Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar

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Eu gosto muito do trabalho do jornalista Ricardo Alexandre e sua visão sobre música em geral. Acompanhava a saudosa revista Bizz na época em que ele a dirigia e mais recentemente li seu livro Dias de Luta: O Rock e o Brasil dos Anos 80, o qual, conforme o subtítulo entrega, apresenta um panorama de toda a explosão do Rock nacional na década de 1980, contextualizando-o com o momento político e social que o país atravessava.

Embora eu não seja assim o que se poderia chamar de um grande fã do Rock produzido no país, também não torço o nariz para ele. Gosto de um bom número de bandas nacionais, ainda que não coloque nenhuma em um Top 10 ou mesmo um Top 20, por exemplo (bom, talvez os Mutantes…).

Mas eu gosto de histórias sobre música em geral, mesmo envolvendo bandas ou artistas que não aprecie. Às vezes as histórias de bastidores podem ser muito mais divertidas do que as músicas produzidas. E tendo gostado bastante de Dias de Luta, quando soube que ele iria lançar um novo livro sobre o Rock BR, fiquei bem ansioso para lê-lo.

Contudo, é preciso avisar que Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar não é uma continuação do livro anterior. Dias de Luta era um livro-reportagem que contava de forma minuciosa toda a história da cena dos anos 80. Este é bem menos ambicioso. Despretensioso, na verdade. É um apanhado de textos curtos originalmente publicados no blog do jornalista, mas que juntos formam um panorama com começo, meio e fim.

Cobrindo o período de 1993 a 2008, retrata através da visão do autor, sempre muito presente e atuante na cena, o último período realmente criativo do Pop/Rock nacional, com o surgimento de bandas como Skank, Raimundos e Planet Hemp, dentre outras. Bem como relembra o manguebeat de Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, a época dos festivais, como o Abril Pro Rock e por aí vai.

Testemunha também o gradual processo de mudança da indústria musical, e também o modo de se informar sobre música, o que acabou por matar boa parte das revistas sobre o tema publicadas por aqui (a tremendona Bizz inclusa). Cobre também a perda de relevância do Rock, atropelado por outros gêneros que se tornariam mais populares entre os ouvintes tupiniquins.

E observa em primeira mão o surgimento do Rock burro e anódino, de bandas como Charlie Brown Jr., CPM22 e outros congêneres, o que levaria ao que quer que se chame de Rock hoje em dia nesse país, feito por um bando de moleques sem noção com calças mais apertadas do que remuneração de jornalista. Jovens que acham que fazer os chifrinhos com os dedos e mostrar a língua é atitude, enquanto tocam guitarras mais inofensivas do que um liquidificador e cantam letras semelhantes à dor de corno tão propagada pelos sertanejos. Em suma, uma tristeza.

É um livro curto e rápido. Se você se empolgar, dá até para matar num dia. Cada capítulo conta com uma média de quatro páginas, o que o torna ainda mais dinâmico. Mas, no entanto, também não é tão analítico quanto poderia ser caso fosse um trabalho mais denso, na linha do próprio Dias de Luta.

No entanto, a proposta aqui nunca foi essa, e dentro dessa concepção de análises rápidas e causos e anedotas curtas e certeiras, funciona bem. Para quem gosta da cena do Rock nacional abordada aqui, ou mesmo para quem, como eu, apenas aprecia boas histórias sobre quem faz e quem transita entre o meio musical, Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar é uma leitura bastante divertida e também informativa.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
cheguei-bem-a-tempo-de-ver-o-palco-desabarPaís: Brasil<br> Ano: 2013<br> Autor: Ricardo Alexandre<br> Número de Páginas: 256<br> Editora: Arquipélago Editorial<br>