Hoje foi um daqueles dias legais em que um filme do qual nada esperava foi extremamente divertido. Esta é nossa crítica Mate ou Morra, mas o título em inglês é muito mais legal: Boss Level ou, em bom portuga, “fase do chefe”.

CRÍTICA MATE OU MORRA

O motivo pelo qual eu não dava nada para ele é que Mate ou Morra é mais um a se apropriar daquela temática “dia que se repete até o protagonista fazer o que precisa para vencer”. O diferencial é que ele é um Testosterona Total, gênero que eu ainda não tinha visto lançar mão desse tipo de história.

Aqui conhecemos Roy Pulver (Frank Grillo), um sujeito com algumas habilidades bem específicas. Ele acorda todo dia com um caboclo invadindo sua casa e tentando matá-lo com uma machete. Daí logo em seguida aparece um helicóptero com uma minigun na sua janela. E só piora. Eventualmente, ele morre, tudo reinicia, e o cara da machete volta a atacá-lo.

EXPLOSÕES EM BOSTON

Quando o filme começa, estamos ao norte da centésima tentativa, o que é uma excelente forma de começar. Roy já conhece os perigos e os ataques, então já é um herói de ação deveras habilidoso, daqueles que consegue pular de um prédio, cair em cima de um caminhão e sair andando.

Isso permite que ele se lembre de erros do passado, falando algo como “isso doeu mais do que aquela vez”, daí aparece na tela “tentativa 42” e a gente vê como ele morreu “naquela vez”. Mate ou Morra é um filme de ação com adrenalina, humor e explosões a rodo.

Aliás, ele conquista logo de cara. A cena de ação que abre o filme rola ao som da minha música preferida do Boston, a Foreplay / Long Time. Delfonautas dedicados devem se lembrar que esta canção tem um dos meus solos de guitarra preferidos. E o solo rola de forma sincronizada com o momento que o apartamento do Roy explode. Coisa linda, cara! Quem diria que solos de guitarra tremendões combinam tão bem com explosões enormes! Todo mundo? É, acho que todo mundo sabe disso.

CRÍTICA MATE OU MORRA E UMA BOA HISTÓRIA

Você sabe que aqui no DELFOS a gente considera que um filme de ação não precisa de uma boa história para ser legal. Pois Mate ou Morra, apesar de nos presentear com helicópteros explodindo, tem uma história bem bacana, acredita? Há uma explicação científica para as coisas estarem se repetindo, algo muito mais interessante do que o tradicional “é o seu destino” normalmente usado por essas narrativas estilo Dia da Marmota.

E veja só, ele termina de forma que você pode classificar como “aberto” ou “repentino”. Exatamente o tipo de final que eu costumo tirar sarro. Mas funciona! Inclusive, na última cena eu pensei “ia ser lindo se terminasse agora”. Daí a tela ficou preta e apareceu o nome do tradutor. Fiquei com vontade de aplaudir, pois é um final surpreendentemente poético para um tão típico “filme de homem“.

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Eu sinceramente fiquei esperando o Mel Gibson abaixar as calças e jogar cocô no Frank Grillo.

Hoje em dia também sempre chama atenção quando um longa tem o Mel Gibson no elenco. Afinal, depois de todas as baboseiras que ele falou e fez, é difícil ver esse cara sem pensar em como conseguiram controlá-lo. Ele é o vilão – não poderia ser outro tipo hoje em dia – e de fato é estranho vê-lo fazendo um personagem que provavelmente é mais normal do que ele. Mas a coisa rola sem grandes problemas.

CRÍTICA BOSS LEVEL E AS REFERÊNCIAS A GAMES

Como o título original pode dar a entender, Mate ou Morra é muito inspirado por videogames. Ele não trata do assunto diretamente, como Free Guy, mas a ideia é que o protagonista Roy está tendo a vida de um protagonista de games.

E funciona bem, inclusive com ótimas tiradinhas. Por exemplo, tem uma cena em que ele “trava” em uma chefe, a mina da espada. Ele tenta de tudo, dezenas de vezes, e ela sempre o mata. O que ele faz? Resolve passar alguns dias fazendo grinding, subindo de nível mesmo, para a luta ficar mais fácil. Não sei quantas pessoas vão pegar a referência, mas eu achei maior legal.

Até fiquei pensando como seria se o filme resolvesse se apropriar na sua narrativa de táticas de gamedesign moderno. Sim, na história, Roy precisa repetir absolutamente tudo que ele fez desde acordar para ter uma nova chance de vencer o que o matou. Na narrativa, o filme simplesmente faz uns cortes rápidos para lembrar o que aconteceu e coloca de volta no checkpoint.

Crítica Mate ou Morra, Mate ou Morra, Boss Level, Imagem Filmes, DelfosMas já pensou se ele funcionasse mesmo com um videogame? Cada vez que o herói morresse o filme repetia os quarenta minutos anteriores, mudando apenas os dois últimos minutos? Tipo uma série de TV com sessenta episódios de 42 minutos onde só o final é diferente, cada vez chegando um pouquinho mais longe. Seria um saco, não? Inaceitável, eu diria. Mas tem gente que defende esse tipo de coisa em videogames (veja nos comentários dessa matéria). Ah, e vale dizer. Em determinado momento, um dos atores fala a palavra Deathloop, o que me deixou em dúvida se era um product placement ou um feliz acidente. Especialmente considerando que Mate ou Morra estreia no Brasil na semana de lançamento de Deathloop (e sim, teremos cobertura do jogo também).

VOCÊ JOGA VIDEOGAME COM MAIS DE 40 ANOS?

Eu gostei muito do filme, ao ponto de considerar premiá-lo com o tão cobiçado Selo Delfiano Supremo. Porém, tem uma cena específica que arrasta toda a experiência para baixo.

Uma parte da história acontece em uma espécie de fliperama focado em jogos antigos. É o único lugar além da intro pixelada, em que Mate ou Morra referencia videogames diretamente. Porém, quando o herói entra lá, ele fala com o dono do lugar, e resolve humilhá-lo, insinuando que lhe falta maturidade porque ele gosta de videogames após os quarenta anos.

Ora, pense comigo. O cara é um empresário. Abriu um lugar de lazer que eu sinceramente nem sei se existe na vida real. E, a julgar pela quantidade de público na casa, o negócio está bombando. E ainda tem que aguentar um marombeiro entrar lá e fazer bullying com ele? Se esse roteiro fosse meu, eu colocaria alguma tirada bem humilhante do empresário e faria o “herói” sair com o rabo entre as pernas, mas é óbvio que o que rola é o contrário.

Em nenhuma outra cena do filme Roy é mostrado como um babaca. Muito pelo contrário. Ter uma cena onde o protagonista faz bullying com um NPC normaliza esse tipo de atitude e deveria ser tão malvisto quanto seria se o herói começasse a xingar a mina da espada com injúrias raciais chinesas. Aliás, aí seria até mais aceitável, já que a moçoila é vilã e o mata repetidas vezes, não é um simples NPC inocente que ele encontra pelo caminho.

CRÍTICA MATE OU MORRA OU VENÇA O CHEFE

É uma cena que não dura dois minutos, e poderia ser simplesmente excluída do filme sem prejuízo para a trama. Porém, não foi, e essa insistência de Hollywood em pegar influências de videogames, mas querer sempre se posicionar como “cool demais para videogames” já deu o que tinha que dar.

Felizmente, em todo o resto do filme ele se sustenta muito bem. É um filme de videogame sem ser diretamente adaptado de nenhum jogo – e mesmo quase sem citar essa mídia diretamente. Nesse aspecto, lembra o excelente Mandando Bala, que é basicamente um videogame, mas a única referência que faz a isso é no título original (Shoot’em Up). Não sei se eu cheguei a gostar mais de Mate ou Morra do que de Mandando Bala (este é um dos meus filmes de ação preferidos), mas ele certamente merece ser assistido por qualquer um que goste de helicópteros explodindo. E de quebra ainda leva uma boa história.