As Torres Gêmeas

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Ok, vou admitir. Como a maior parte dos brasileiros (e, provavelmente, dos terráqueos), eu não gosto dos EUA. Mesmo assim, estava com alguma vontade de assistir aos dois filmes sobre o ataque ao World Trade Center. Eu sinceramente gostaria de saber mais sobre o que aconteceu e acho que o assunto rende boas obras de ficção. Pois se Vôo United 93 foi um cocô de proporções hercúleas, eu ainda assim esperava que este fosse, senão tremendão, ao menos um filme de ação de respeito. Pois é, delfonauta. Enganei-me.

As Torres Gêmeas consegue ser ainda mais chato do que Vôo United 93. Logo no início os prédios caem, soterrando vários policiais que estavam no prédio e deixando vivos apenas dois: o sargento John McLoughlin (Nicolas Cage) e Will Jimeno (Michael Pena). Os dois ficam soterrados nos escombros e, a partir daí, o filme se divide. Então vou aproveitar a deixa e dividir também em dois parágrafos.

De um lado, temos os dois soterrados em um cenário deveras escuro e que passam o tempo todo falando das suas esposas – para completar o fator clichê, McLoughlin está em um momento difícil do relacionamento e Jimeno será papai em poucos meses. Como se isso já não fosse vergonhoso o suficiente, McLoughlin ainda fica falando coisas como “é culpa minha, eu fiz eles entrarem no prédio”, enquanto o colega fica com aqueles papos de psicólogo do tipo “nós quisemos seguir você, quisemos estar com o melhor”.

(pausa para o vômito)

Do outro, temos as esposas, desesperadas por não saberem o destino de seus maridos. E toma mais coisas clichês, como o fato da futura mamãe decidir chamar a futura filhota do nome que o marido queria em detrimento do que ela normalmente escolheria e por aí vai.

Muitas coisas também não fazem sentido. Por exemplo, tem uma cena em que jatos de fogo começam a ameaçar os dois soterrados. Essa, na verdade, é a única cena emocionante do longa, mas acontece do nada, sem nenhum motivo aparente e, da mesma forma que começou, pára. Em outra cena, um revólver de um dos policiais mortos começa a atirar até acabar a munição. Novamente, sem nenhum motivo aparente (sem contar que ele solta bem mais do que seis tiros, mas pode ser que os revólveres da polícia nova-iorquina tenham um cartucho maior, sei lá).

Isso tudo fica ainda pior para mim pelo fato de que eu, de forma alguma, consigo ver policiais como heróis (talvez por isso não curta o gênero cinematográfico de mesmo nome). Já tive algumas experiências bem negativas com eles sem eu ter feito nada de errado. Chegou a ponto de uns amigos e eu termos tido armas apontadas para nossa cabeça sem nenhum motivo racional – estávamos conversando no carro estacionado e ouvindo música e eles chegaram de arma em punho nos fazendo “sair do veículo” sem nenhum respeito ou explicação. Em outra situação, tive o som do carro roubado no Rio de Janeiro e fui à delegacia. Além de ter sido tratado super mal por não ser carioca, a vadia que me atendeu ainda reagiu como quem não tivesse nada a ver com o problema, deixando claro que não tinha nenhuma obrigação relativa a isso. E essas são apenas duas experiências, tive outros contatos com policiais e todos foram dessa forma, deixando claro para mim que, se existe algum policial bom no Brasil, é a exceção e não a regra.

Divagações à parte, As Torres Gêmeas é apenas mais um episódio no condicionamento “EUA bom”, “Oriente Médio mau”, o que fica bem claro em uma das cenas finais, onde o narrador diz que o 11 de setembro deixou claro o lado mau do ser humano (exatamente com essas palavras), como se tivesse sido um ataque feito completamente sem motivos (o pior é pensar que existem pessoas fora dos EUA que realmente acreditam nisso). Se você é um grande fã dos EUA ou de policiais, talvez encontre algo que o agrade aqui. Para todas as outras pessoas, simplesmente passe longe.

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