Coletiva Wagner Moura e Toniko Melo (VIPs)

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Plena segunda-feira, dia conhecido como “lacaia de Satanás”, e véspera da cabine do esperadíssimo Sucker Punch (provavelmente estou nela enquanto você lê este texto). Mas antes de nos divertirmos com gurias em trajes fetichistas lutando contra robôs gigantes, vamos nos ater ao assunto de hoje.

VIPs, O FILME

O filme conta a história de Marcelo (Wagner Moura), um sujeito que tem o sonho de ser piloto, como o pai. Porém, a única forma que ele consegue lidar com o mundo que o rodeia é através de personagens e imitações. Assim, ele passa de personagem para personagem, culminando no dia em que ele enganou um bando de bacanas fingindo ser Henrique Constantino, herdeiro da companhia de aviação Gol.

Uma coisa da qual sempre reclamo aqui é da previsibilidade dos filmes. Verdade seja dita, VIPs não é assim tão previsível (com exceção das viradinhas, claras como água desde o início), mas também não parece chegar a algum lugar. Especialmente nesse golpe da Gol, não fica claro porque diabos ele fez aquilo nem o que ele teria a ganhar. Sobra apenas a explicação dos transtornos mentais do personagem, falta algo.

Mas o filme é razoável e, numa resenha tradicional, levaria dois Alfredos e meio. Mini-resenha feita, vamos à coletiva.

COLETIVA

Marcada para começar às 12:30, só foi começar às 13:38, sob constantes desculpas que diziam que a culpa era do espaço aéreo e da visita do Obama ao Brasil.

Estavam presentes os atores Wagner Moura, Ariete Corrêa, Jorge D’Elia e Gisele Froes e o diretor Toniko Melo. O roteirista Bráulio Mantovani chegou às 14:18. Também estava presente uma mulher que não foi apresentada, estava sem plaquinha de nome, não falou nada e saiu dali para dar lugar ao Bráulio quando este chegou. Deduzi que ela era uma “sentadora profissional”, tipo aquelas que contratam no Oscar para não deixar lugares vazios, sabe? =D

Como o filme tem várias cenas com Wagner em um avião, a primeira pergunta era natural: “você aprendeu a pilotar?”. “Todas as cenas que o avião está no chão sou eu. Não tem ninguém abaixado ali pilotando”, ri Moura. E completa: “eu consigo decolar, mas precisa de alguém lá pra pousar”.

O filme VIPs é baseado em uma história real, mas a modificou bastante. Segundo o diretor Toniko Melo, fizeram assim porque história real não se sustenta, precisa ficcionar, senão não tem arco dramático. Sobre o personagem, Toniko é polêmico: “ele é como o cartunista Laerte, ele precisa criar um personagem e se inserir nele para viver”.

A próxima pergunta é para Wagner: “como dar vida a um personagem sem identidade?”. O eterno Capitão Nascimento responde: “O olhar da mãe é importante para ele. Todos nós nos vemos através dos olhos da mãe. Tem uma cena em que isso fica bem claro, quando a mãe demonstra que não sabe exatamente quem ele é. Eu adoro aquela cena. VIPs é a história de alguém se buscando. Como todos nós”. Gisele Froes, que faz a mãe de Wagner completa dizendo que, para fazer a mãe, olhou para o menino.

Mas veja só, temos um ator argentino no elenco de VIPs. Presente na coletiva, ele também se manifesta, em espanhol. “Foi extraordinário receber um prêmio no Brasil e estou muito feliz de estar aqui ouvindo vocês falarem sem entender nada”, diz Jorge D’Elia. “Las películas brasileñas són extraordinárias”, exclama em espanhol (o portuñol foi acrescentado por mim para seu deleite humorístico), e continua “gostaria que chegassem mais delas na Argentina”.

Wagner, emocionado, intercede dizendo que, quando Jorge fala, ele sente vontade de bater palmas. E completa comemorando que seu parceiro verá o filme hoje. “E não vou entender nada”, brinca Jorge.

Então, Wagner, você chegou a encontrar o Marcelo real? “Não, não achei que era o caso. O filme não é sobre um estelionatário, mas sobre um menino que se procurava. E ele acredita que é aquele personagem. Por isso a cena do boné é tão forte. Queria que todos os meus personagens fossem tão honestos”.

Toniko emenda uma curiosidade, dizendo que o filme foi filmado em ordem cronológica e que nem todo o elenco é composto por atores. Muitos dos personagens menores eram pessoas que tinham outras funções na produção. Ele atribui a isso uma eventual irregularidade na qualidade das atuações, dizendo que tentou sempre o melhor, mas nem sempre conseguiu alcançá-lo.

Wagner também quer soltar uma curiosidade: “é a minha banda tocando no filme. Sempre que um filme precisa de uma banda, eu dou um jeito de colocar a minha”. E isso rende outro assunto: “por que escolheram Legião Urbana para o personagem gostar? Toniko responde, no próximo parágrafo.

“Na verdade a gente queria o U2, mas embora a Universal seja dona dos direitos, eles não cederam fácil, era caro demais. E fui eu que dirigi Será, o primeiro clipe do Legião, então já tinha contato com eles. E o Wagner adora a banda”. Pois é, delfonauta, o Capitão Nascimento adora o Legião. Isso afeta a forma que você vê o sujeito? =D

O roteirista Bráulio Mantovani, que havia acabado de chegar, se manifesta para falar sobre o vacilo do Marcelo real, que permitiu que ele fosse preso. Ele disse que o Toniko mandou uma carta para ele e ele respondeu, meses depois, dizendo que foi preso porque não conseguiu sair do personagem. “Nós construímos o filme a partir dessa resposta, do final para o início”.

Mas Toniko intercede, dizendo que ele se lembra de ter acontecido assim, mas aparentemente isso nunca aconteceu. “Sabe quando você teve um sonho e acha que é real? Isso acontece muito comigo”.

O momento constrangedor para Wagner vem a seguir, quando um jornalista diz que é possível achar vídeos dele no YouTube como repórter de celebridade (eu procurei para colocar aqui, mas não achei). Como o ator contracena no filme com Amaury Jr., a pergunta é se Amaury chegou a ser uma influência para Moura. Após rir muito, Wagner diz que não era como se fosse um emprego, era só algo que ele fazia para ganhar dinheiro, portanto não teve inspiração em ninguém.

E para deixar os transtornos mentais do personagem mais realistas, vocês consultaram psicólogos? Bráulio responde, brincando: “consultamos apenas nossos próprios transtornos mentais”.

Para terminar, a pergunta inevitável: como foi o convite para Wagner ir para Hollywood? “Distrito 9 é um filme bem parecido com Tropa de Elite. Ambos são filmes políticos, mas populares e divertidos. O diretor Neill Blomkamp assistiu Tropa, gostou e me ofereceu um papel bem legal, mas infelizmente não posso mais falar sobre isso”. E assim, a coletiva foi encerrada.

CURIOSIDADES PÓS-COLETIVA

Para quem só quer saber da matéria, pode parar por aqui. Agora se você gosta de saber como rolam algumas coisas não-interessantes dos bastidores, este tópico final foi feito para você.

Coletiva encerrada, rolou a tradicional sessão de fotos, que foi uma das mais tranquilas que já participei. Normalmente essas coisas são meio estressantes, com um monte de fotógrafos gritando como se estivesse na feira coisas como “olha aqui” ou “não, olha aqui”.

Quando é assim, é pior para os fotógrafos, mas quando é tranquila, acredito que seja pior para os fotografados. Afinal, eles ficam abraçados e rindo, sem fazer nada, por alguns minutos. Deve ser para lá de constrangedor. O engraçado dessa vez foi a reação de Toniko, que começou a conversar com os fotógrafos. “Essas câmeras de vocês são um espetáculo, hein? Mas por que faz barulhinho? É digital?”, brincava o diretor.

Sessão encerrada, empacotei minhas coisas e fui para a escada rolante do Kinoplex. Pouco depois, vi que os atores Wagner e Ariete entraram na escada, logo atrás de mim. Não nos falamos, eu fiquei escolhendo o que ouvir no iPod e eles ficaram conversando entre si.

Ao chegar no térreo, decidi fazer uma ligação e parei de andar enquanto discava. Eles passaram por mim e foram em direção a um restaurante que fica ao lado do cinema. Depois de discar, comecei a andar, pouco atrás deles, e daí rolou a parte engraçada.

Um bando de homens adultos e engravatados passou pelos dois atores e, poucos passos depois, pararam com cara de ponto de interrogação, olharam para trás e começaram a se cutucar e a agir como se estivessem olhando para a bunda de uma gostosona com pouca roupa.

A partir daí, eu passei por eles, os atores entraram no restaurante, eu segui meu caminho e nada mais digno de nota aconteceu. Tirando o fato de meu fone de ouvido ter quebrado e eu ter voltado para o Oráculo sem ouvir música por causa disso. Alguém sabe por que diabos nenhum fone de ouvido dura mais do que dois meses? =P

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