Deliriant: boas intenções nem sempre fazem um bom jogo

Na aula de hoje: como tomar banho.

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Deliriant é um caso raro nos games. Trata-se de um jogo pra lá de indie, feito por um time de 14 estudantes e que, de alguma forma, conseguiu que seu lançamento fosse como um exclusivo de PS4.

É assim que a desenvolvedora Manic Interactive descreve Deliriant em seu site:

Pise em uma casa dos anos 70 nesta máquina de empatia infinita e não linear. Vivencie os horrores psicológicos causados por um ciclo infinito de abuso. Este é um curto jogo artístico sobre os sentimentos, relações e histórias de uma mãe”.

Sei que muita gente já torceria o nariz para este tipo de descrição, mas ela me animou bastante. Por mais que eu goste de jogos focados em gameplay e na diversão descompromissada, eu também gosto deste lado mais artístico, jogos que tenham algo a dizer e façam com que você sinta algo ao vivenciá-los. Por serem interativos, games conseguem ser ainda mais tocantes do que filmes ou livros.

No entanto, e me dói dizer isso, mas Deliriant simplesmente não passa muita coisa. O jogo segue a tradição de Gone Home, ou seja, você explora uma casa e interage com objetos espalhados por ela. No entanto, ao contrário de Gone Home, se há uma história aqui, ela está bastante enterrada.

Você começa sua viagem por Deliriant em frente à porta de entrada e vai basicamente fazer um tour pela casa em questão. A casa, no entanto, é bem normal. Há quartos, banheiros, um escritório, uma sala de estar. Ao lado da cama da suíte há um par de algemas, o que demonstra que o casal que mora ali pode curtir um sexo mais apimentado. No escritório, algumas fotos de Polaroid parecem mostrar cenas de violência, mas a qualidade das imagens simplesmente não é boa o suficiente para você ter certeza do que está olhando. E isso é basicamente o que há de história por aqui.

A casa, ao contrário do que costumamos ver em games, tem o tamanho de uma casa grande normal. Não há infinitos quartos e passagens secretas, e este tamanho mais realista acabou sendo uma das coisas que eu mais gostei. O que me incomodou bastante foi o som, que usa praticamente apenas o subwoofer e fica o tempo todo fazendo uma vibração bem chatinha. O visual também não é muito marcante.

A experiência toda durou 20 minutos para mim, explorando com calma e mexendo em tudo. Ao longo desses 20 minutos, ganhei todos os troféus disponíveis. Eu sabia que ele era curto, e não o julgo por isso. Uma experiência curta pode ser tão poderosa quanto uma mais longa. Infelizmente, não é o caso aqui.

Explorar o mundo de Deliriant foi basicamente como fazer uma visita a uma casa com um corretor de imóveis. Se há de fato uma história aqui, e não duvido que haja, ela está enterrada e você precisa querer muito, mas muito, encontrá-la. Eu queria encontrá-la, mas talvez não o suficiente. Ao contrário de Gone Home, Deliriant é um jogo do qual eu dificilmente vou me lembrar daqui a algum tempo. E isso é a pior coisa que pode acontecer para algo no seu gênero.