Hellboy II: O Exército Dourado

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Você nem precisa ir para o inferno para ler nossas matérias especiais sobre o Hellboy:
Guia de Leitura do Hellboy: Tudo do chifrudo que saiu por aqui.
Hellboy: o primeiro filme.

O primeiro Hellboy é legal. É um dos raros casos em que um longa de gibis não é obra de um produtor (que comprou os direitos e contratou um diretor), mas de um diretor, fã do original, que lutou para realizar uma fita com seu personagem preferido. Isso não só é raro de acontecer, mas também dá um gostinho especial para ele, pois se torna mais autoral. Diminui a cara de trabalho para pagar as contas e fica com um jeitão de arte. Para ter uma idéia, o único outro filme de gibi que eu me lembro que seguiu esse caminho foi Sin City. E esse você com certeza conhece muito bem e não duvido nada que tenha o DVD dele na sua coleção.

Contudo, ao contrário de Sin City, faltava algo para Hellboy. Não sei exatamente dizer o quê, mas embora seja muito legal, ele não merecia a honraria de ser chamado de tremendão. Hellboy II: O Exército Dourado merece. E muito. Aliás, ele não só é tremendão e uma obra de arte como é também deveras divertido. Sério mesmo, eu sinceramente nunca imaginei que passaria duas horas tão divertidas em um lugar tão desconfortável quanto o Cinemark Santa Cruz. Diverti-me tanto durante a projeção que quase cheguei a esquecer que aquelas poltronas ridículas ficavam constantemente brigando comigo e me empurrando para frente.

Parte do que torna Hellboy II tão bom é o visual caprichado, marca do trabalho do diretor Guillermo Del Toro. E eu entendo perfeitamente porque o cara é adorado por nerds do mundo inteiro. Afinal, seus filmes trazem temáticas e figuras que poderiam estar em qualquer Harry Potter e dá a elas um jeitão from hell mais assustador e mais sombrio. Sim, o que temos aqui é, sob todos os aspectos, uma obra de fantasia (a cena do mercado de Trolls, por exemplo, parece saída do próprio Harry Potter), mas é uma fantasia muito mais “adulta” e séria do que estamos acostumados a ver em coisas como Star Wars. A meu ver, é legal termos os dois lados e nem tudo fica bom com esse tempero sombrio, ao contrário do que dizem meus colegas de tribo. Deve ser a forma de eles explicarem para si mesmos que o que gostam não é coisa de criança – só quase. 😛

Acabei de falar que temos aqui uma fantasia adulta e séria, e isso é verdade. Porém, não entenda séria como “desprovida de humor”. O visual é, sim, mais sóbrio e menos colorido do que as fantasias mais comuns, mas, ainda assim, Hellboy II é um filme muito engraçado. Aliás, isso realmente me surpreendeu, pois não lembro de ter dado risadas no primeiro filme, enquanto nesse cheguei a gargalhar em várias cenas. Em especial a parte em que o Hellboy e o Abe estão tentando entender as mulheres é impagável. Nem criaturas mágicas e superpoderosas entendem esses seres ainda mais mágicos e superpoderosos que são as criaturas do sexo feminino. 😛

Somado ao humor, temos também várias cenas de ação exageradas, com muita destruição. E, com isso, o delfonauta mais antenado já se tocou. O que temos aqui é um Testosterona Total digno de ser estrelado pelo Governator. E essa “mudança de gênero” foi muito bem-vinda. O fato de o filme não se levar a sério em nenhum momento é justamente o que o torna tão especial.

Não acho que é a sinopse que vai fazer você assistir ou não a este longa, mas só para não dizer que eu saí do padrão, vamos nessa: há muito tempo, em uma galáxia muito distante, os elfos e os humanos entraram em guerra e, posteriormente, fizeram um acordo de paz. Isso deixou o descendente da realeza élfica mordido e, séculos depois, ele resolve retomar a hostilidade entre as raças e destruir o mundo dos humanos. Hellboy e sua trupe são os únicos manos trues o suficiente para salvar todos nós. Vai, Vermelhão! =D

Aliás, partindo dessa sinopse, posso colocar o único problema que vi no filme. E deixo claro que é um daqueles furos de roteiro que muita gente mal vai perceber. Apenas lendo o parágrafo acima, deve ter ficado claro para você que o príncipe que faz as vezes de vilão é um caboclo deveras orgulhoso da sua ascendência élfica, certo? Pois em determinada cena, o vemos conversando com seu papis e sua maninha. E enquanto o velho e a moça falam em élfico, ele responde tudo em inglês. Ora pois, se todo o diálogo fosse em inglês, eu nem pensaria nisso, mas se eles vão estabelecer que os elfos têm uma língua própria, por que alguém com o orgulho racial do príncipe vai se comunicar com seus iguais em inglês? Seria algum tipo de defesa Chewbacca?

Eu não queria. Eu juro que não queria. Mas estaria sendo injusto se não concedesse a honraria máxima da indústria do entretenimento, o Selo Delfiano Supremo, para um filme tão divertido, tão engraçado e tão visualmente caprichado quanto Hellboy II. Sim, eu sei que a medalhinha está comum demais nessas páginas, mas que culpa eu tenho se um monte de filmes tremendões estão saindo ao mesmo tempo? É bom para nós, afinal de contas!

Curiosidades:

– A voz de Johann Krauss é de Seth McFarlane, que você deve conhecer como o criador dos divertidos desenhos Uma Família da Pesada e American Dad. Ah, e ele também faz as vozes do Peter Griffin e do Stan Smith nos desenhos que criou. E o personagem que ele faz aqui é responsável por algumas das melhores piadas do longa.

– Ano passado tivemos tão poucos filmes bons saindo que todo mundo aqui do site penou para fazer o Top 5: Melhores Filmes de 2007. Esse ano vai ser completamente o oposto. São tantos longas bons que eu não faço a menor idéia de como vou conseguir selecionar apenas cinco em detrimento dos outros. Pelo menos um já tenho certeza que vai entrar. Só que eu não vou contar! 😛

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
hellboy-ii-o-exercito-douradoPaís: EUA<br> Ano: 2008<br> Gênero: Fantasia/Testosterona Total<br> Roteiro: Guillermo Del Toro<br> Elenco: Ron Perlman, Selma Blair, Doug Jones, John Hurt e Seth McFarlane.<br> Diretor: Guillermo Del Toro<br>