Kick-Ass – Quebrando Tudo

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O que aconteceria se os super-heróis existissem no mundo real? Com certeza, qualquer fã de quadrinhos já se fez essa pergunta em um ou outro momento. E a própria indústria das HQs já tentou responder tal questionamento. Alan Moore, por exemplo, mostrou os possíveis efeitos históricos e sociais na obra-prima Watchmen.

E, recentemente, Mark Millar se concentrou no lado pop, juvenil e sem noção em Kick-Ass – Quebrando Tudo, cuja adaptação pelas mãos de Matthew Vaughn (de Stardust – O Mistério da Estrela) finalmente chega aos nossos cinemas.

Sem a pretensão de revolucionar o modo como se pensa quadrinhos, como fez o trabalho de Moore, ou mesmo as adaptações cinematográficas de gibis (como a própria versão filmada de Watchmen), o filme de Vaughn apenas parte de uma ótima premissa para entregar um excelente Testosterona Total que homenageia em grande estilo o universo dos comics.

Dave Lizewski (Aaron Johnson) é apenas um adolescente nerd normal (se é que isso é possível) que um dia pensa em algo até um tanto óbvio: com tantos leitores de quadrinhos por aí, era de se imaginar que algum dia alguém tentasse imitar um super-herói na vida real, algo que nunca aconteceu. Isso até o próprio Dave resolver assumir a tarefa. Assim, ele compra uma fantasia pela internet, arma-se com dois cassetetes e, desta forma, nasce Kick-Ass, o primeiro vigilante uniformizado da vida real na narrativa fictícia (uau, escrever isso foi bizarro).

Mas logo ele descobre porque tal fato nunca aconteceu antes, numa cena carregada de humor negro. Essa, por sinal, é uma das melhores características do filme e um de seus elementos mais marcantes: não ter a menor dó com seus personagens, sejam eles principais ou secundários.

Após perseverar um pouco mais e virar um fenômeno da internet (outro ponto alto da trama, um super-herói fruto do YouTube e das redes sociais), ele conhecerá a dupla “for real” Big Daddy (Nicolas Cage, finalmente quebrando uma sequência tão grande de filmes ruins que muitos leitores mais novos desse site provavelmente nem sabem que um dia ele já foi um bom ator) e Hit-Girl (Chloë Grace Moretz, excelente), bem como Red Mist (Chistopher Mintz-Plasse, o lendário McLovin, de Superbad).

E, como nenhuma boa ação passa impune, os recém surgidos heróis logo chamarão a atenção do poderoso traficante de drogas local, Frank D’Amico (Mark Strong), que vai empreender uma grande caçada para varrê-los do mapa. E com isso concluo uma das mais longas sinopses já apresentadas no DELFOS.

O filme alterna momentos típicos das melhores comédias teens (geralmente quando Dave está sem a máscara), cheios de bom humor e referências nerds, com sequências de Testosterona Total de cair o queixo, filmadas com muito estilo e violência desenfreada.

E sim, a maioria dessas cenas é protagonizada pela pimpolha Hit-Girl, que, de fato, é a melhor coisa do filme. Uma psicopata em miniatura com a boca mais suja que a de um marinheiro (a piada em cima do batsinal é ótima), você vai acreditar sem nenhum problema que uma menina de onze anos consegue mesmo assassinar uma sala cheia de capangas da máfia munida apenas de uma faca e uma pistola.

Excelente trabalho da atriz mirim Chloë Grace Moretz. Tanto que, após assistir esse filme, você possivelmente terá pesadelos toda vez que cruzar com alguma menininha pré-adolescente.

Aliás, o filme não faz nenhuma concessão, nem mesmo para a modinha irritante do politicamente correto, e isso, para uma produção de Hollywood, é um grande mérito. Pois é justamente dessa falta de noção que está tudo que o filme tem de bom: a violência exagerada e desenfreada que faz você gritar hell, yeah, os personagens tomando na cabeça pra aprender que a vida real não é como um gibi e por aí vai.

Pra acabar, dou destaque final para a última sequência de ação, exageradamente absurda, e para as pontas deixadas em aberto para uma mais que bem-vinda continuação. Desde que, é claro, ela siga as lições ensinadas com maestria por esse primeiro filme.

Kick-Ass – Quebrando Tudo é um dos filmes mais divertidos do ano e também uma película de ação primorosa, além de uma grande homenagem às HQs de super-heróis. Se você está aqui no DELFOS, então vou chutar que esses três elementos muito o interessam. E, se é assim, trate de garantir seu ingresso!

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
kick-ass-quebrando-tudoPaís: EUA/Reino Unido<br> Ano: 2010<br> Gênero: Testosterona Total<br> Duração: 117 minutos<br> Roteiro: Jane Goldman e Matthew Vaughn<br> Elenco: Aaron Johnson, Christopher Mintz-Plasse, Mark Strong, Chloë Grace Moretz, Xander Berkeley e Nicolas Cage.<br> Diretor: Matthew Vaughn<br> Distribuidor: Paramount<br>