Aulas de desenho com Rob Liefeld

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Então você quer ser um desenhista de quadrinhos conhecido mundialmente? Quer ter seu nome estampado no título de seu super-herói favorito e desfrutar de toda a fama, prestígio, dinheiro e mulheres que a condição de artista superstar oferece?

O quê? Você não dispõe de tempo e/ou bufunfa para um curso daqueles caprichados? Ora, como diriam as Organizações Tabajara, seus problemas acabaram. Isso mesmo, amiguinho, você não precisa desistir de tão nobre sonho.

Especialmente para você, que tem pouco tempo nas mãos e nada no bolso, apresento-lhe o Método Rob Liefeld de desenho, totalmente na faixa e com valiosas dicas para você atingir o estrelato do mercado dos comics em tempo recorde. E o melhor, em pouquíssimas lições.

Tudo isso com base nos trabalhos do mito, da lenda, do ser iluminado, do majestoso, do polêmico, do controverso, do… do… meus adjetivos acabaram, mas enfim, do mega-astro Rob Liefeld, o homem que todos adoram odiar. Gênio incompreendido, Liefeld é um artista à frente de seu tempo, requisitado pelas grandes editoras e campeão de vendas. E se você seguir seus passos, logo estará rodeado por pacotes de dinheiro e muitas groupies.

É como eu sempre digo, se você quer aprender a fazer algo, aprenda com o mestre. Preparado? Mas antes, um aviso: todos os exemplos práticos das lições encontram-se em nossa galeria de fotos. No fim de cada lição, está especificado qual foto você deve consultar para ver como mestre Rob lida com as situações comentadas. Os números se referem às fotos da esquerda para a direita e de cima para baixo, da mesma forma que lemos e contamos aqui no ocidente. Tudo certo? Com tudo esclarecido, vamos às lições!

1 – Noção de anatomia é supérfluo

Como se trata de um curso relâmpago, a primeira lição é a mais valiosa. Saber anatomia é completamente desnecessário. Veja o trabalho de mestre Liefeld, criador de nosso método. Membros desproporcionais em relação ao tronco, músculos inexistentes, punhos cerrados da mesma grossura do braço, tudo culminando no exemplo máximo deste tópico, o já popular “Capeitão América”, com seu peitoral inalcançável até por um Mister Universo.

Mas se alguém criticá-lo por sua falta de conhecimentos em anatomia, você pode sempre dizer que manja do assunto sim, mas optou por refinar um estilo próprio, que não se prende a regrinhas canhestras das aulas de arte. Afinal, entre o feijão com arroz e o estilo próprio, prefira sempre a segunda opção.

Ver Exemplos 1, 2 e 3.

2 – Fundos? Para quê?

Me diga uma coisa, se você está lendo uma história recheada de justiceiros marombados e gostosas peitudas, você perde tempo reparando nos cenários? Você fica vendo se há prédios no enquadramento ou quadros nas paredes? Ou mesmo paredes?

Mestre Liefeld com certeza não, e para não somente evitar trabalho desnecessário como para produzir mais rápido, optou por eliminar esse pequeno detalhe insignificante. Afinal, se seus personagens estão em primeiro plano, naquela tremenda pose de ação, quem é que vai ficar olhando os outros detalhes do quadrinho?

Por isso, peça para o seu colorista tacar umas corezinhas básicas ou um degradê no fundo e corra para o abraço.

Ver todos os Exemplos, especialmente o 10.

3 – Não confie em ninguém com menos de 50 dentes

Essa poderia estar incluída no tópico 1, mas, como chama mais atenção, resolvi separar. Não há nada como um sorriso Colgate. As minas curtem e causa um efeito bacana nas páginas e tal. Então, nada mais óbvio que maximizar isso desenhando seu personagem com uns 50 dentes à mostra. Dá um efeito bacana, especialmente para mostrar a raiva no rosto de seu personagem.

E com isso, matamos dois coelhos com uma caixa d’água só, pois ao utilizar essa técnica você não precisa se preocupar em conseguir passar emoções através das expressões faciais. É simples, se o carinha estiver de boca fechada, ele está calmo. Com seus inúmeros dentes à mostra, está nervoso. O quê? Existem mais de duas emoções? Hã, bem… próxima!

Ver Exemplos 4, 5 e 6.

4 – Mulheres consistem em problemas de coluna e rostos iguais

Todos sabem que desenhar mulheres é bem mais difícil do que desenhar homens. O grande Liefeld arranjou um modo de tornar essa tarefa sopa no mel. Basicamente, você vai usar o mesmo formato de rosto sempre, mudando-se apenas a cor dos cabelos, sobrancelhas e olhos (mas isso novamente é um trabalho para o colorista). Para eliminar qualquer dúvida de que se trata de uma mulher, é só desenhar os lábios carnudos, como se ela estivesse sempre de batom, afinal apenas mulheres usam batom, certo? Não é?

Agora que passamos pelo rosto, vamos ao corpo. Maneire nos músculos, afinal ninguém gosta de garotas que podem quebrar a sua cara. E o mais importante, use curvas, muitas curvas.

Não tenha vergonha em exagerar no tamanho das pernas. Desenhe-as com 3 metros de perna e os leitores vão babar. E lembre-se, não é irreal, é apenas estilo. E mais, mestre Liefeld fez uma importante descoberta. Absolutamente TODAS as gatinhas têm algum tipo de problema na coluna. E uma mulher curvada, com as costas em S é sexy e você sabe.

Ver Exemplos 1 e 7.

5 – Armas não matam pessoas, segurá-las mata pessoas

Como em breve você será mais famoso que o Spielberg, irá sair com supermodelos e trabalhar para a Marvel e a DC ao mesmo tempo, não terá tempo de se dedicar a coisas inúteis como perspectiva.

Ora, mas por que eu preciso de perspectiva se não vou desenhar fundos e cenários? Simples, seus personagens invariavelmente terão de segurar armas, e para isso, um mínimo de conhecimento de perspectiva é necessário. Mas não entre em pânico. Veja como Rob contorna essa adversidade.

Desenhe a arma encostando na mão fechada do personagem e sempre opte por mostrá-lo com as costas da mão voltadas para o leitor, nunca o contrário, pois aí você terá de desenhar os dedos e isso é um trampo desnecessário. E desta forma, ele e os críticos (malditos sejam todos!) nunca irão sacar que na verdade seu herói está é de mãos vazias, com um trabuco flutuando no espaço.

Ver Exemplos 2, 3, 4, 6 e 8.

6 – Corrigir erros? Nunca!

Como um desenhista atarefado e cheio de prazos a cumprir, dinheiro a gastar e minas a xavecar, eventualmente a pressão do trabalho, o grande volume de material a produzir e et cetera e tal fará com que você cometa alguns erros. Mas não entre em pânico. Você não precisa perder mais de seu precioso tempo refazendo o que errou. Afinal, o grande Rob não corrige os seus deslizes, então por que você deveria?

Vejamos alguns exemplos do tremendão. No Exemplo 4, note bem os olhos do Shatterstar. Não bastassem ser pequenos demais em relação ao rosto, eu diria que o olho direito (aquele que não está brilhando) está um pouco longe demais do nariz, praticamente colado na orelha (escondida pela tiara do rapaz). Mestre Liefeld deve pensar “quem liga para esse pequeno deslize?”, afinal ele desenhou uma espada gigante em primeiro plano, que desvia a atenção imediatamente para ela. E ainda se deu ao luxo de mostrar refletido nela um outro personagem, algo que ele não faz todo dia. Compensação pouca é bobagem!

Já no Exemplo 1, no personagem que está em primeiro plano, repare em sua mão. Onde está o polegar do caboclo? Falta de atenção? Mera preguiça? Nada disso, basta dizer que o polegar está escondido pelos outros dedos (embora não seja muito comum as pessoas fecharem as mãos dessa forma) e pronto, o erro vira estética, que se repete no Exemplo 2. Simples assim, você escapa de ter de refazer desnecessariamente seu trabalho.

Ver Exemplos 1, 2 e 4.

7 – Moda para super-heróis

Pronto, você aprendeu a desenhar e resolveu criar seu próprio personagem. O importante nesse caso não é a originalidade ou seu desenvolvimento. O principal é a roupa. Um uniforme vistoso é garantia de sucesso. Não precisa ser funcional, afinal, estamos falando de ficção. Basta ser chamativo. Exageros podem ser interpretados como ridículos, mas lembre-se, o personagem é seu e você o veste como quiser. E no fim, o Super-Homem usa a cueca por cima das calças!

Ver Exemplos 3, 8 e 9.

É isso, com 15 minutos você já aprendeu todo o necessário para uma vida almejada por muitos e conquistada por poucos. Agora é só criar seu portfólio, divulgar seu trabalho e esperar as ligações das editoras, e posteriormente os cheques polpudos. Não precisa me agradecer. Agradeça ao criador e fonte de inspiração deste método. Vida longa ao mestre Rob Liefeld!

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