jackman agradeceu mais uma vez os presentes, que retribuíram com uma salva de palmas, se desculpou por dar respostas tão longas, o que não permitiu um número tão grande de perguntas, e se mandou tão rápido que quase deixou uma nuvenzinha de fumaça de desenho animado atrás de si. Percebe-se o profissionalismo do cara ao responder tudo com vontade e simpatia, mas não deixa de ser também algo extremamente protocolar e, se ele tivesse escolha, obviamente preferia estar fazendo outra coisa.

Seja como for, ele foi extremamente profissional, educado e mais brincalhão do que precisaria ser. E afinal de contas, é a despedida do personagem que o acompanhou por grande parte de sua carreira. Serão suas últimas entrevistas divulgando um longa do sujeito de garras de adamantium. Depois disso, bem, aí só o futuro dirá. Só sei que como eu já estava morrendo de fome, me mandei dali também bem rápido atrás do hambúrguer mais próximo. Mas isso, como dizem, já é uma outra história.

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