O Lutador

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A luta livre é um troço engraçado. Todo mundo sabe que é marmelada, e é exatamente por isso que é divertido. Convenhamos, se um caboclo pula num sacripanta daquele jeito com a intenção de machucar, a possibilidade de o sacripanta continuar vivo é mínima.

Esse clima de diversão, de Testosterona Total ao vivo, está presente em O Lutador. Ver o protagonista combinando com seus adversários os golpes que serão dados e depois ver isso em ação é deveras engraçado, sem falar aquele clima “mamãe, olha como eu sou macho”, que faz o cara pegar uma cadeira da platéia e bater com ela em si mesmo ou então usar um grampeador no próprio peito.

Porém, embora tenha esse lado bem engraçado no filme, aqui conhecemos o lutador “Ram” (traduzido nas legendas como carneiro), já 20 anos depois do seu período de glória e longe de suas grandes lutas. Durante seu apogeu, ele apareceu em jogos de Nintendinho e até bonequinhos foram feitos com a sua imagem. Hoje, ele trabalha em um supermercado, passa as noites em uma boate xavecando a stripper Marisa Tomei (que ainda é linda, apesar da crueldade do tempo) e se diverte nos finais de semana socando uns maninhos no ringue.

Logo, porém, ele sofre um ataque cardíaco e o médico o proíbe de lutar. Se você já assistiu a qualquer oscarizável de esportes, já deve imaginar exatamente como são os últimos minutos do filme, bem como as conseqüências da decisão do cara, certo? E é exatamente neste terceiro ato que a coisa começa a desandar.

Sério, até então, estava um filme realmente muito legal, e eu podia jurar que levaria no mínimo quatro Alfredos e meio. Porém, depois que o cara briga com a filha, parece que o roteirista desencanou de criar algo legal e clichezou total o filme. A última luta, que atualiza a briga EUA X Rússia de Rocky IV para EUA X Oriente Médio, chega a ser constrangedora. O estadunidense chega até a quebrar a bandeira adversária.

Mas o pior mesmo é o final – tipo o último segundo. Lembro um episódio de Uma Família da Pesada em que o cachorro Brian está levando um cego ao cinema e descrevendo Bruxa de Blair. Ele fala algo tipo: “Estão procurando uma bruxa. Procurando, procurando. Acabou. As pessoas da platéia parecem bravas”. Selecione abaixo se quiser ver como o Brian descreveria o final de O Lutador.

Eles estão lutando, lutando, lutando. Acabou. As pessoas da platéia parecem bravas.

Pois se parece que o roteirista desencanou de criar na última parte do filme, com esse final parece que ele simplesmente mandou um “screw you, guys, I’m going home” para o diretor. Cacildis, isso é um roteiro incompleto! Do nada, aparece o nome do tradutor e as luzes se acendem. Todos os jornalistas na sessão começaram a se olhar tentando entender e, a partir daí, alguns começaram a rir de um final tão ridículo enquanto outros pareciam realmente bravos. Sério, é o pior final desde Bruxa de Blair e talvez um dos piores do cinema – simplesmente porque é inexistente. É como se tivessem cortado a luz da sala durante a projeção, com a diferença que rolam os créditos.

Aliás, é até curioso que o enigmático e chato Darren Aronofsky faça um filme tão clichê e comercial. Mas até aí, o David Lynch também fez O Homem Elefante. Acho que mesmo os diretores pentelhos têm que pagar contas eventualmente filmando coisas que façam algum sentido.

Esse final e o último ato são tão ridículos e frustrantes que arruinaram tudo que o filme fez de bom antes, em especial toda a simpatia do protagonista (fala sério, não dá para não gostar daquele cara!). Depois de ver o filme completo, fica difícil indicá-lo para qualquer pessoa que seja, fã de oscarizáveis ou não.

FIM DA RESENHA – INÍCIO DA PD

Se tem uma coisa que esse filme tem de absurdamente excelente é a trilha sonora. São tantos clássicos do Hard & Heavy oitentista e tanta música que eu gosto junta que parece que fui eu quem montou a seleção. Sem falar um diálogo que é simplesmente o melhor desde que o Bill explicou para a noiva a diferença entre o Superman e o Homem-Aranha. Se você quiser saber mais ou menos como ele é, selecione abaixo.

– Não fazem mais músicas como antigamente.
– É, os anos 80 detonaram. Guns N’ Roses.
– Crüe, Def Lep.
– Daí veio aquele babaca do Cobain e acabou com tudo.
– Como se fosse um pecado se divertir.

Não é genial? Embora nada do Nirvana nunca tenha me agradado, eles não me parecem uma banda pretensiosa, que queria mudar o Rock ou algo do tipo. Eu sinto que eles compunham o que gostavam ou o que queriam dizer. Porém, é fato – eles mudaram a cara do Rock. E, se o seu gosto é parecido com o meu, dá até para dizer que o Nirvana estragou o Rock.

O que eles falam é verdade, hoje não existe nada de divertido no Rock. Nem o Van Halen, bastião máximo da diversão, resistiu à depressão pós-Nirvana que assolou a arte, não apenas a música (nem filmes divertidos a turminha faz hoje – e talvez o Nirvana tenha sido o pontapé inicial para isso). E mesmo as poucas bandas de Hard Rock que existem hoje, tipo o Pink Cream 69 são muito mais sisudas do que os presepeiros do Hard Farofa dos anos 80.

Minha library do iTunes conta com sete mil músicas. Dessas sete mil, acredito que uns 30% devem ser dos anos 70 e uns 60% dos 80. O restante se divide entre todas as outras épocas e, considerando que eu tenho bastante coisa de música clássica do século XVIII, tem bem pouca coisa de 1990 para cá.

Tudo isso para dizer que eu concordo que não se faz mais música como antigamente. E o Kurt Cobain que ouça muito Pagode no inferno por ter acabado com o Rock ‘n’ Roll. Bom, pelo menos eu imagino que ele esteja no inferno, considerando que o cara se matou e isso é um pecado grave.