O mundo precisa de mais jogos de ação lineares. Porém, trata-se do gênero de games mais difícil e mais caro de criar, e infelizmente não é o que mais fatura. É o equivalente ao que o heavy metal é para a música. Talvez seja o melhor que a forma de arte oferece e o que mais exige habilidade dos criadores, mas não tem gente suficiente disposta a gastar dinheiro com isso. Gene Rain é um shooter em terceira pessoa baseado em coberturas. Linear, tem muito aqui de Gears of War. Infelizmente, não tem o dinheiro, a experiência ou, sinto dizer, nem o talento necessário para criar algo assim.

Jogar Gene Rain é algo que, sinceramente, dá dó. Para manter a analogia com música, é como ver aqueles vídeos caseiros de uma banda amadora tocando um cover de forma, mas parece que cada um está tocando uma música diferente.

Tipo, os caras estão com o coração no lugar certo. Têm boa intenção e visam criar algo que sinceramente seria muito bem-vindo nos dias de hoje. Mas eles acabam errando de tantas formas que fica difícil de defender. E pior, faz com que eu me sinta um bully falando sobre o jogo. Mas eu me propus a escrever sobre ele, e não posso mentir.

EU QUERIA GOSTAR DE GENE RAIN, MAS…

Ele é uma porcaria. Permita-me começar dizendo o que ele faz bem: o visual.

Gene Rain, Delfos

Não é que ele seja o jogo mais bonito do mundo, mas ele de fato tem cara de um shooter feito para esta geração de consoles. Isso é uma conquista considerável, já que há jogos muito mais high profile com um visual inegavelmente mais datado. Infelizmente, é aqui que meus elogios terminam.

Não demora para você perceber que há algo errado, pois já é difícil entender os menus. Tudo que o Gene Rain traz de escrito tem erros de digitação e de gramática consideráveis. Isso o torna muitas vezes incompreensível, especialmente porque há tutoriais que são uma parede de texto.

Gene Rain, Delfos

Esta imagem acima, por exemplo, explica para que serve aquele círculo brilhante na minha frente. Pelo que consegui entender, trata-se de um lugar onde você pode trocar de armas, mas não descobri como fazer isso. Aliás, em nenhum momento descobri sequer como pegar outras armas. Eu estava sempre com as três iniciais, pois os inimigos não soltam suas pistolas. Às vezes tem uma metranca gigante ou algo assim no chão, mas estas são de uso limitado e não substituem as três que você carrega a todo momento.

O problema com inglês se expande para toda a parte verbal do jogo. Ele é totalmente falado, mas os dubladores claramente não são atores. Para piorar, eles realmente parecem não falar inglês fluentemente, pois têm sotaques fortíssimos. A redação quase incompreensível não ajuda em nada, e você dificilmente vai sair daqui sabendo o que rolou na história do jogo.

Entendo a pressão para dublar tudo para o inglês, mas este é um caso que deveriam ter feito na língua nativa dos caras e contratado um tradutor profissional para legendar em inglês.

TUDO ERRADO

Se fosse apenas um problema do idioma, vá lá, mas mesmo o gameplay tem erro atrás de erro. Temos erros básicos, como a necessidade de segurar o L3 para correr, ao invés de apenas apertá-lo. E temos erros graves, como colocar todos os checkpoints em pontos de diálogos onde a movimentação é limitada. Isso significa que, a cada morte, você é obrigado a esperar todo um diálogo incompreensível de novo até poder dar uns tiros.

Gene Rain, Delfos

Mas vai que o gameplay é gostoso, né? Isso compensaria tudo. Infelizmente, não é. Os inimigos costumam ficar escondidos atrás de coberturas, dificilmente se mostrando para uns pipocos. Isso poderia incentivar você a ir até eles, mas ao fazer isso, você sempre acaba morrendo.

Os checkpoints são todos bem longos, do tipo que dois inimigos aparecem para cada um que você mata. Ser derrotado costuma envolver perder 15 minutos ou mais de progresso na mesma arena.

E as mortes ainda são injustas. Num jogo deste gênero, largar o botão de mira significa que você estará protegido na cobertura. Aqui, no entanto, é comum que o seu personagem “desgrude” sozinho da cobertura. Daí você larga o botão para se esconder e o sujeito fica simplesmente parado levando tiro. Até você perceber que deu ruim, está morto.

Gene Rain, Delfos

Ele segue aquele esquema tradicional no gênero, de sua vida se recuperar sozinha, mas uma recuperação completa leva cerca de dois minutos, tornando absurdamente entediante ficar parado escondido tanto tempo até poder atirar de novo. E mesmo no easy, toda sua vida vai embora em menos de cinco segundos. Assim, o timing é totalmente arruinado. Você atira por alguns segundos e daí é obrigado a se esconder por dois minutos.

Os inimigos também têm vidas infladas, e alguns só podem ser danificados com uma arma específica, que nunca tem mais do que dois ou três tiros nela. E até isso tecnicamente está errado, pois cada bandidão cai morto quando sua barra de vida ainda mostra que ele tem 20% de energia.

NÃO DÁ PARA RECOMENDAR

Gene Rain, Delfos

Eu me sinto muito mal escrevendo esta resenha. Estamos falando de um gênero de games que eu adoro e que está praticamente morto atualmente. Apoio totalmente a missão da Deeli Network de fazer novos jogos de ação lineares, mas de fato não foi desta vez. A lição que tem que ser aprendida é que o problema de Gene Rain não é ele ser linear, mas o fato de que ele não foi construído com o cuidado e o capricho que o gênero necessita para vingar. É um guitarrista tentando tocar os solos de Yngwie Malmsteen no primeiro dia que segura uma guitarra. Por mais que você seja talentoso, é necessário aprender a tocar riffs simples como um Smoke on the Water ou Satisfaction antes.