Surgeon Simulator: Experience Reality

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Um dos jogos que eu mais gostei no DS foi Trauma Center. Posteriormente lançado também para o Wii, ele se aproveitava da touch screen, que na época era novidade, para dar um jeitão tátil a operações. Ao longo da sua história, o jogo perde um pouco de sua proposta ao colocar operações com inimigos que atacam e devem ser derrotados a tempo, mas nas primeiras, quando são operações mais tradicionais, ele era bem legal.

Muito por causa de Trauma Center, quando eu fiquei sabendo de Surgeon Simulator: Experience Reality, jogo com uma proposta parecida em realidade virtual, pensei que ele poderia melhorar os defeitos de Trauma Center.

Curiosamente, o código de review chegou apenas 15 dias após o lançamento. Nesse meio tempo, eu li pessoas reclamando do jogo, dizendo que os controles eram péssimos. “Certamente estão esperando lançar um patch antes de mandar os códigos para imprensa”, pensei com meus botões. Afinal, isso já aconteceu antes.

Quando o código chegou e eu instalei o jogo, me surpreendi ao ver que a versão ainda era 1.0. Hum… que será que vem por aí?

O QUE VEM POR AÍ?

A essa altura é óbvio dizer isso, mas em Surgeon Simulator você assume o papel de um cirurgião. No PS4, o jogo é controlado com dois PS Moves ou com um Dualshock 4. No caso do Dualshock, você o usará como um controle de movimentos também, fazendo o papel de uma das suas mãos. A outra simplesmente não é usada caso você opte por esta forma de controle.

Não demora para você começar a se indispor com o jogo. Até os menus são complicados. Eu demorei um bom tempo, por exemplo, para descobrir como mudava de operações. E logo no primeiro momento, da calibragem, ele coloca a tela muito abaixo de você, exigindo que você se contorça todo – chegando até a sair da área que a câmera pega, apenas para dar um ok e entrar no menu principal.

Quando entrei na primeira operação propriamente dita, um transplante de coração, outro problema apareceu: a total ausência de um tutorial. Eu estava ali, na frente de um paciente com o peito aberto e várias ferramentas sem saber para que cada uma delas servia. Após tentar várias opções, percebi que conseguia quebrar as costelas do paciente com o martelo. Isso não me pareceu certo. Como vou montar depois? De qualquer forma, foi a única coisa que consegui fazer.

Aos poucos fui cortando os órgãos do pobre paciente. Eu os arrancava e ficava sem saber o que fazer com eles. O jeito era jogar em algum lugar do cenário. Vamos trocar o coração e depois me preocupo em como montar tudo de novo. Finalmente, consegui ver o coração. Arranquei-o sem dó, e agora precisava descobrir onde estava o coração novo. Depois de um tempo procurando, vi uma espécie de lancheira no cenário. Abri a maledeta e não deu outra, lá estava o novo coração do Bob.

Peguei o dito cujo e joguei ele dentro do peito da vítima. Nada aconteceu. Mexi um pouco nele. Sinais vitais caindo rapidamente. Do nada então, uma tela aparece na minha frente dizendo que ele vai viver. Quê? Consegui? Passei a operação inteira achando que estava fazendo tudo errado, mas consegui?

CONTROLES QUE BEIRAM O NÃO JOGÁVEL

A narrativa acima pode parecer que as coisas foram mais fáceis do que realmente foram. Acontece que o jogo peca não apenas por não deixar claro o que você tem que fazer. O principal problema é que os controles beiram o não jogável.

Quando você esbarra em qualquer coisa sólida, por exemplo, sua mão vira um esqueleto e você perde o controle dela. Quando tudo funciona nos conformes, você levanta a mão para separar da obstrução e pronto. Porém, um problema muito comum é o jogo não devolver o controle. Você controla a mão esqueleto, que não faz nada, enquanto a que tem pele fica presa lá na obstrução. A única forma de ganhar controle novamente é pausando e despausando. O problema é que, quando você encosta em outra coisa, o problema acontece novamente. Uma vez que isso começou a acontecer, você não tem outra alternativa a não ser reiniciar a operação inteira.

Até quando as coisas funcionam da forma que deveriam, elas não funcionam da forma que deveriam. Por exemplo, em outros jogos com sensor de movimento, se você aproxima sua mão de uma ferramenta e aperta o botão de segurar, ela imediatamente aparece na sua mão em uma posição apropriada.

Aqui é comum você ficar com a mão perto do item, abrindo e fechando os dedos, ela se transformando em ossos por encostar na mesa e mesmo assim não pegar o negócio. E quando você finalmente pega, não a segura de forma natural. Você pode, por exemplo, pegar o bisturi segurando próximo demais da lâmina, o que deixa impossível fazer os cortes necessários, pois sua mão vai fatalmente encostar no paciente e “esqueletar”.

O vídeo abaixo é da versão não-VR de Surgeon Simulator, e o sujeito já parece ter dificuldades para pegar as ferramentas. Na versão que joguei, a visão é diferente, você vê o paciente de lado, e os controles são ainda piores.

Outra coisa que não costuma ser um problema em jogos VR é quando um item cai no chão ou fora de alcance. O normal é que, alguns segundos depois, ele apareça novamente no local original. Aqui não. Se uma ferramenta vital cair no chão, já era. Reinicie tudo, pois é impossível pegar de volta.

Sinceramente, quando estava tentando a segunda operação, de transplante de rins, estava já com raiva do jogo, querendo parar de jogar e me forçando a continuar apenas porque estava jogando a trabalho. No entanto, após concluir esta operação, deu um clique.

O CLIQUE

Os controles terríveis ainda me incomodavam, mas de alguma forma eu consegui extrair alguma diversão do jogo. Foi aí que ele subiu um pouco a nota, pois antes disso estava a ponto de levar zero e o título nada cobiçado de “pior do ano”.

Depois disso, eu concluí todas as operações disponíveis (são apenas cinco), abrindo uma nova localização. Agora podia operar minha vítima em uma ambulância, não apenas no centro cirúrgico. Se você completar todas as operações na ambulância, vai abrir o último local: o espaço.

Apesar do cenário diferente, as operações ainda são as mesmas e os controles continuam ruins. Só que agora você sabe o que fazer, então acaba sendo um tanto mais jogável.

Ainda assim, é pouco. Os controles são simplesmente ruins demais e o jogo tem problemas graves, como a mão que empaca em objetos do cenário. É incrível que Surgeon Simulator: Experience Reality tenha sido lançado comercialmente da forma que está. Aliás, não apenas isso, mas ele também não é barato (custa 20 dólares). É realmente difícil recomendar, apesar de ser possível extrair alguma diversão daqui, caso você seja bem paciente.

Infelizmente, Trauma Center ainda é muito mais legal, funciona bem melhor e, principalmente, tem muito mais conteúdo, com dezenas de operações diferentes e uma história com começo, meio e fim.

ATUALIZADA: Após o fechamento desta resenha, houve um patch que visa minimizar alguns dos problemas apontados neste texto.

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