As maiores polêmicas do Rock em 2014

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Dando prosseguimento às listas da retrospectiva delfiana de 2014, hoje nós vamos falar das maiores polêmicas do Rock que aconteceram no ano passado. Sou obrigado a dizer que minha memória devia estar muito fraca, porque eu jurava que 2014 tinha sido um ano bem pacato. Qual não foi a minha surpresa ao relembrar, em pesquisas na internet, da quantidade de polêmicas que rolaram?

Algumas, por sinal, foram bem sérias: quem aqui não se lembra do Lobão e Roger em seus embates políticos na internet? Ou do Zoombie Ritual, festival brasileiro de Heavy Metal que estava se tornando tradição e acabou se tornando o novo Metal Open Air? Vamos combinar que só essas histórias já renderiam um ótimo texto.

Contudo, devo dizer que esses casos não estão na lista abaixo. Sou obrigado a admitir que eles poderiam muito bem estar, mas, ao contrário, preferi escolher outros tão emblemáticos quanto, e que me marcaram mais do que os supracitados. Mas antes de começar, vamos às menções.

MENÇÃO HONROSA – ROCKSTARS E PROBLEMAS DE SAÚDE

2014 foi um ano em que a saúde e a música estiveram bem próximos. O Desafio do Balde de Gelo, por exemplo, rodou bastante entre os rockstars. Um dos melhores vídeos da campanha, inclusive, foi de um rockstar: Jason Becker, ex-guitarrista que tocou no Cacophony e com David Lee Roth. Para quem não sabe, Jason Becker se aposentou devido à Esclerose Lateral Amiotrófica, a doença que o Desafio em questão buscava divulgar.

Além disso, tivemos também a aposentadoria compulsória de Malcolm Young, guitarrista do AC/DC, que foi afastado da banda por problemas de saúde não muito bem explicados. E, por fim, houve o suicídio de Fausto Fanti, o eterno Blondie Hammet, do Massacration, que acredita-se ter ocorrido devido a um quadro de depressão.

O único motivo para isso não entrar na lista é o fato de tal caso não ter gerado uma polêmica em si. Não havia dois pólos confrontantes, mas sim todos em prol de uma mesma causa. As redes sociais ficaram lotadas de mensagens e tais casos mostraram que, quando o motivo é nobre, a mobilização no mundo do rock pode sim ser grande.

MENÇÃO HORROROSA – O ROCK NO ROCK IN RIO

No ano passado foram anunciadas as primeiras atrações da Edição 2015 do Rock in Rio, e além de bandas pesadas como Nightwish e System Of A Down, também foram confirmados Katy Perry e John Legend. Com isso, tivemos mais uma vez pessoas polemizando a respeito do Rock in Rio possuir no cast bandas que não são de Rock – e eu mais uma vez me perguntei como em 2014 ainda tem gente que encrenca com bandas de outros estilos no festival.

Bandas que não são do viés mais pesado da música se apresentam no evento desde a sua primeira edição, quando estiveram presentes George Benson e Al Jarreau. Além do mais, o Rock in Rio há muito deixou de ser uma ode ao Rock – se é que um dia já foi – para se tornar um espetáculo para todos os gostos, então simplesmente não faz sentido reclamar disso.

Mas o que incomodou mais foi que, no anúncio do Monsters of Rock, muitos comentavam coisas como “Isso que é festival de Rock de verdade, não aquela @#$% de Rock in Rio. No fim das contas, a conclusão é que as pessoas não querem um festival que lhes apeteça, mas sim um motivo para reclamar. E agora, finalmente, vamos à lista principal.

5 – RED HOT CHILI PEPPERS DUBLANDO NO SUPER BOWL

O Super Bowl, que ocorreu em fevereiro de 2014, foi ótimo: todos gostaram do jogo, da performance de Bruno Mars e muito ainda se falou sobre a pequena apresentação do Red Hot Chili Peppers. O problema foi que quem estava mais atento reparou que o instrumento do baixista Flea não estava conectado a lugar nenhum.

A banda foi massacrada nas redes sociais pela dublagem em um evento de proporções mundiais – a maioria das pessoas entende a dublagem em um programa de TV, mas no Super Bowl? Músicos do cenário mundial também teceram comentários a respeito da situação. O guitarrista Joe Bonamassa twittou a respeito, dizendo “Flea… quer dizer, todos nós sabemos, mas, pelo amor de Deus, tente ao menos alegrar as crianças”.

Axl Rose, no entanto, foi mais além, e deixou uma enorme mensagem, cujo pequeno trecho traduzido eu deixarei aqui: “Talvez todos eles tenham tido microchips instalados em suas bundas e eles não só captam as frequências de seus instrumentos como também peguem TV por satélite e sinal de internet também! Tipo o Google Glass… Google Ass!” Esse foi só um pequeno pedaço da mensagem, e se você quiser ler a mesma na íntegra, clique aqui.

Flea, poucos dias depois, deixou um comunicado oficial a respeito da situação. O baixista explicou que a banda sempre foi contra dublagem e que nas poucas vezes em que isso aconteceu todos ficaram desconfortáveis, mas que tocar no Super Bowl seria uma grande oportunidade e valeria a pena mesmo que fosse necessário dublar.

Ele inclusive explicou o porquê de um evento de tal magnitude ser dublado: o palco é montado em poucos minutos, então o risco de ter algum problema de áudio caso fosse tudo gravado ao vivo era enorme, então apenas os vocais não eram gravados.

O músico também justificou o fato de não ter ao menos fingido que estavam tocando ao vivo: “Poderíamos tê-los plugado para evitar que as pessoas ficassem desapontadas ao saber que a parte instrumental da música tinha sido pré-gravada? Naturalmente, seria mais fácil e não representaria um problema. Mas achamos melhor não fazer de conta, parecia a coisa mais certa a se fazer nestas circunstâncias. Era como gravar um vídeo de música na frente de um zilhão de pessoas, excetuando os vocais, e a única forma de se fazer isso. Nossa única ideia era mostrar para as pessoas quem realmente nós somos.”

Abaixo segue o vídeo da fatídica apresentação, e se quiser um close perfeito do baixo não-plugado de Flea, pause em 7:54. Você também pode conferir uma imagem da situação na nossa galeria.

4 – RAIMUNDOS VS. RODOLFO ABRANTES

Tudo começou quando saiu um trecho de uma entrevista de Rodolfo Abrantes, ex-membro do Raimundos, à revista Trip. Quando perguntado a respeito das letras da banda, Rodolfo declarou “100% de arrependimento” – big mistake.

Horas depois, Digão, ainda membro do grupo, postou uma mensagem no Facebook questionando o fato de ele se dizer arrependido mas ainda assim receber 100% dos direitos autorais das músicas da banda. Só que a briga não parou por aí: o baixista Canisso também se pronunciou a respeito, chamando o ex-companheiro da banda de hipócrita e dizendo: “Passam os anos e nada, o nosso Rodolfo morreu mesmo…”.

Ainda houve um tweet de Rodolfo, dizendo que “mantenedor a gente não escolhe, mas agradece a Deus por eles. Deus abençoe com saúde meus queridos mantenedores.”, seguido de uma citação de uma passagem bíblica. Essa passagem falava a respeito de uma funcionária de Herodes que usava o dinheiro na obra de Cristo.

Nos dias subsequentes ainda houve mais. Rodolfo deu uma nota oficial, em que explicava a sua declaração: “Arrependimento verdadeiro não é remorso, ele não aponta pro passado numa tentativa inútil de tentar apagá-lo. Ele aponta pro futuro, tipo “daqui por diante, bola pra frente”. Meu maior arrependimento é o de ter tido, por um período de tempo, uma geração me ouvindo, e não tê-la edificado como gostaria, pois, naquela época, eu não tinha o entendimento que tenho hoje.” Ele ainda disse que não vivia às custas do Raimundos, mas sim de tudo o que escreveu desde aquela época até os dias de hoje.

Digão, então, soltou mais uma nota, em que questionava a veracidade dessa última declaração: “Se o Rodolfo não se lembra, os fãs menos ainda, porque tudo o que ele fez FORA do Raimundos não tocou ou toca em rádio. Shows em cultos como os que ele faz o ECAD também não recolhe, pois igrejas não pagam impostos, eu liguei para conferir. O grosso do que ele recebe (95% pra mais) vem do Raimundos, portanto, o Rodolfo dizer de cara lavada “eu não vivo às custas do Raimundos” só eleva a hipocrisia dele a níveis astronômicos….”

Muitos defenderam a possibilidade de Rodolfo continuar recebendo pelo que escreveu, afinal, também fez parte daquele momento. Outros ainda questionaram Digão, pois se ele acha que Rodolfo não deveria receber por não estar mais lá, ele também não deveria continuar tocando as músicas pelo mesmo motivo. Ainda havia os que defendiam que o tempo passou para ambos e que uma parte deveria deixar a outra em paz. Verdade seja dita, essa polêmica só mostrou que é praticamente impossível acontecer uma reunião da formação original do Raimundos. Assim sendo, deixo aqui um vídeo antigo dos tempos de ouro da banda.

3 – PÚBLICO DO GLASTONBURY VS. JAMES HETFIELD

Quando o Metallica foi anunciado como headliner no Glastonbury, houve uma mobilização dos fãs para retirar a banda do cast do evento. Os motivos seriam o fato de uma banda de Metal não se encaixar na proposta do festival, que é muito mais voltado para o indie. Mas as críticas mais pesadas foram mesmo ao fato de James Hetfield adorar caçar e naquele período ter sido anunciado como narrador de um programa de TV sobre caça.

Quanto ao primeiro motivo, as manifestações foram moderadas. O maior destaque se dá a Alex Turner, frontman do Arctic Monkeys, que questionou a presença da banda no evento exatamente por esse motivo.

Contudo, os defensores dos animais foram os que mais se mobilizaram. Foram criadas campanhas grandes na internet, exigindo que a banda fosse expulsa do festival, e defendendo que uma pessoa pública como James Hetfield não deveria se envolver com uma atividade tão questionável.

O fato é que eles não só se apresentaram como fizeram uma introdução de show à altura da polêmica. O tradicional trecho do filme Três Homens em Conflito foi seguido de uma cena de caça de raposa em que, no final, não só a raposa consegue fugir como os quatro membros da banda também aparecem em uma forma um tanto mais “selvagem”. Confira o vídeo abaixo e também a imagem de Lars Ulrich na galeria:

E como se não bastasse, eles também aproveitaram o show para agradecer o espaço dado a bandas de Heavy Metal no festival, dedicando a música For Whom the Bell Tolls a “todos que esperavam por alguém como o Metallica no festival e também a todas as bandas de Metal da Grã-Bretanha que já sonharam ou sonham em tocar no Glastonbury.”

2 – AVRIL LAVIGNE E O MEET AND GREET DESASTROSO

Avril Lavigne veio a terras tupiniquins fazer shows e, como muitos artistas fazem, vendeu entradas para um meet and greet. Só que, pouco tempo depois, vazaram as fotos do mal fadado meet and greet, em que os fãs não podiam encostar na cantora, e tudo virou uma bola de neve.

Muita gente aproveitou o ocorrido para propagar ainda mais a ideia de que no Heavy Metal as bandas são mais legais que nos outros estilos e toda aquela ladainha que a gente já conhece. Só que, ainda assim, houve quem questionasse a real natureza do meet and greet – principalmente aqui em terras brasileiras.

Músicos como Aquiles Priester e Edu Falaschi, no que diz respeito às suas respectivas bandas, sempre falavam sobre receber os fãs de graça e não cobrar para tal. Coincidentemente ou não, isso aconteceu na mesma época em que o Angra mais divulgava o seu próprio meet and greet.

1 – SCOTT STAPP E O TREINO PARA MATAR O PRESIDENTE

E é claro que o primeiro lugar da lista vai para a situação mais nonsense de todo o ano. Primeiramente, Scott Stapp, ex-Creed, reapareceu falido e morando no carro, dizendo que teve suas contas bancárias congeladas e indicando estar em situação crítica. Foi então que Mark Tremonti, também do Creed, disse estar tentando ajudar o antigo companheiro de banda, mas que não havia conseguindo estabelecer contato. Paralelamente a isso, a esposa de Stapp acionou a Justiça para que o vocalista fosse internado em uma clínica. Está achando confuso? No próximo parágrafo piora.

Após alguns dias, Scott abriu uma página em um site de crowdfunding pedindo cerca de meio milhão de dólares aos fãs para financiar seu terceiro disco solo, projeto que não alcançou seu objetivo. Pouco tempo depois, o TMZ divulgou uma gravação, que teria acontecido antes de toda essa história ter sido posta a público, em que a esposa e a cunhada do músico ligaram para a polícia local afirmando que Scott Stapp estava andando de bicicleta sem camisa dizendo estar sendo treinado pela CIA para matar Obama (!). Outra gravação, também divulgada pelo TMZ, mostra o vocalista ligando para a escola do seu filho e afirmando que o núcleo do grupo terrorista ISIS estava em sua família (!!!)

É claro que a situação toda ainda está muito mal contada e carece de maiores explicações, mas o fato é que ela figura no topo da lista pelo simples fato de ninguém entender direito o que está acontecendo. Essa história, por sinal, também acaba indo de encontro aos problemas de saúde que eu tratei no início da matéria, pois vemos a situação de Stapp indo de mal a pior.

Os problemas do músico se mostram tão graves quanto foram os de Fausto Fanti ou Robin Williams – pois, ainda que o caso deste último não tenha relação com o Heavy Metal, acabou sendo um dos grandes acontecimentos do ano. No final das contas, o que se espera é que Scott se recupere e que tudo acabe bem.

E assim acaba a minha lista. Eu tenho certeza que você tem uma visão diferente, e é por isso que eu vou pedir para comentar e deixar a sua opinião também – afinal de contas, quer lugar melhor para debater do que uma lista de casos polêmicos?