5 bandas nacionais que morreram com a MTV

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

Sou órfão da MTV dos anos 90. Ela moldou, e muito, o meu gosto musical e sou grato por isso eternamente. E acho que boa parte dos delfonautas com mais de 25 anos também devem se sentir assim, órfãos do que um dia foi o melhor canal da televisão aberta de todos os tempos.

Hoje em dia é quase impossível assistir à MTV. Para quem já experimentou o melhor que ela poderia apresentar, ver uma programação onde mais de 90% do conteúdo não te agrada, é de matar o velho!

Com a antiga MTV, aprendi a gostar de rock nacional. E acredite, antes, o rock nacional tinha uma grande quantidade de bandas legais, bandas de rock mesmo e não os genéricos da vida que você vê por aí hoje em dia. Mas muitas dessas bandas eram inteiramente ligadas ao canal, então muitas delas simplesmente sumiram quando a MTV começou a esquecer que o M do seu nome significava “Music” e a perder a cara que ela ganhou nos seus primeiros anos de vida. Sem divulgação e sem exposição na mídia, as bandas simplesmente sumiram e cada um foi fazer algo diferente da vida. Ah, e a falta dessa exposição também está ligada ao rádio, com o fim da 89 FM e muitas outras rádios rock Brasil afora.

E como muita gente não gosta de rock nacional o suficiente para procurar grupos dessa época, que não ficaram tão famosos como, por exemplo, os Raimundos, mas tiveram a sua importância na música brasileira, seja no mainstream ou no underground, o DELFOS resolveu fazer um apanhado de algumas bandas legalzudas da década de 90, fazendo uma pequena viagem no tempo e relembrando o rock sacana, o rock alternativo,o rock engraçado e tudo o que era feito naquela época.

Se você assistia à MTV neste período, vai gostar de relembrar. E se você é um delfonauta da idade da Joanna, aposto que vai gostar de conhecer alguma dessas bandas.

RUMBORA

A banda mais conhecida dessa matéria e que fez certo sucesso na mídia.

Formada por Alf (guitarra e voz), Beto (baixo), Biu (guitarra) e Bacalhau (bateria), o quarteto de Brasília lançou três CDs em sua curta carreira. O primeiro foi o 71 (1999), um ótimo CD de estreia que já emplacou logo de cara o hit Chapirous, o primeiro single do CD. Logo depois veio Ó do Borogodó e Skaô, que foi o maior sucesso deste debut e que ajudou ainda mais a banda a estourar nas rádios e na MTV.

Depois veio o Exército Positivo e Operante (2000) e a consagração. A música O Mapa da Mina estourou em todos os lugares e a banda se consagrou nacionalmente. Ah, e quando eu digo que a música estourou em todos os lugares, dá uma olhada no vídeo abaixo para você entender o que eu quis dizer.

Pausa para curiosidades do vídeo. O Rumbora zoou bastante no programa do Raul Gil. Alguns dos integrantes trocaram de instrumentos. O Bacalhau, que era o baterista da banda, assumiu o baixo e o Beto foi para a “bateria”. Prova viva que todo mundo só se ligava na música e não na banda. E dá-lhe playback!

O CD tem várias outras músicas legais, como Mal do Mundo, O Passo do Azuilson e a regravação Veste o Uniforme.

Depois deste CD, a banda começou a se desfazer. Primeiro saiu o Bacalhau e entrou o Fabricio. Depois, o Fabricio pediu arrego e levou junto com ele o Biu. Aí entrou o Leandro na bateria e o grupo se fechou em um trio. Em 2003, veio o terceiro álbum, Trio Elétrico, com uma proposta diferente de som. O álbum não me agradou em nada e parece que não foi o suficiente para manter a banda unida por muito tempo, pois em 2005 o Rumbora encerrou as suas atividades.

Onde estão os integrantes hoje? O Bacalhau se deu bem, entrou no Ultraje a Rigor e já gravou vários CDs com a banda. O Alf tocou baixo nos Raimundos e depois formou o Supergalo, projeto que só lançou um álbum, que é ótimo do começo ao fim. Do Biu não se tem notícias e o Beto trabalha com mídia online, mas por algum motivo nunca nos contatou para anunciar no DELFOS e ganhar dinheiro pra burro.

OSTHEOBALDO

Uma banda com relativo sucesso na mídia, que misturava Rock, música nordestina, funk, metal e às vezes até um vocal em espanhol. E as letras eram bem humoradas, algumas sacanas, mas tudo funcionando perfeitamente bem, acredite.

Com apenas dois CDs na sua curta carreira, Ostheobaldo (1996) e Passa o Corredor (1998), a banda teve um rápido destaque na mídia. Primeiro com a música Arrasa Quarteirão, cujo clipe teve a participação da Globeleza Valeria Valenssa, o que poderia ser considerado um luxo na época, pois ela fazia bastante sucesso no carnaval.

Rápido comentário: não achei em nenhum lugar o clipe original, então resolvi colocar essa apresentação legalzuda deles.

Do primeiro CD, dá para destacar ainda as faixas Homem com H, Cincocontraum e Funk do Edmilson.

Já no segundo, a banda mostrou um pouco de amadurecimento na parte musical. Passa o Corredor tem músicas bem engraçadas, como El Cafeton e Tô na Boa. O destaque do disco ficou com a música Preta Véia, que ganhou grande destaque nas rádios e na MTV e provavelmente se fosse lançada hoje se chamaria “Afrodescendente de Idade Avançada”.

A banda acabou no ápice do seu sucesso. O vocalista Jonny deixou a banda e logo formou o Toatoa, que não fez sucesso nenhum. O restante da banda, Léo (guitarra), Román (baixo), Baía (Percussão) e P.G (bateria), se juntou ao vocalista Egypcio, e hoje eles são o Tihuana.

FUNK FUCKERS

A banda é uma das mais sacanas que eu já ouvi na vida. E tudo por causa do mentor BNegão.

O Funk Fuckers surgiu mais ou menos na mesma época que o Planet Hemp e, por coincidência ou não, o vocalista BNegão estava nas duas. Um puxou o outro para o sucesso.

Mas acredito que a banda nunca faria sucesso, como o Planet Hemp fez com suas músicas de protesto. O Funk Fuckers era uma banda que não se levava tão a sério. Suas letras eram bem humoradas e sacanas. O instrumental era um destaque à parte para a época, pois a banda misturava funk carioca, rock, rap, hardcore e funk. Para fazer um comparativo, acho que o som deles poderia ser algo entre Red Hot Chili Peppers antigo, da fase anterior ao Mother’s Milk, e Infectious Grooves.

Bailão Classe A foi o único CD da banda e teve varias participações especiais, como alguns membros do Planet Hemp e o Edu K, do DeFalla. Entre as faixas mais legais estão Búlica, Marieta, BPM e Mary Diesel.

Muito se fala sobre o fim da banda, e até já ouvi que o BNegão se envolveu com religião e por isso abandonou a putaria e afins, mas o fim da banda está inteiramente ligado ao que o BNegão decidiu, e o Funk Fuckers não era sua prioridade. Depois que deixou a banda, ele se aventurou por um tempo com o Planet Hemp, fez o Turbo Trio e depois partiu para uma excelente carreira solo, com o seu projeto B Negão e os Seletores de Frequência. Atualmente ele divide seu tempo entre a carreira solo e a volta do Planet Hemp. Quanto aos outros integrantes, não se tem notícias.

KARNAK

Quando um grupo de bandas surge, sempre tem uma delas que é a mais alternativa de todas. E a dessa noticia é o Karnak.

Quem deu início ao projeto foi o André Abujamra, figura conhecida no mundo artístico, pois o cara é ator, cantor, compositor e sei lá mais o que ele faz nas horas vagas, além de ter um pai famoso que sem dúvida ajudou muito.

A ideia da banda era simples: fazer música brasileira, pop e rock, com influência musical de diversas partes do mundo. E para isso, André montou o Karnak com vários amigos seus. A camaradagem foi tanta, que chegou ao ponto do grupo ter 15 pessoas na formação. Tinha dois bateristas, uma dançarina do ventre e até um cachorro.

A banda não fez sucesso em rádio, mas a MTV ajudou muito na carreira deles. O primeiro single, Comendo Uva na Chuva, do álbum Karnak (1995), fez um enorme sucesso e levou a banda a ser conhecida nacionalmente.

Depois disso vieram os álbuns Universo Umbigo, de 1997, e Estamos Adorando Tóquio, de 2000, esse inclusive com uma curiosidade especial, pois o álbum foi vendido em bancas de jornais, com o objetivo de baratear os custos do processo de lançamento e evitar a pirataria.

O Karnak fez um sucesso relativo no mundo alternativo, fez shows fora do Brasil e criou um público fiel. Mas em 2002, em um show próximo ao natal, André Abujamra anunciou que a banda iria acabar. Depois do fim, eles ainda realizaram alguns shows só de brincadeira e acabaram alegrando os fãs mais saudosos.

Hoje em dia, Abujamra tem uma carreira solo e também trabalha como produtor, tendo até feito trilha sonora de filmes nacionais. Kuki, Juliano Beccari, Hugo, James e Sérgio fazem parte do legalzudo Funk Como Le Gusta. Lulu Camargo virou tecladista oficial do Pato Fu. Carneiro tocou com Zé Geraldo. Infelizmente, não sabemos o paradeiro dos outros milhares de membros, mas os principais estão ai!

LITTLE QUAIL AND THE MAD BIRDS

Consenso entre fãs de rock nacional dos anos 90: Little Quail and The Mad Birds é a banda mais injustiçada da década de 90.

Formada em 1988 por Gabriel Thomaz (voz e guitarra), Zé Ovo (baixo/vocal) e Bacalhau (bateria), o Little Quail lançou somente dois álbuns, o Lírou Quêiol en de Méd Bârds (1993) e A Primeira Vez Que Você Me Beijou (1996), além de um EP, em 1998.

O som dos caras era muito bom e repleto de letras engraçadinhas, que acabaram muito conhecidas no underground, mas por algum motivo que ninguém sabe dizer, não emplacaram nas rádios e até na MTV o sucesso foi pequeno.

Músicas como 1,2,3,4, Família Que Briga Unida Permanece Unida e Aquela são alguns clássicos da banda. E Aquela foi até regravada pelos Raimundos. Essa parceria entre eles também apareceu em I Saw You Saying, que é de autoria do Gabriel Thomaz. Um típico caso onde a versão regravada fez mais sucesso do que a original. Um crime contra o Little Quail.

Com tantas tentativas fracassadas, a banda acabou e cada um foi fazer algo da vida. O Zé Ovo virou roadie, mas nunca mais voltou a estar em uma banda. O Gabriel Thomaz formou o legalzudo Autoramas e o Bacalhau é o mesmo que já apareceu nessa matéria. Ele formou o Rumbora e depois foi para o Ultraje a Rigor.

Ainda é possível assistir a um show do Litte Quail and The Mad Birds. Ocasionalmente, eles ainda se apresentam por Brasília, onde tocam para um pequeno público e fazem a festa dos saudosos fãs, tocando quase que na integra os dois álbuns da banda.

MENÇÃO HONROSA: Muitas bandas ficaram de fora dessa lista, mas merecem um pequeno destaque. A maioria são bandas que fizeram bastante sucesso com uma música só e simplesmente desapareceram. Ou então tiveram um single de grande destaque e as músicas seguintes não conseguiram manter a banda em evidencia. São elas:

Maria do Relento

Catapulta

Jorge Cabeleira

Tantra

Profeta

Virna Lisi

Lagoa

Revista de Mulher Pelada

Os Ostras