Os melhores filmes de 2010

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2010 terminou. E, se tem uma coisa que todo mundo faz nos finais de ano é fechar listas de melhores e piores, certo? Aqui no DELFOS, cada um de nós costumava fazer sua própria lista de melhores filmes, mas esse ano resolvemos fazer diferente. Afinal, por que privilegiar apenas cinema?

Em mais uma atitude inédita e inovadora, cada um dos delfianos resolveu fazer uma lista com os melhores da área do site para a qual mais gosta de escrever. Assim, durante as próximas duas semanas, você vai se divertir bastante com listas como “melhores CDs”, “melhores games” e até algumas coisas um pouquinho mais criativas.

Como o delfonauta dedicado sabe, a área para a qual mais gosto de escrever é cinema. Dessa forma, é natural que eu escolhesse o tradicional top com os melhores filmes de 2010.

Como sempre, vale qualquer filme que estreou no Brasil esse ano. E, como sempre, essa é MINHA lista, com filmes escolhidos apenas entre os filmes que eu vi (o que, convenhamos, é um número considerável, já que eu escrevo quase todas as resenhas de filmes do DELFOS).

Assim, ela obviamente é diferente da sua ou da dos outros delfianos que escolheram outras seções. Portanto, se você ficou bravo porque não coloquei Kick Ass na lista, dane-se faça a sua própria lista nos comentários. Afinal, essa é a graça de listas. Intro feita, vamos nessa. E a quinta posição é:

5 – Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works – EUA – 2009)

Woody Allen encontra Seinfeld. As melhores ideias são aquelas que te fazem questionar “como não pensei nisso antes?”. E, de fato, Woody Allen e Larry David combinam como ruivas e bacon ou zumbis e shoppings. Este é um filme que tem tanto a ver comigo que ainda não consigo entender como não fui eu que o criei.

O personagem principal apresenta vários pensamentos que eu mesmo já tinha sobre a vida, o universo e tudo mais e temos aqui alguns dos melhores diálogos já criados para o cinema. Só não ficou com uma posição mais alta porque a história deixou a dever, e também porque a nossa quarta posição é cinema do mais alto gabarito.

4 – A Origem (Inception – EUA – 2010)

Christopher Nolan tem uma filmografia impecável, com um filme legal atrás do outro. Curiosamente, essa é a primeira vez que ele entra na minha lista. Não é que não tenha gostado dos anteriores (gostei de todos), mas normalmente eles perdiam posições para outros lançamentos do ano.

Agora A Origem é, de longe, seu melhor filme, sem falar que é um dos mais interessantes que já tive o prazer de ver. Com direção segura, roteiro inteligente e um visual espetacular, é simplesmente impossível negar a qualidade absurda disso aqui.

Ainda assim, perdeu posições neste top por ter um roteiro que, embora excelente, acaba se confundindo e deixando algumas contradições nas próprias regras criadas para o mundo.

Acredito que este será o ponto mais polêmico dessa lista, pois tenho certeza que 97,34% dos delfonautas (e até delfianos) o colocariam na primeira posição. Mas vocês que vão ouvir pagode, pois essa é minha lista e, se ano passado foi o ano dos romances, este foi o ano da fofura. E é por isso que a medalha de bronze vai para…

3 – O Pequeno Nicolau (Le Petit Nicolas – França – 2009)

O Pequeno Nicolau está aqui para preencher as cotas de filmes cult e não estadunidenses. Na verdade, não há essa cota, mas é engraçado reparar como sempre tem um assim nas minhas listas. Fazer o quê? Eu gosto de filmes indies, ainda não reparou? Ano passado, por exemplo, foi o suíço Vitus.

Todo mundo que lê esse site sabe que sou fanboy de Asterix. Mas admito que a única outra criação da sensacional dupla René Goscinny e Albert Uderzo que conhecia era o índio Umpa Pá. Este foi o filme que me levou a outra criação de René Goscinny. Obviamente, falo do Pequeno Nicolau.

E como eu gostei, meu amigo. Temos aqui um filme engraçado e fofo, que, ao fim da sessão, nos deixa com um saboroso gostinho de infância. “E naquele momento, eu soube o que queria fazer quando crescesse. Eu queria fazer as pessoas rirem”. Poucas vezes vemos frases que falam tanto com tão poucas palavras. E poucas vezes me identifiquei tanto com um personagem fictício. Não é à toa que René Goscinny está entre meus roteiristas favoritos.

A Origem é um blockbuster com tudo que esse gênero de cinema traz de bom, e é excelente nisso. O Pequeno Nicolau é um filme mais humano, feito com muito menos dinheiro e muito mais sentimento. E, pelo menos no momento, é exatamente isso que eu procuro na arte em geral e no cinema em específico. E, nesse ponto, a medalha de bronze é pra lá de merecida. E eu ainda quero dar um abraço no René Goscinny e dizer “obrigado”.

2 – Meu Malvado Favorito (Despicable Me – EUA – 2010)

Eu sempre quis ser um supervilão. Gru, o protagonista desse filme, conseguiu isso. Ele tem um QG, lacaios e está constantemente aterrorizando a humanidade. O problema é quando aparece um supervilão com mais recursos e começa a fazer seus esforços parecerem brincadeira de criança.

A sinopse é genial e o filme idem. Sem dúvida nenhuma é o longa mais engraçado do ano e um dos mais engraçados da história. Eu ri tanto, mas tanto, que quando saí do cinema estava com a mandíbula doendo. Quantos filmes conseguem essa proeza? Pouquíssimos, sem dúvida. E os que conseguem, merecem ao menos uma posição bem alta numa lista de melhores do ano.

1 – Toy Story 3 (Toy Story 3 – EUA – 2010)

Se rir é legal, não dá para negar que é muito mais marcante quando um filme nos faz chorar. E a Pixar vem se especializando nisso. Como eu chorei em Toy Story 3, amigo delfonauta. Chorei como se tivesse passado a sessão inteira descascando cebolas. Chorei tanto que, ao sair da sala, estava desidratado.

A história do menino que precisa abandonar seus brinquedos serve como metáfora para a dificuldade em crescer, a famosa crise dos 25 que inspirou tantas outras obras por aí. E Toy Story 3 está entre as melhores sobre o tema.

E convenhamos, aquele final, ao mesmo tempo tão feliz e tão triste é uma tacada de gênio. Tente misturar comédia e drama no mesmo roteiro e você vai ver como é difícil. Mais difícil ainda é juntar esses elementos tão discrepantes na mesma cena. E Toy Story faz isso com louvor. Não dá para negar que esses caras são mestres do cinema e da narrativa. Quando eu crescer, quero fazer as pessoas rirem, mas quero fazer isso com a maestria da Pixar. E é por isso que Toy Story 3 leva a medalha de ouro de 2010. Parabéns para ela!

D&D – Decepção Delfiana: Os Mercenários (The Expendables – EUA – 2010)

Eu sinceramente podia jurar que esse filme estaria entre os melhores do ano. Quanto maior a expectativa, maior a queda, e a queda em Os Mercenários foi bem alta. Seu roteirinho pra lá de meia-tigela deixa muito claro que esse deveria ser um filminho de ação genérico que, se bobear, sairia direto em DVD. Porém, por pura sorte, conseguiram um elenco invejável, que fez fãs de Testosterona Total ao redor do mundo terem cumshots involuntários.

Mas ao invés de reescreverem o roteiro para acomodar tantas estrelas com o espaço e destaque que merecem, mantiveram o original. Resultado? Muita estrela pra pouca constelação e muita promessa pra pouco filme. Pelos comentários, parece que os delfonautas em geral gostaram, mas eu me decepcionei bastante. Eu sinceramente esperava muito mais ação, muito mais explosões e muito mais pintudice em geral.

Quem sabe a continuação, que será feita já pensando no elenco, seja melhor? Sacrifico meus bodes para isso. Potencial a franquia tem.

Menção Horrorosa – o pior do ano: Lula, o Filho do Brasil (Brasil – 2009)

Essa é a parte séria dessa lista, por isso deixei por último. Eu tenho sinceramente vergonha de o meu país ter feito um filme desses, um press-release para puxar o saco do presidente (agora ex), genialmente saindo em ano eleitoral e excluindo todos os pontos polêmicos e negativos da vida do sujeito e fazendo-o parecer mais heróico que o Superman.

Se cinebiografias já são cinema inferior (expliquei os motivos aqui), pior ainda é uma cinebiografia desonesta e puxa-saco. E MUITO pior é se essa cinebiografia for sobre o presidente do país ENQUANTO ele ainda está no poder.

O simples fato desse filme ter sido realizado é nojento e, mesmo analisando-o apenas como cinema, ele ainda é péssimo, inferior até mesmo às outras cinebiografias (todas, via de regra, ruins), pois pelo menos os protagonistas delas costumam ter alguns defeitos. Você sabe, como as pessoas reais que deveriam ser. E não digo isso por qualquer antipatia em relação ao cinebiografado. Se fosse algum presidente que eu realmente apoiasse e gostasse, também ia me incomodar. Você simplesmente não faz um filme para puxar saco do seu presidente. Isso não é arte, é busca de benefícios. E ISSO é nojento.

Pior ainda foram os comentários na resenha, como um que diz que eu deveria analisar o filme como filme, e só. Em anos de DELFOS, acredito que alguns dos comentários nessa resenha me incomodaram mais do qualquer coisa vinda de trües from hell.

O problema é que Lula, o Filho do Brasil, não é simplesmente um longa, é algo muito maior que isso. E foi avaliado como tal, até porque como obra cinematográfica ele é péssimo e não teria muito a ser dito que já não tinha sido dito antes em outras resenhas de cinebiografias (e o que tinha, foi dito).

Os comentários me incomodaram (e ainda me incomodam ao relê-los) porque parece miopia que o público não veja isso, não perceba o precedente extremamente perigoso que isso abriu para o nosso cinema e para a nossa política e acham lindo que seja feito um filme puxando saco do presidente só porque gostaram do mandato do cara.

É como o true que vai num show e, embora o cantor desafine pra caramba, ele não aceita isso e xinga quem disser o contrário. É preciso separar as coisas: você pode gostar do governo do sujeito, mas não gostar que um filme com essa proposta tenha sido feito. Os comentários me decepcionaram por não conseguirem separar as coisas, e especialmente por terem vindo do próprio público do DELFOS (pessoas que já tinham comentado antes e continuaram comentando depois), não de pessoas genéricas de um fórum.

Se você gosta do mandato do cara, você faz uma matéria jornalística/opinativa sobre isso, não um filme pretensamente contando a vida dele, mas excluindo todos os erros cometidos pelo sujeito (incluindo muitos destes erros indo exatamente pelo caminho que o cinebiografado criticava, como a censura), tentando transformá-lo no maior bastião de honra e dos bons costumes desde o Superman.

Eu considero, sim, esse filme um precedente bastante perigoso (aguarde, você vai ver que outras obras sobre presidentes vão sair) e acho que é minha responsabilidade expor minha opinião na crítica. E além disso, temos uma outra matéria, que você pode ler aqui, onde eu apresento apenas a opinião dos criadores do filme, sem meter o bedelho em nada. Nada mais justo que faça uma outra matéria expondo a minha opinião. Leia as duas e forme sua própria, mas respeite todas.

No final das contas, Lula, o Filho do Brasil está aqui por ser cinema da pior qualidade. Analisando como cinema, é uma porcaria tão ruim que nunca deveria ter sido lançada. Analisando como propaganda política, é um precedente tão perigoso que deveria ser ilegal. Veja só, estamos num país em que as pessoas desligam a TV quando começa o horário político, mas pagam 20 reais pra ver um press-release na tela grande. Definitivamente, eu não entendo o brasileiro.

Mas como todo o resto nesse texto, essa é minha opinião e eu nem pretendia escrever tudo isso sobre esse filme quando comecei a redigir esta matéria. Se você acha lindo cineastas famosos fazerem longas sobre nossos presidentes, vai fundo, compre seu ingresso e faça comentários falando como a crítica de cinema do DELFOS é sofrível.

Isso já aconteceu antes na história, e foi com uma das melhores cineastas de que se tem notícia, até hoje estudada em todas as faculdades de comunicação que existem. Ela se chamava Leni Riefenstahl e seus filmes, como cinema, faziam miséria com o assunto desse tópico. Então vamos todos assistir a O Triunfo da Vontade e achar lindo cada passo que coloque o Brasil mais próximo disso. E vamos analisar esses filmes apenas como cinema, não como as mensagens que eles estão passando. Afinal, esse é o papel de um jornalista. Não é levantar assuntos para reflexão, ou mesmo dar uma opinião sincera, é só dizer se você deve ou não comprar o ingresso. Quem quer pensar, afinal de contas?

A sociedade que não lembra da sua história está condenada a repeti-la. E é isso que o Brasil começou com este longa. E o povo, assim como aconteceu na Alemanha, aplaude. A voz do povo é a voz de Deus. E isso me dá vontade de virar ateu.

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