Fido – O Mascote

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Fido – O Mascote, uma bela historinha de amizade entre um garoto e seu bichinho, onde ambos aprendem a confiar um no outro enquanto controlam seu apetite por… miolos? Ah, sim, acho que esqueci de falar. O Fido do título não é um fofo cachorrinho, mas um nada fofo zumbi.

Esta história poderia ser a continuação de praticamente qualquer grande filme de zumbis. Primeiro, os morto-vivos aparecem e fazem um massacre. Logo, os humanos reagem e massacram os coitados de volta. Por fim, nós damos um jeito de domesticar nossos podres amigos e de viver pacificamente com eles. Ei, esse não é exatamente o final de Todo Mundo Quase Morto?

Enfim, aqui os zumbis são domesticados através de uma coleira que reprime seu saudável apetite por miolos fresquinhos. Além disso, como em Terra dos Mortos, todos os que morrerem vão voltar à vida (ou quase isso), mesmo que não tenham sido mordidos. Aproveitando a grande oferta desses dóceis “trabalhadores”, os humanos começam a usá-los para fazer trabalhos manuais.

Timmy (K’Sun Ray) é um moleque de uma família que não tem muita grana e que finalmente consegue comprar um zumbi para ajudar em casa, apesar dos protestos do seu pai (Dylan Baker, o Curt Connors), que morre de medo desses mortos vivos. O garoto, é claro, logo se afeiçoa ao miolento e ambos começam uma fofa amizade. Até que a coleira do bichinho começa a falhar e seu apetite por miolos volta a dominá-lo.

Pois é, delfonauta, a idéia é legal e tal, mas a execução é extremamente clichezenta. Fido é basicamente um Free Willy com zumbis (imagina que tremendão uma orca zumbi?) e segue exatamente tudo que se espera dessa fórmula. Você simplesmente sabe quando o Fido vai atacar pessoas ou quando ele vai olhar fundo no seu coração e reconhecer que nutre um profundo carinho pelo moleque, mesmo quando sua coleira não estiver funcionando. E esse é o principal defeito do filme, mas tem mais.

A maquiagem dos zumbis simplesmente não convence. Todos têm uma tonalidade meio azulada e, pô, morto-vivos não têm que ser simplesmente pessoas pintadas de azul. Até a atuação deles é fraca. Fido, por exemplo, anda basicamente como qualquer outra pessoa, sem as tradicionais mancadinhas zumbis.

Por outro lado, a trilha sonora é muito boa, com algumas seleções bem interessantes que dão ao longa um delicioso ar de filme inocente dos anos 60. Outra coisa que deve atrair o público é o elenco. Além do futuro Lagarto, temos aqui também a Trinity, Carrie-Anne Moss (eu odeio nomes com hífen, nunca sei onde colocá-los), que está irreconhecível como a mãe do garoto. Poxa, ela está até bonita, sem aquele jeitão de mulher macho que costuma ter nos seus outros filmes. E falando em irreconhecível, eu realmente não fui capaz de reconhecer que o Fido é ninguém menos que o comediante Billy Connolly (que, por sua vez, eu vivia confundindo com o John Cleese).

Segundo o diretor Andrew Currie, este longa é uma metáfora para a xenofobia. Particularmente, não vi nada de xenofobia aqui, mas, como em todo filme de zumbis, é fácil interpretarmos que os morto-vivos representam as camadas menos privilegiadas da população. Talvez no Canadá essas camadas sejam os estrangeiros, mas para nós, brasileiros, é mais fácil e mais interessante imaginarmos os miolentos simplesmente como as pessoas que fazem os trabalhos manuais na nossa sociedade.

Com críticas sociais ou não, Fido – O Mascote é uma inofensiva comédia sobre amizade que, se não tivesse zumbis, provavelmente passaria despercebida pelos nossos cinemas. De qualquer forma, não é um filme chato, mas a proposta rendia algo muito mais engraçado e, principalmente, mais crítico.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
fido-o-mascotePaís: Canadá<br> Ano: 2006<br> Gênero: Comédia<br> Duração: 91 minutos <br> Roteiro: Robert Chomiak e Andrew Currie, baseado em história de Dennis Heaton<br> Diretor: Andrew Currie<br> Distribuidor: Paris<br>