Contrast

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Contrast é um jogo de contrastes. E não me refiro à sua gameplay. Temos aqui um game com todo o charme indie e um design artisticamente muito legal, mas que carece de mais polimento em absolutamente tudo, desde a jogabilidade, até os gráficos, que tecnicamente são fracos.

UMA HISTÓRIA TOCANTE

Você joga com Dawn, uma amiga invisível da menininha Didi. Só a Didi consegue ver Dawn, e a garotinha é a única pessoa que você vê em carne e osso, enquanto todos os outros seres humanos aparecem apenas como sombras para você.

Didi é uma menininha serelepe, e gosta de sair de casa à noite, quando sua mãe vai cantar sensualmente em um bar, no melhor estilo Jessica Rabbit. Você a acompanha em suas aventuras, e logo vai descobrir alguns segredos da família dela e vai ajudá-la a lidar com eles.

A história é bem legal, e tem bastante emoção, por isso não quero me estender na sinopse. No que posso me estender, no entanto, é no…

GAMEPLAY

Dawn tem o poder de virar sombra e andar por elas. Se o lugar for bem iluminado, basta se aproximar de uma parede, apertar R2 e pronto, você está nas sombras, em um mundo 2D. Temos aqui um jogo de puzzles e exploração, que alterna a jogabilidade 3D com a 2D do mundo das sombras. Não há inimigos, então a única coisa que separa você de continuar a história são desafios ao seu cérebro e alguns pulos complicados.

Contrast está em seu melhor quando usa de sua parte única, a alternância entre luz e sombras, para criar pulos e plataformas divertidas. Em alguns pulos, você precisa entrar e sair do mundo das sombras rapidamente, o que lembra, bem de leve, o mais recente Prince of Persia e sua mecânica de congelar a água.

Em alguns momentos, você precisa ir pulando entre a sombra de vários personagens enquanto eles estão conversando e fazendo outras coisas. Didi também pode ajudar você, fazendo sombras com o objetivo de formar um caminho por onde você pode passar. Estes são os momentos que você vai lembrar com carinho depois de jogar Contrast.

No entanto, ele está em seu ponto mais fraco quando se foca em carregar caixas para apertar alguns botões no chão. Ele até tenta inovar, pois algumas caixas precisam ser transportadas pelo mundo das sombras, mas nenhum desses puzzles é suficientemente interessante.

A jogabilidade, como outros pontos de Contrast, também deixa a dever no quesito polimento. Dawn não responde muito bem aos comandos, e mesmo quando você está nas sombras, em um mundo 2D, ela demora muito para virar de um lado para o outro, o que pode prejudicar em alguns pulos que exijam maior precisão.

UM MUNDO INTERESSANTE

Lembra quando eu falei que Contrast era um jogo de contrastes? Pois em nenhum aspecto isso fica mais claro do que nos gráficos. O mundo de Contrast é belíssimo, com um design impressionante e excelentes efeitos de luz e sombra. Seu design lembra um cartoon noir, o que muito me agrada. No entanto, tecnicamente ele deixa muito a dever, em muitos momentos tendo gráficos inferiores ao que se costumava ver no PS2. E estamos falando de um jogo de PS4.

Quanto à música, no entanto, não tenho nada de ruim a dizer. Temos aqui uma trilha sonora recheada de sensuais jazz, inclusive com algumas belíssimas músicas cantadas. As atuações também são muito boas, o que é essencial para um jogo tão focado na história. O pai da Didi, em especial, convence em sua atuação de alguém que cometeu grandes erros no passado, mas que está disposto a mudar e ser um bom pai e um bom marido.

BUGS

Este é o principal ponto negativo de Contrast. Tem muitos bugs aqui. Em alguns momentos, eu claramente consegui entrar em lugares que não deveria ter entrado, apenas insistindo nos pulos. Mas o que me incomodou mesmo foi um game-breaking glitch que eu encontrei próximo ao final do jogo.

Explico: em determinado momento, você precisa escalar um farol para fazer sua luz iluminar um palco. É uma escalada difícil, com os puzzles mais complexos do jogo. Eu levei cerca de meia hora para chegar até o topo. Aí precisava apenas mirar a luz no palco. Fácil, não? Pois é, mas o jogo não reconhecia que o palco estava sendo iluminado, então eu fiquei travado ali, sem nada para fazer a não ser reiniciar do último save, mais de 30 minutos atrás, e refazer toda a escalada.

A princípio achei que eu que não soubesse onde estava o palco, e fui procurar por uma solução. Daí encontrei vários fóruns discutindo o problema, inclusive um com resposta do próprio pessoal da Compulsion reconhecendo o bug e dizendo que estavam trabalhando em um patch.

Sabe o mais curioso? A update history da versão que eu joguei tem uma nota dizendo que o lighthouse glitch foi consertado.

Isso não teria sido tão chato se houvesse checkpoints na lighthouse. E depois que eu joguei tudo de novo e passei por ali, constatei que tinha apenas mais um minuto de jogo. Eu tive que jogar meia hora de novo basicamente para poder assistir ao final, o que foi um tanto frustrante.

CONTRASTANDO

Contrast fez parte da line-up da Playstation Plus. Se você pegou quando ele saiu, é um jogo que merece uma jogada, ao contrário de tantas porcarias que são distribuídos como parte do pacote (Sports Friends, estou falando com você). Se não pegou de graça, no entanto, talvez valha esperar uma promoção, especialmente por causa de sua falta de polimento, mas também por ser muito curto.

É uma pena, pois temos aqui um jogo com um grande potencial, mas que nunca alcança totalmente este potencial. Um Contrast 2 seria bem vindo, mas este primeiro acaba sendo mais um conceito e uma história interessantes do que um jogo propriamente dito.

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