Maravilhoso Boccaccio

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Maravilhoso Boccaccio me lembrou aqueles filmes que de vez em quando eram exibidos no colégio, com o intuito declarado de dar uma variada no tipo de aula, mas que na verdade apenas queria dizer que o professor estava com preguiça de trabalhar naquele dia.

Você se lembra deles, eram em sua maioria chatíssimos e, ou causavam uma sonolência incontrolável, ou fazia a molecada ter vontade de fazer qualquer outra coisa, exceto estar na frente da tela.

Este aqui começa na Florença do ano de 1348. A peste negra está bombando, matando todo mundo, o que faz um grupo de jovens buscar refúgio numa casa de campo. Lá, para matar o tempo, eles passam a se revezar contando histórias, a maioria delas tendo o amor como tema central.

As histórias em questão são adaptações livres de narrativas do Decamerão, do escritor Giovanni Boccaccio, assim explicando o nome da película, e assim tornando este filme elegível para ser exibido numa aula de literatura de colégio. Manja o filme de arte que plenamente justifica todos os sentimentos negativos que se possam ter quanto ao gênero? É o caso aqui.

O longa é chato, parado, arrastado, sonolento e pretensioso. E como ainda é uma espécie de antologia, some-se a irregularidade das variadas histórias a essa singela lista de defeitos. Eu só não dormi na metade porque eu simplesmente não consigo mais dormir de dia. Senão, você provavelmente leria a resenha de meia hora de filme e só.

Tecnicamente ele é até bonito. A caracterização de época está caprichada, embora não seja uma superprodução. Os cenários, especialmente as belas paisagens campestres, castelos e outras construções antigas, figurinos e fotografias são o que se salvam. Mas é só isso mesmo, a parte técnica, aquilo que não atrai o público normal ao cinema.

Quanto às histórias, salvam-se algumas, como a dos pintores, que lembra o humor de Chaves, a do convento e a do sujeito do falcão e só. Ainda assim, não são relatos memoráveis. São apenas os menos chatos de todos, o que neste caso, acaba ajudando a não olhar para o relógio a cada cinco minutos.

Os irmãos Taviani são diretores bastante elogiados nos círculos do cinema mais artístico e alternativo. Mas, a julgar só por este filme, eu realmente não entenderia porque tantas láureas. E olha que eu não tenho nada contra esse tipo de cinema, até gosto de muita coisa desse nicho. Então não posso nem dizer que eu não sou o público ideal deste trabalho.

Maravilhoso Boccaccio não diverte, não faz pensar e não amplia horizontes. Em suma, não tem o menor propósito. Sendo assim, não recomendo isso para ninguém. Mas para a galera que ainda está na escola, é bem capaz que num futuro próximo você se depare com ele em alguma aula, com propósitos didáticos. Neste caso, encoste a cabeça na carteira e sonhe com algo melhor, meu amigo.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
maravilhoso-boccaccioPaís: Itália/França<br> Ano: 2015<br> Gênero: Dramédia<br> Duração: 120 minutos<br> Roteiro: Paolo Taviani e Vittorio Taviani<br> Elenco: Lello Arena, Paola Cortellesi e Carolina Crescentini.<br> Diretor: Paolo Taviani e Vittorio Taviani<br> Distribuidor: California Filmes<br>