Haggard – Eppur si Muove

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Eppur si Muove: Contudo, ela se move! Essa célebre frase é atribuída a Galileu Galilei. Segundo a lenda, ele a teria proferido ao sair do tribunal católico que o julgava por sua teoria heliocêntrica. Ou negava a teoria ou seria morto. Como cara inteligente que era, negou. No entanto, teria proferido as citadas palavras, mostrando que só negava da boca para fora.

Esse é também o título do último CD lançado pela incrível banda Haggard (o que sairia depois desse teve seu lançamento adiado N vezes). A escolha do título se deve ao fato de esse álbum ser, como é característico da banda, conceitual, desta vez sobre a vida de Galileu Galilei. Diga-se de passagem que pegar esse tema, e colocar um dos mais famosos episódios da guerra “ciência x religião”, é uma idéia deveras criativa. Ainda mais pelo fato de que os recentes álbuns conceituais são, em sua maioria, decepcionantes. (Obs: sempre achei que ciência E religião poderiam render muito mais que ciência VERSUS religião).

Falando um pouco sobre a banda, ela foi fundada em 1991 e bebe de fontes que vão do Doom Metal ao clássico/erudito, com uma marcante passagem pelo Folk e pela música medieval. Isso fica evidente até mesmo nos vocais (só comecei a me interessar por gutural quando ouvi esse iraniano – Assis – cantando). Nesse disco a banda contava com 17 músicos, mas já chegou a ter mais de 20! Além dessa infinidade de integrantes, eles contavam com mais de dez convidados. Outra coisa em que a banda se destaca (além do número de instrumentos diferentes que essa formação proporciona) é o fato de cantarem em pelo menos quatro línguas: italiano, inglês, alemão e latim. Eu adoro Metal em latim.

Voltando a falar do CD, vamos agora a um faixa-a-faixa:

All’Inizio è la Morte é uma faixa de introdução incomum. Ela tem mais de seis minutos e é simplesmente fantástica. Começa lenta e narrativamente e é só a partir dos três minutos que ela deslancha. Aqui a guitarra e a bateria já mostram “sua cara” em meio a um belo arranjo de cordas. A potência do gutural do Assis já dá uma palhinha destruidora.

Minuetto in Fa-Minore é uma breve faixa que qualquer banda usaria como intro. Aqui ela é a segunda, funcionando como uma conexão para a próxima música.

Per Áspera ad Astra já começa arrebentando. O vocal é fora do sério, mas o que realmente impressiona nesses caras é a instrumentação. Nessa música ela está simplesmente perfeita, mesclando peso e harmonia. As mudanças de tempo dispensam comentários. Aqui aparece também um segundo vocalista homem, esse com uma voz limpa e potente, realmente agradável de ouvir. Também aparece uma segunda vocalista mulher.

Of a Might Divine aplica magistralmente a influência da música clássica e do Folk. O legal de uma banda tão grande é que ninguém se destaca muito, mas o todo se encaixa perfeitamente, como uma orquestra de música pesada. Só ouvindo para saber do que eu estou falando. Nessa, os corais são deveras bonitos (guturais bonitos não é para qualquer um).

Gavotta in Si-minore é mais uma curtíssima trilha instrumental com um bem elaborado arranjo de cordas que serve de intro para a música seguinte.

Herr Mannelig tem um começo mais sóbrio que as outras, me lembrando uma música do Kitaro. É uma das minhas favoritas desse CD por ser, talvez, a que melhor explora os contrastes da banda, faltando apenas o vocal do Assis para que ela fique perfeita. Aqui é o lírico quem comanda.

The Observer é uma música completa. Eu só não gosto muito da narração, mas aqui o gutural mostra todo seu vigor e a guitarra combina velocidade e feeling. A bateria também está muito bem colocada. É a música mais rápida do disco e sem dúvida uma das mais interessantes. Mas só o “miolo” dela é rápido, pois o começo e o fim são calmos e melodiosos.

A música título, Eppur si Muove, é uma das mais compridas do disco e tem uma parte a capela bem legal, seguida de um piano primoroso. Ela alterna momentos de peso e calmaria e um dos meus instrumentos favoritos, violoncelo, quase passa despercebido. A influência da música medieval/celta é bem clara, tanto que em vários momentos os arranjos de cordas lembram Blackmore’s Night.

Larghetto/Epílogo Adágio é mais uma instrumental. Tem um cadenciamento que a torna quase dramática.

A última, Herr Mannelig tem três minutos, mas, se você for paciente ouvirá ainda mais um belo instrumental perto do fim. Sem dúvida um excelente desfecho para um dos melhores álbuns que ouvi nos últimos tempos.

Então, se você ainda não conhece a banda, corra para conhecer. E, se você já conhece, corra para comprar aqui. O único defeito desse CD é não existir versão nacional.