O filme Neve Negra vem fazendo o maior sucesso internacional, o que não é especialmente comum entre os filmes argentinos, mesmo o cinema dos hermanos sendo comumente reconhecido por sua qualidade.

Diante de tamanho sucesso, o diretor Martín Hodara veio para o Brasil tomar um guaraná e aproveitou para se encontrar com a imprensa brasileira lá no Shopping Iguatemi. Na conversa, que durou pouco menos de uma hora, aprendemos o seguinte.

SETE ANOS NO TIBET

O roteiro de Neve Negra foi finalizado sete anos atrás, e é o resultado da obsessão do diretor em contar uma história com poucos personagens e em um ambiente isolado. Suas influências são claras, segundo o próprio: Sam Raimi e Fargo.

Levar o roteiro para a tela grande foi bem difícil, mas não por filmar no meio da neve, com temperatura abaixo de zero, mas sim porque conseguir dinheiro é sempre muito difícil. Uma solução comum na Argentina é fazer os filmes em co-produção com a Espanha, e este foi o caminho seguido aqui. Com isso, boa parte da equipe é espanhola. Sim, eu sei o que você está pensando… Hum… espanholas…

Demorou tanto para Martín conseguir juntar o dinheiro necessário que ele nem se preocupou com as vicissitudes da temperatura. Eles estavam tão felizes de estar fazendo o filme que nada mais era um problema. O ator Leonardo Sbaraglia, no entanto, diria outra coisa. “Ele é um drama king”, exclamou o diretor, em tom de brincadeira.

Namore alguém que olhe para você como o Martín olha para o nada. Foto: Carlos Eduardo Corrales

A ÚNICA ESTRELA LATINOAMERICANA

Trazer o filme para o Brasil não foi assim exatamente um sonho realizado para Martín. “Não sei o acordo ou como rolou, sou apenas o diretor. O que sei é que alguém viu e quis trazer. Provavelmente por causa do Ricardo Darín. Ele é a única estrela latinoamericana, capaz de levar multidões aos cinemas”. Para backear esta polêmica declaração, ele até contou uma historinha.

Segundo nosso amigo diretor, parece que o Robert DeNiro foi para a Argentina e quis conhecer o Javier Bardem, que ele acreditava ser a grande estrela hermânica. “Nananinanão”, disse Bardinho. “A maior estrela por aqui é meu camarada Ricardo Darín”.

Há uma cena bem marcante no filme que envolve passar da época atual para um flashback via plano sequência. A cena é bem legal, e é óbvio que perguntaram dela, e a forma que ela foi filmada é bem engraçada. Enquanto a câmera girava, tinha 20 pessoas que ficavam mudando os objetos de lugar para criar o cenário. Depois que conseguiram filmar, a equipe inteira estava bem empolgada para ver o resultado final, e não é por acaso.

Mas, Martinho, diz aí, você considera este um filme de terror, um suspense, o quê? “Cara, para mim sempre foi uma tragédia. Mas por razões comerciais, a gente diz que é um thriller”, contou o diretor.

Foto: Carlos Eduardo Corrales

PIRATAS DO CARIBE É UMA MERDA

Se você achava que só o Brasil tinha leis de incentivo bizarras, se liga no que o diretor contou da Argentina. Parece que lá, se um filme argentino tiver uma certa bilheteria naquela semana, ele simplesmente não pode ser tirado de cartaz. Ora, precisa de uma lei para isso? Parece óbvio que se o troço está dando dinheiro ninguém vai querer tirar. “É, mas os exibidores ficam loucos para tirar os filmes argentinos de cartaz para colocar o próximo Piratas do Caribe. Aliás, que filminho de merda esse, né? Eu assisti e até me diverti, mas é uma porcaria”, desabafou Hodara. O diretor também ficou um bom tempo criticando o público de cinema atual, que assiste qualquer coisa que está no Netflix, o que pode ser legal, mas não são clássicos.

Voltando a Neve Negra, para o diretor a verdadeira protagonista é Laura, interpretada pela atriz Laia Costa. “Afinal, ela é a única que muda no decorrer do filme, característica vital de um protagonista. E o que é curioso é que ela começa nas luzes e vai em direção às trevas”, comentou, orgulhoso, nosso novo amigo. E completou: “Meu maior orgulho é que eu fiz um filme sem beijos. Há exatos zero beijos em Neve Negra”.