Eu perdi Iconoclasts quando ele saiu no começo do ano, para PS4 e computadores. Esta semana, ele chega ao console preferido da molecada, o Nintendo Switch, e desta vez não poderia perder a chance de jogá-lo.

Eu costumo dizer aqui que não sou fã do visual pixelado, mas permita-me retificar esta informação. O que não me agrada é aquela estética quase sem cores dos 8-bit. Um pixel art mais moderno e elaborado, como é o caso de Iconoclasts, é simplesmente muito bonitinho.

Iconoclasts, Delfos
Pixels se abraçando. Óun!

E esta é uma das principais qualidades de Iconoclasts. Ele tem uma das apresentações retrô mais bonitinhas da atualidade, com um visual pixelado que remete aos coloridos jogos do Super Nintendo. Completam sua identidade audiovisual uma trilha sonora moderna, repleta de melodias marcantes e que fazem um excelente uso da mixagem surround.

METROID-LITE

Iconoclasts é um jogo de ação e plataforma, do tipo que vem fazendo sucesso nos games desde os anos 80. Você passa a maior parte do tempo explorando, e os inimigos podem ser vencidos com tiro ou pulando em suas cabeças. Há uma grande quantidade de chefes, que exigem estratégias mais elaboradas.

Ele costuma ser apresentado como um metroidvania, mas eu o classificaria como um metroid-lite (gênero que acabei de inventar, vamos ver se pega). Ao contrário de um metroidvania tradicional, as fases de Iconoclasts têm uma ordem específica. Há momentos específicos que permitem backtracking, mas as recompensas para isso são limitadas.

Iconoclasts, Delfos
Quem lembra da banda Metalium?

Iconoclasts não tem dúzias de upgrades que modificam completamente o jogo e abrem acesso a novas áreas. Seus poucos upgrades são parte da história. A exploração é recompensada com elementos que servem para criar tweaks. Você pode equipar três tweaks por vez, e eles dão habilidades passivas, como proteger de um ataque ou andar mais rápido. E mesmo sem backtracking, você vai ter possibilidade de criar a maior parte deles.

Isso significa que estamos falando de um jogo mais linear do que um tradicional metroidvania. E isso seria bom. Afinal, backtracking é algo que é, digamos, um gosto adquirido. Eliminando isso de Iconoclasts, ele pode ser mais intenso e focado na ação e nos seus muitos puzzles.

AÇÃO E MUITOS PUZZLES

Iconoclasts, Delfos

A questão é que, se a primeira impressão causada pelo jogo é excelente, graças a seu audiovisual caprichado, ela não se sustenta após várias horas de jogo. O gameplay não é elaborado o suficiente para se sustentar durante as mais de 15 horas que a campanha dura, e a falta de upgrades realmente relevantes não ajuda muito.

Pegue, por exemplo, o clássico Super Metroid: os upgrades nele são tão consideráveis que ao final da campanha você está jogando algo totalmente diferente do que nas primeiras horas. Isso não acontece por aqui, onde há muito pouca variação.

Iconoclasts, Delfos
Com certeza vocês estão seguros. Ignorem aquele bicho enorme ali embaixo. É claro que ele não vai atacar.

Os melhores momentos acabam sendo, portanto, os chefes. E há chefes de montão. Em Iconoclasts, você controla a loirinha Robin, mas em geral vai explorar com outros personagens. Embora eles só costumem dar as caras em momentos de história, em alguns chefes você terá a chance de alternar entre eles, ou mesmo fazer uma espécie de coop ao lado da IA, onde Robin imobiliza o chefe enquanto o outro personagem o ataca automaticamente. É bacana e funciona bem.

Ajuda bastante o fato de que o jogo marca um checkpoint antes de cada luta com chefe, algo que anda raro hoje em dia. Infelizmente, estes checkpoints costumam vir antes da cutscene e, embora a maioria delas possam ser puladas, isso não se aplica a todas. E já que falamos em cutscenes…

ICONOCLASTS TEM HISTÓRIA PRA BURRO!

A cara de jogo de Super Nintendo pode enganar, mas temos aqui uma história longa e elaborada. Não dá para jogar por muito tempo sem ter o gameplay interrompido por uma sequência não interativa.

Iconoclasts, Delfos

A história toda é contada com a câmera tradicional do jogo. Os personagens são animados de acordo, mas não espere ver desenhos focados em seus rostos, no estilo Ninja Gaiden de NES. Os personagens falam através de balõezinhos estilo quadrinhos e não há vozes. Eventualmente, você poderá escolher uma resposta, mas isso parece afetar apenas a próxima fala, e não a história em si.

Por um lado, eu admiro o capricho em colocar uma história elaborada em seu jogo indie, mas convenhamos que a estética 2D não é a melhor forma de se contar uma história. Embora eu tenha dado algumas risadas com o humor simpático demonstrado por aqui, a coisa simplesmente se torna inconveniente quando você passa metade do tempo de jogatina lendo, e não jogando. Combine isto ao gameplay pouco inspirado e à duração exagerada e terminar Iconoclasts exigiu uma bela força de vontade da minha parte.

BONITINHO, MAS ORDINÁRIO

Iconoclasts, Delfos

Iconoclasts seguiu uma rotina bem marcante para mim. Quando o pegava para jogar, me divertia bastante por algum tempo, mas logo começava a ficar entediado. É um daqueles jogos para se jogar em picadinhos, mas por outro lado, isso significa que ele vai durar para sempre e você dificilmente vai chegar ao fim.

Ele faz muitas coisas certas, como o audiovisual ou evitar backtracking, mas precisava de uma edição mais impiedosa, que diminuísse a quantidade de cutscenes, e mesmo a quantidade de fases, para ser uma experiência plenamente recomendável.