Os fantasmas do passado e a promessa do futuro

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Antes de você começar a ler, um aviso amigável: o texto abaixo é provavelmente o mais pessoal da história do DELFOS. Se isso não lhe apetece, ainda está em tempo de parar de ler.

Adeus, ano velho!
Feliz ano novo!
Que tudo se realize
No ano que vai nascer!
Muito dinheiro no bolso,
Saúde pra dar e vender!

O amigo delfonauta sem dúvida conhece essa musiquinha. Afinal, todos a ouvimos repetidas vezes ano após ano. Aqui no meu bairro, tinha até uma tradição. Todo ano, no dia 31, um grupo de velhinhos andava pelas ruas tocando essa música em cornetas e instrumentos semelhantes. Todo ano, desde que eu moro aqui. Em 2012 não. Foi o fim de uma tradição, algo que tinha acontecido sem falta ao longo dos últimos 20 anos da minha vida.

Veja bem, não é como se eu tivesse algum afeto especial por essa tradição. Quando eles passavam, eu não começava a correr em círculos e gritava “ei, os velhinhos estão passando, vamos para a janela assistir”. Eu simplesmente pensava “os velhinhos estão passando”. Era só algo que acontecia. Este ano não. Não sei o que aconteceu. Eles podem ter se mudado, morrido, ou simplesmente não ter mais as condições físicas necessárias para caminhar pelo bairro inteiro. Provavelmente eu nunca vou saber. Mas por mais banal que a festividade dessa turminha tenha sido na minha vida, era algo que sempre estava lá, que permeou meus réveillons desde a adolescência, e isso te marca de alguma forma.

O fim do mundo infelizmente não aconteceu. Se você se interessa por misticismo em geral, ou conhece pessoas que se interessam, sabe que elas falavam que o que aconteceria/aconteceu no último dia 21 de dezembro foi a transição para uma Nova Era.

Independente de qualquer transição mística, ou até mesmo por causa dela, o fato é que a minha vida vai mudar muito em 2013, como resultado de algumas coisas nas quais eu venho trabalhando há alguns anos. Assim, para mim, realmente o clichê de que 2013 é o primeiro ano do resto da minha vida se aplica. Este ano as coisas vão mudar, para melhor. E por estar a pouco de passar por uma mudança radical na minha vida, tanto pessoal quanto profissionalmente, eu naturalmente comecei a pensar no passado. Começou com a ausência dos velhinhos festivos, e poucas horas depois continuou com o retorno de uma pessoa dos confins mais remotos da minha adolescência.

O FANTASMA DAS NAMORADAS PASSADAS

Era a noite do dia 31, e eu estava com a minha família e com a família da patroa, como fazemos todo ano. A TV estava ligada em um dos canais abertos. Você sabe, aqueles que a gente nunca assiste, mas acaba deixando sintonizado lá porque as visitas gostam. Estava passando um jornal. De repente, em uma das matérias, aparece uma repórter com um rosto conhecido. O nome popa na tela e confirma. Era ela. Uma ex-namorada.

Na verdade nem namorados fomos oficialmente, mas é mais simples chamarmos assim. Nosso turbulento relacionamento estava mais para uma aglomeração de rolos interrompidos e retomados várias vezes no decorrer de alguns anos. De saudável não tinha absolutamente nada. Mas ela era bonita, e isso basta para um adolescente com os hormônios em polvorosa. A julgar pelo que vi na TV, ela ainda é bonita. Dificilmente estaria na telinha se não fosse.

Porém, se eu não a conhecesse, nada mais chamaria a atenção. A matéria era sobre um tema banal, e a apresentação dela era totalmente dentro dos padrões da TV aberta. Se não fosse aquele rosto que tanto torturou meu coração mais de uma década atrás, eu jamais ligaria a personalidade que tenho guardada na memória àquela moça bonita que estava na televisão. Isso porque a memória que eu tenho dela é que aquela garota era pura maldade. E não digo isso por ser uma ex-namorada. Uma outra ex que já citei aqui, aquela da resenha de Titanic, também partiu meu coração, mas eu jamais diria que ela era uma pessoa do mal. Muito pelo contrário, aliás. Agora essa da TV era realmente digna de inspirar uma canção do Iced Earth.

É uma sensação bem estranha ver alguém que foi importante na sua vida num passado distante, alguém em quem você não pensava há anos, de repente aparecendo na TV. Não apenas isso, mas tendo a mesma profissão que você. Anos atrás, quando estava cobrindo o Meu Prêmios Nick, tinha uma garota na sala de imprensa que me lembrou a dita cuja. Claro, no evento, não tinha certeza, e achei que seria coincidência demais. É o tipo de coisa que em um roteiro seria considerado um furo. Mais de cinco anos se passaram desde então, e agora que sei que ela também é jornalista, caramba, acho que era ela mesmo! Realmente a vida é mais estranha que a ficção.

500 DIAS COM ELA

Embora eu nunca tenha escrito aqui uma resenha do filme 500 Dias Com Ela, o delfonauta dedicado sabe o quanto gosto dele. Após assisti-lo pela primeira vez, fiquei um tempo em silêncio relembrando dos meus relacionamentos passados. Obviamente, a moça em questão foi a mais proeminente nessa restropectiva, pela semelhança com a história do filme. Como eu disse, não era um relacionamento saudável, e ao longo de suas idas e vindas, eu passei bem mais do que 500 dias com ela. Essa provavelmente tinha sido a última vez que tinha pensado na moça, até vê-la na TV na última segunda-feira.

Senti muitas coisas diferentes ao vê-la ali. Nada romântico, tenha certeza. Ela definitivamente é uma pessoa que eu não quero mais na minha vida, e estou em um relacionamento muito mais saudável agora. Mas ainda assim, lembrei de alguns poucos bons momentos, assim como dos muitos péssimos. Pensei como seria bizarro se ela crescesse na carreira de repórter televisiva e se tornasse âncora de algum grande jornal, apresentadora do Big Brother, ou o que quer que seja que jornalistas fazem na TV aberta. E se ela se torna realmente famosa um dia? Ia ser deveras estranho.

Admito, até senti uma pontinha de inveja. Nunca sonhei em ser jornalista televisivo, e sempre fui mais de procurar meu próprio caminho e trabalhar por conta própria, não para os outros, mas é fato que os jornalistas da TV são os que têm os melhores salários em uma profissão totalmente desvalorizada. E você sabe, dinheiro nunca é demais. Especialmente durante as transições que estou vivendo neste momento. Tê-la visto na TV incitou pensamentos tão díspares que até mesmo a verossimilhança do karma entrou na discussão que tive com meu eu interior.

FATHER TIME

Walking down the path that leads me to my memories
Pacing all the way without a care in my stride
Where are the friends of my yesterday
have they moved on with their lives
Can we still laugh and joke about things like before

Este é um trecho da letra de Father Time, do Stratovarius. Tem bastante a ver com o que senti durante a noite do dia 31. A minha vida, e a dessa misteriosa repórter televisiva, que vai continuar misteriosa por toda a duração deste texto, se cruzaram e andaram juntas durante algum tempo. Eu segui o meu caminho, e ela seguiu o dela. Eu lembro dela como uma pessoa horrível, mas talvez ela se lembre de mim da mesma forma. Afinal, eu sei que estou muito longe de ser a melhor pessoa do mundo. E talvez ela esteja completamente diferente, e hoje nós de fato nos daríamos bem melhor do que naquela época.

E aí vem a dúvida: por que ela voltou à minha vida justamente neste momento? Um momento em que uma tradição morre (os velhinhos músicos, lembra deles?), e a minha vida está passando por mudanças que eu venho almejando há muito tempo. A minha cabeça está totalmente focada no futuro, e de repente este fantasma do passado volta, não para me assombrar, mas apenas para me fazer lembrar e refletir sobre algumas coisas. E exatamente no mesmo dia que uma tradição antiga deixa de acontecer, provavelmente para nunca mais voltar.

Junte a tudo isso a tal transição de eras que os místicos falam que aconteceu no dia 21, e temos aí um belo de um mindfuck, suficiente para justificar um texto. É coisa demais acontecendo ao mesmo tempo, tudo relacionado a tempo, seja passado ou futuro. É impossível não pensar que o universo está querendo me dizer alguma coisa.

Obviamente, eu não vou saber exatamente o que é. Posso apenas refletir sobre isso, como tenho feito nos últimos dias e no texto que você está acabando de ler, e provavelmente está percebendo agora, ao se aproximar do fim dele, que não vai chegar a lugar nenhum. Exatamente como meu relacionamento com a ilustríssima repórter de TV. Ou como a própria vida.

Talvez o passado tenha voltado à minha vida justamente para me lembrar de lições que vou precisar no futuro. Afinal, é verdade que a pessoa que somos hoje é a soma das experiências que vivemos no passado com o que desejamos para o futuro. Ou talvez seja simplesmente simbólico da mudança de eras. O antigo (a namorada, os velhinhos) dando lugar ao novo, aos planos que eu venho trabalhando por tanto tempo para realizar.

2013 vai ser a culminação de muitas coisas pelas quais eu venho trabalhando na minha vida. É claro que boa parte delas não te afetam de forma alguma, mas é igualmente claro que se você acompanha meu trabalho, também vai curtir várias novidades, entre elas a Anarquia. Aliás, se você acompanha o DELFOS já sabe que, se tudo der certo, no próximo dia 19 de janeiro, nosso aniversário de nove anos, muita coisa vai mudar por aqui. Aliás, se você é um cara ligado, já percebeu as várias referências que fiz neste texto em relação a isso. Se não percebeu, leia de novo. Afinal, começo de ano não tem muita coisa para fazer mesmo.

E você? Alguma coincidência bizarra como essa aconteceu na sua vida nesta tal transição de eras? Conte-me nos comentários ou, se desejar, me mande um e-mail.

Um feliz 2013 para todos os delfianos que me acompanham neste árduo trabalho rumo à dominação global, e especialmente para todos os delfonautas, novos ou antigos, que tornam este trabalho mais gratificante com cada comentário, e-mail e, principalmente, com cada link nosso que compartilham internet afora.