Invasão Zumbi

0

Provando que as mais variadas partes do mundo amam os mortos-vivos, temos agora uma produção sul-coreana dedicada ao gênero dos zumbis. Para completar o serviço, eles se utilizam dos zumbis rápidos, ainda mais letais do que os lentos, desajeitados e clássicos do George A. Romero. E para terminar, os colocam no espaço confinado de um trem.

Invasão Zumbi (que título mais genérico, hein?), por falar nisso, tem a maior cara de longa do George A. Romero. Se liga: um jovem pai trabalhador e bastante egoísta tem de levar sua filha de volta para a casa da mãe dela na cidade de Busan. Eles pegam o trem, alheios a uma epidemia que deixa as pessoas raivosas e com vontade de morder e mutilar as outras.

Claro que uma pessoa infectada consegue entrar em um dos vagões e logo a viagem fica bem mais assustadora e sangrenta quando os zumbis começam a se alastrar pelo trem, fazendo com que um grupo de passageiros tenha de se unir para sobreviver enquanto tenta encontrar uma cidade ainda não atingida pelo surto para desembarcar.

Como em todo bom filme Z, o grande problema não são os zumbis, mas sim as pessoas. E este não é diferente, afinal, ele trata a jornada do protagonista, ganancioso, egoísta e individualista, como um aprendizado de que, no meio da zumbizada, ele não conseguirá nada sozinho. Basicamente, ele terá de aprender o valor da compaixão e do trabalho em equipe se quiser sobreviver e proteger sua filha.

Claro, nem todos vão aprender essa lição, o que, combinado com o sentimento geral de medo, deixa as coisas mais agitadas. A ação em grande parte passada no espaço fechado e estreito do trem funciona muito bem. Os movimentos dos zumbis, principalmente quando eles levantam do chão, todos tortos, ficaram muito legais e o filme até acrescenta uma característica só sua para eles envolvendo a falta de luz.

No entanto, quando eles se amontoam em grandes grupos, às vezes lembra Guerra Mundial Z e isso não é legal, visto que o filme do Brad Pitt pode ser qualquer coisa menos uma película de comedores de miolos. É sempre mais legal quando eles atacam em menor escala. Quando começam a se amontoar, o CGI tosco ajuda a tirar a graça da coisa. Por sorte, essas partes são minoria.

É legal também que a epidemia é tratada em pano de fundo, através dos telejornais e da internet. Os passageiros do trem veem apenas relances e só sabem o que a mídia divulga. Assim, ficam meio no escuro tentando entender o que está acontecendo e a extensão total dos fatos.

Também fazia tempo que um filme do gênero não apresentava um elenco de personagens que faz com que o espectador realmente se importe com eles. Assim, quando algum deles morre, vira algo realmente doído, ainda que algumas mortes simplesmente não façam sentido algum.

Sério, teve um cara, o melhor personagem do longa, na minha opinião, que praticamente coloca a mão dentro da boca de um zumbi porque simplesmente estava no roteiro que chegou a hora dele morrer. Você vai saber imediatamente de quem estou falando quando assistir. Faltou um pouco de cuidado com a mise en scene nesse sentido, mas não é nada que afete tanto a condução.

No geral, Invasão Zumbi é muito bom, cheio de momentos tensos e claustrofóbicos, com bastante ação e muita correria. E, como já mencionei, embora tenha um ou outro escorregão, no geral ele consegue se utilizar bem dos melhores elementos e características dos filmes Z para ser um ótimo exemplar do gênero. Fãs do cinema morto-vivo certamente não irão se decepcionar.

REVER GERAL
Nota
Artigo anteriorSurgeon Simulator: Experience Reality
Próximo artigoAnimais Noturnos
Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
invasao-zumbiPaís: Coreia do Sul<br> Ano: 2016<br> Gênero: Terror<br> Duração: 118 minutos<br> Roteiro: Sang-ho Yeon<br> Elenco: Yoo Gong, Yu-mi Jeong e Soo-an Kim.<br> Diretor: Sang-ho Yeon<br> Distribuidor: Paris Filmes<br>