Frankenstein: Entre Anjos e Demônios

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Nunca é um bom sinal quando a distribuidora pede para os jornalistas assinarem um embargo que proíbe críticas até determinada data. O normal é que o embargo vença na semana de estreia ou, na pior das hipóteses, no dia da estreia. No caso de hoje, o embargo venceria um dia depois da estreia. É a primeira vez que vejo isso em 10 anos de site, um verdadeiro presságio quanto à má qualidade daquilo que estávamos prestes a ver.

Frankenstein: Entre Anjos e Demônios elabora como seria se o monstro de Frankenstein encontrasse Robert Langdon e começasse a investigar teorias da conspiração. Tá, não verdade o filme não tem nada a ver com a franquia Código da Vinci, mas este título nacional é tão ruim que não podia perder a chance de tirar um sarro.

Na real, o filme imagina como seria se o monstro vivesse até os dias de hoje e se visse em meio a uma guerra de séculos entre criaturas do céu e do inferno. E aí tem mais um erro. Os soldados do céu no longa não são anjos, mas gárgulas que, segundo a mitologia do longa, são criaturas que estão algum nível abaixo dos anjos. Para você ver, aparentemente nem o sujeito que deu o título nacional aguentou assistir ao filme.

Mas eu aguentei, delfonauta. Eu fiquei lá, no cinema, fazendo cara de mau e suportando os 90 minutos de tortura cinematográfica que pareceram algumas dezenas de horas. E foi complicado, mas cá estou eu, ainda vivo, pronto a fazer meu sacrifício valer a pena caso eu consiga impedir todos os delfonautas de gastarem dinheiro nisso aqui.

O principal problema é a falta de originalidade. Cada uma das cenas que permeiam a projeção já viu a luz em um ou mais filmes antes. O troço é tão derivativo que se fosse um prédio, o King Kong se recusaria a escalá-lo. Exemplo: em determinado momento, as gárgulas dizem para Adam (o nome que o monstro de Frankenstein leva aqui) escolher uma arma. Assim que ele pega uma, o carinha fala “não, você não vai querer essa”. Adivinha qual ele acaba pegando! Você já viu essa cena, e acredite em mim quando eu digo que você já viu todo o resto também.

E digo mais, você literalmente já viu todo o resto, especialmente se já assistiu a qualquer um dos Anjos da Noite. É tão parecido que este podia ser mais uma iteração na longeva franquia da qual ninguém gosta. E isso se estende desde o tema da guerra milenar e secreta até o fetiche pelo contraste azul e laranja, as únicas duas cores presentes durante todo o longa.

Ok, ele tem algumas qualidades. Em mais uma mancada da turminha da tradução, o nome Adam deveria ter sido traduzido como Adão, pois simboliza o fato de o personagem ser o primeiro de sua espécie. Os efeitos especiais e as muitas cenas de ação também não são de se jogar fora. Gostei especialmente de como os demônios e as gárgulas morrem (em fogo laranja e luz azul, respectivamente – olha o contraste aí, gente!). As transformações das gárgulas em humanos também são estilosas e tudo mais, mas é muito pouco para tornar o filme recomendável.

Daria até para fazer um bom videogame de porrada com os conceitos e o design utilizados aqui, mas em forma de celuloide não funciona. Seu principal pecado talvez seja o fato de ser um filme absolutamente sério. Apesar da história ridícula e derivativa, não rola nenhuma piadinha, nenhum momento mais despojado. Não, Frankenstein: Entre Anjos e Demônios deve se considerar um exemplar da mais alta classe da arte nerd, mas eu sinceramente acho muito difícil que qualquer nerd que se preze goste do que temos aqui.

HORA DO JOGO:

– Nunca o troféu “delfonauta pintudo da semana” foi tão fácil, hein, delfonauta? Vamos lá, de onde saiu a chamada de capa “Dr. Stein grows funny creatures”? A pergunta é tão fácil que hoje não tem nem high five telepático. Seja o primeiro a acertar e leve o troféu, não por causa do seu conhecimento em cultura pop, mas pela velocidade em postar comentários, já que acredito que 97% dos delfonautas sabem a resposta.